Entrevista de Maria Lúcia Fatorelli para o Programa Faixa Livre
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O alardeado plano do Governo Federal de aplicar o
modelo de capitalização para a Previdência Social preocupa alguns dos
principais especialistas em finanças públicas do Brasil, especialmente pelas
experiências mal sucedidas em outros países.
A auditora aposentada da Receita
Federal e coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida Maria Lucia Fattorelli
esteve no estúdio do Faixa Livre e apontou os perigos desta modalidade, na qual
cada trabalhador contribui para uma espécie de poupança individual, e os reais
beneficiários do plano da equipe econômica de Jair Bolsonaro.
“É um modelo de
altíssimo risco, só é bom para o mercado financeiro que recebe as contribuições
e não tem responsabilidade alguma de garantir um benefício futuro para os
trabalhadores. Esse modelo individualista não tem nem lógica semântica.
Se
olharmos no dicionário, previdência é sinônimo de segurança. Qual é a lógica de
colocarmos a nossa segurança em aplicações de alto risco e que não garantem
absolutamente nada no futuro? O benefício pode ser zero e até negativo, como
agora os trabalhadores que se associaram à Postalis e à Petros estão tendo de
aportar recursos”, ressaltou. A auditora se refere aos fundos de pensão dos
Correios e da Petrobras, respectivamente, que acumularam prejuízos milionários
e são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por
má gestão.
No Chile, o modelo de capitalização implantado no início da década
de 1980 durante a ditadura de Pinochet fracassou, levando os aposentados a um
quadro alarmante de penúria financeira, indigência e até uma série de
suicídios. “O Chile foi muito elogiado quando implantou esse sistema porque a
banca controla a mídia e o mundo inteiro. Se você fizer uma pesquisa, há vários
artigos elogiando o sistema de capitalização implantado lá. O que aconteceu
dentro de alguns anos, o sistema quebrou. O Estado retomou a Previdência, porém
em um patamar reduzidíssimo, inferior ao salário mínimo brasileiro, é o que os
aposentados recebem”, alertou Maria Lúcia Fattorelli.
A tentativa de se
reformar a Previdência no Brasil nos últimos anos já sinalizou para uma série
de justificativas: “Essa proposta, quando foi apresentada inicialmente, atacava
principalmente o regime geral, a desculpa era o déficit e a longevidade da
população. Todos esses argumentos foram totalmente desmontados e, em um segundo
momento, o governo começou a atacar o serviço público, falando que os
servidores é que eram privilegiados. Agora, em uma terceira etapa, vem essa
proposta de capitalização”. Além do ataque às aposentadorias dos trabalhadores
brasileiros, o grande capital travestido de governo ataca em outras frentes no
parlamento para abocanhar recursos que têm destinação carimbada para a área
social.
“Há uma proposta de Emenda Constitucional em andamento no Congresso que
é a PEC 293, a tal da reforma tributária simplificada. Por trás desse discurso
de simplificação, ela transforma a maior arrecadação do país que é a da Cofins,
e também o PIS, que é o Programa de Integração Social, fontes importantíssimas
da seguridade social, em imposto. Só que essa mudança da natureza do tributo
acontece justamente para essa desvinculação. Pela Constituição, as
contribuições são vinculadas”, lembrou Maria Lucia Fattorelli.
Uma das
propostas da auditora para minimizar o déficit financeiro e diminuir as
desigualdades no país passa por uma iniciativa simples do Governo Federal para
movimentar a economia. “Atualmente, temos R$ 1 trilhão e 200 bilhões, quase 20%
do PIB entesourados, paralisados no Banco Central nas operações compromissadas,
remunerando a sobra de caixa dos bancos e amarrando a economia brasileira,
porque na medida em que o Banco Central aceita toda essa sobra de caixa, ele
gera escassez de moeda no mercado, o juro de mercado vai para essa taxa
indecente que quebra a indústria, o comércio, impede qualquer iniciativa. Entre
2014 e 2017, foram gastos com essas operações compromissadas R$ 449 bilhões que
saem do orçamento para os bancos”, citou. “Se o Banco Central parasse de
aceitar essa sobra de caixa e deixasse o dinheiro no caixa dos bancos, eles
iriam querer emprestar, e, para emprestar, teriam de diminuir a taxa de juros.
O que seria da economia hoje irrigada com R$ 1 trilhão e 200 bilhões a uma taxa
de juros baixa? Acabou a crise”, explicou a coordenadora da Auditoria Cidadã da
Dívida. Ouça a entrevista de Maria Lucia Fattorelli na íntegra:
https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-22-01-2019_5-maria-lucia
Entrevista em 22.01.2019
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