Secretário nacional de segurança pública afirma que proposta limita ação da PF e favorece organizações criminosas
11 de novembro de 2025
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| Mário Sarrubbo (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil) |
Por Otávio Rosso
247 - O
secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, classificou como
inconstitucional o parecer do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) sobre
o projeto antifacção, atualmente em debate no Congresso Nacional. Em entrevista
ao Valor Econômico, Sarrubbo afirmou que o
texto apresentado pelo parlamentar altera pontos fundamentais da proposta
enviada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva e enfraquece o combate às
organizações criminosas.
O relatório de Derrite retira dispositivos
que visavam sufocar financeiramente as facções e, na prática, equipara esses
grupos a organizações terroristas. A Constituição Federal, no entanto, define
que é competência da Polícia Federal (PF) atuar em crimes de repercussão
interestadual e na repressão ao tráfico de drogas — áreas diretamente ligadas
às facções. O texto do deputado, contudo, impõe que a PF só possa agir mediante
provocação do governador do estado, restringindo a autonomia do Ministério da
Justiça.
A própria PF manifestou “preocupação”
com o relatório, destacando que as novas regras trazem “restrições
significativas” à sua atuação e dificultam o enfrentamento ao crime organizado.
Sarrubbo reforçou essa visão: “Ele não pode dizer que agora só o governador vai
autorizar [a ação da PF]”, afirmou o ex-procurador-geral de Justiça de São
Paulo.
Para o secretário, a limitação
proposta pelo deputado cria brechas que podem beneficiar facções. O governo e o
Partido dos Trabalhadores têm enfatizado nas redes sociais que a medida
“blinda” o crime organizado, em uma estratégia de comunicação semelhante à
usada na discussão da chamada “PEC da blindagem”, que tentava restringir
investigações sobre parlamentares.
Outro ponto criticado por Sarrubbo é
a exclusão do dispositivo que previa o perdimento civil de bens, mecanismo que
permitiria confiscar o patrimônio das organizações criminosas. “Ele [Derrite]
não colocou [em seu parecer] o perdimento civil de bens, que é a extinção do
domínio”, explicou. Segundo o secretário, essa omissão compromete o principal
objetivo do projeto original, que era “asfixiar financeiramente” as facções.
Ainda que Derrite tenha declarado não
equiparar formalmente as facções a grupos terroristas, ele argumenta que as
práticas de ambos produzem efeitos “simétricos”. Sarrubbo, porém, alerta que
essa equivalência pode ter graves consequências internacionais. “Os Estados
Unidos vão ficar perguntando se é terrorismo ou equiparado ao terrorismo para
saber se podem intervir [em território brasileiro]? Claro que não”, criticou o
secretário, enfatizando que a soberania nacional pode ser colocada em risco.
Em entrevistas concedidas na segunda-feira (10), o
deputado Derrite defendeu seu relatório, afirmando estar dialogando com
diferentes setores para construir um texto de consenso. Ele garantiu que
apresentará uma nova versão do parecer, com ajustes que esclareçam as
competências de cada órgão envolvido.

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