O episódio desnuda algo que há anos se repete no sistema financeiro brasileiro: a socialização das perdas e a privatização dos ganhos.
Por Florestan Fernandes Jr.
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| Banco Master (Foto: Divulgação) |
A operação Compliance Zero, que atingiu toda a
cúpula do Banco Master, expõe mais do que um caso isolado de descontrole ou má
gestão; revela um padrão de relações perigosas entre instituições financeiras
privadas e bancos públicos que deveriam servir ao interesse coletivo, não ao
resgate de grupos específicos.
As investigações da Polícia Federal e do Ministério
Público Federal apontam um cenário que, se confirmado, é gravíssimo: emissão de
R$ 50 bilhões em CDBs sem lastro, uso de ativos inexistentes para simular
liquidez e a participação de dirigentes do Banco de Brasília (BRB) em
transações que chegaram a movimentar R$ 12,2 bilhões sem documentação adequada.
Tudo isso no exato período em que o BRB tentava comprar o próprio Banco Master,
operação que foi barrada pelo Banco Central.
O que emerge desses fatos é a suspeita de que
recursos de um banco público teriam sido usados para socorrer uma instituição
privada que afundava em sua própria crise de liquidez. Entre 2024 e 2025, o BRB
teria injetado R$ 16,7 bilhões no Master, um valor que em qualquer país sério
seria motivo para abrir imediatamente CPIs, afastamentos e responsabilizações
administrativas.
E o problema não para aí. O caso alcança também o
Rioprevidência, fundo responsável pelas aposentadorias de servidores do Rio de
Janeiro, que aplicou R$ 2,6 bilhões em fundos ligados ao Master, mesmo diante
de alertas do Tribunal de Contas do Estado. O risco era claro, mas foi
ignorado. E quando um fundo previdenciário, que administra o futuro de milhares
de famílias, toma decisões temerárias, a pergunta que se impõe é: quem estava
sendo protegido? Certamente, não o servidor público.
O episódio desnuda algo que há anos se repete no
sistema financeiro brasileiro: a socialização das perdas e a privatização dos
ganhos. Recursos públicos, diretos ou indiretos, acabam absorvendo prejuízos
que deveriam recair exclusivamente sobre quem tomou decisões arriscadas, opacas
ou fraudulentas. Com a palavra, os governadores bolsonaristas Claudio Castro e
Ibaneis Rocha.
É urgente que o caso seja investigado com a máxima
transparência. Que haja responsabilização política, administrativa e criminal.
O escândalo do Banco Master e do BRB não é apenas
um problema financeiro. É um alerta sobre governança, sobre o uso do dinheiro
público e sobre o limite, já ultrapassado, da tolerância nacional com esquemas
que colocam o interesse privado acima do coletivo.
No fim, a intervenção e a liquidação extrajudicial do Banco Master não
encerram o problema; certamente a liquidação levará muitos anos. O importante é
que cada etapa desse processo seja conduzida com absoluta transparência. Que os
culpados sejam identificados, que os arranjos escusos entre dirigentes públicos
e interesses privados venham à luz e que o dinheiro dos servidores, dos
contribuintes e das instituições públicas seja recuperado.

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