Enquanto isso, o país real segue largado à própria sorte
11 de dezembro de 2025
Por Julimar Roberto (Comerciário e Presidente da CONTRACS/CUT
São Paulo (SP) - 21/09/2025 - Manifestantes
participam de ato contra a PEC da Anistia e da Blindagem, no MASP (Foto: Paulo
Pinto/Agência Brasil)
Mais alguém aí tem a impressão de que o Brasil faz
um tremendo esforço para caminhar para frente, enquanto o Congresso insiste em
puxá-lo para trás? É esse meu sentimento e sei que muita gente tem essa mesma
impressão.
Sei que nunca tivemos um Congresso tão conservador
quanto o atual. Também sei que as bancadas BBB — da Bala, da Bíblia e do Boi —
jamais ofereceriam trégua à classe trabalhadora. Mas daí a descaracterizar por
completo a ideia de que as duas Casas Legislativas existem para servir ao povo
brasileiro… aí já é demais. Ou alguém discorda?
Vemos constantemente decisões e projetos discutidos
em Brasília que reacendem a incômoda pergunta de “a quem o Congresso Nacional
serve?”. Porque, ao que parece, não é à maioria da população. Não quando
parlamentares se empenham mais em proteger golpistas e blindar seus próprios
privilégios do que em garantir direitos, fortalecer o Estado Democrático de
Direito e responder às urgências sociais.
A aprovação em plenário da Câmara, na madrugada do
último dia 10, do PL da Dosimetria que reduz drasticamente as penas de
condenados pelo ataque golpista de 8 de janeiro — incluindo o ex-presidente
Jair Bolsonaro — simboliza esse descompasso. O texto permite aplicar apenas a
pena mais grave, ignorando o acúmulo de crimes comprovados, além de
flexibilizar progressões e facilitar saídas antecipadas. Trata-se de uma
“anistia de fato”, ainda que seus defensores jurem que não passa de técnica
jurídica. Mas o efeito concreto é que um condenado a mais de 27 anos pode ter
sua pena reduzida para 2 ou 3 anos de prisão efetiva.
E os desatinos não param por aí. A chamada PEC da
Blindagem, que exige autorização do próprio Congresso para que o STF processe
parlamentares, avança sorrateira. Com votação secreta, claro — porque quem é
inimigo do povo raramente trabalha às claras. Esse é mais uma proposta absurda
e que abre as portas para a impunidade institucionalizada, criando uma espécie
de “capa protetora” para políticos acusados dos mais diversos crimes. Um ataque
direto ao equilíbrio entre poderes e ao combate à corrupção.
Enquanto isso, o país real — o das filas no SUS,
das trabalhadoras e dos trabalhadores massacrados por baixos salários, das
mulheres que lutam para manterem-se vivas, dos jovens ameaçados pelo desemprego
— segue largado à própria sorte. Para esses brasileiros e brasileiras, não há
tramitação acelerada, não há madrugada de votação, não há blindagem e nem
vontade política.
É por isso que a reação foi imediata. “Congresso
inimigo do povo!” Não é exagero; é constatação! É a percepção de que parte
significativa dos parlamentares age em defesa de si mesma, de minorias
privilegiadas e, sobretudo, de grupos que tentaram destruir as instituições
republicanas.
O fato é que o Brasil não pode permitir que o
Parlamento se transforme num escudo para golpistas e num bunker de privilégios.
Democracia exige coragem. E coragem se expressa na defesa firme da justiça, da
transparência e do compromisso com o interesse público.
O povo brasileiro já pagou caro demais por escolhas
equivocadas, por omissões e por alianças feitas nas sombras. E pagará de novo
se não agir.
O ano que vem é a nossa oportunidade de arrumar a casa. Em 2026, além do
presidente da República, escolheremos os deputados e senadores que poderão – ou
não – fazer a diferença. Se votarmos errado, como da última vez, continuaremos
à mercê, entregues a um Congresso que escolhe proteger poucos e abandonar todo
o resto. Mas, se votarmos com consciência, com memória e com coragem, poderemos
recolocar o Parlamento no lado certo da história, do nosso lado, do lado do
povo.

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