'Entre sanções, tarifas e encontros na ONU, o diálogo Lula–Trump redefine o poder do Sul global e testa limites da democracia', escreve Reynaldo Aragon (Jornalista)
27 de setembro de 2025
Donald Trump e Lula (Foto: Reuters)
Em 2025 a relação entre Brasil e EUA atravessa um
momento de choque e oportunidade: medidas coercitivas da administração Trump
(tarifas de 50% e sanções) desafiam a soberania brasileira; ao mesmo tempo,
encontros e “química” à margem da ONU abriram uma janela para negociações. Este
texto analisa, com fontes primárias e prognósticos estratégicos, o que está em
jogo — diplomacia, comércio, soft power e os riscos de um confronto com
implicações globais para o Sul Global.
Introdução — Dois
Mundos, Dois Líderes
O palco do século XXI é habitado por antagonistas
que não se confundem. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que
ascendeu às tribunas globais como herdeiro do Iluminismo, portador da razão, da
ciência e da soberania popular como fundamentos de um projeto civilizatório. Do
outro, Donald Trump, empresário tornado presidente, reencarnação do
obscurantismo, da mentira como método e da violência simbólica como gramática
política, expressão viva do fascismo que se disfarça em nacionalismo.
Entre ambos não há apenas divergência de programas,
mas um abismo de cosmovisões. Lula é a voz de um Sul Global que insiste em
existir, que recusa a subordinação colonial e clama por um multilateralismo
ancorado na dignidade humana e na justiça social. Trump é a síntese de uma
potência que, em declínio relativo, transforma sua incapacidade em
agressividade, convertendo tarifas, sanções e desinformação em armas de guerra
híbrida.
O Brasil e os Estados Unidos, sob esses dois líderes,
encarnam não um diálogo ordinário de nações, mas um choque de paradigmas. A
cada gesto, a cada discurso, a cada negociação, se encena uma disputa maior: a
sobrevivência da razão contra o triunfo do irracional, a soberania dos povos
contra a dominação imperial, a esperança contra o medo.
É nesse terreno movediço que surge a pergunta que
guiará este artigo: será possível o diálogo entre dois mundos tão
inconciliáveis? Poderá a diplomacia criar pontes entre o iluminismo e o
obscurantismo, ou estaremos condenados a assistir à escalada de uma guerra
civilizacional travada no comércio, nas redes, nos tribunais e nos mares?
A Nova Guerra Fria
Assimétrica
O mundo de 2025 não é mais o da Guerra Fria
clássica, mas seu eco ressoa em forma deformada, assimétrica, enraizada na
lógica da guerra híbrida. Não se trata de blocos ideológicos cristalizados
entre capitalismo e socialismo, mas da disputa entre soberania e vassalagem,
entre um Sul Global que tenta afirmar sua autonomia e um império que recorre à
coerção para conter seu declínio.
Foi nesse terreno que se consolidou a atual tensão
Brasil–EUA. Desde a recusa brasileira à ALCA em 2005, o país tornou-se alvo de
operações psicológicas, campanhas de desinformação e lawfare, instrumentos de
uma guerra cultural que se alonga há duas décadas. Em 2025, sob Trump, a
ofensiva alcançou novo patamar: tarifas unilaterais de cinquenta por cento,
sanções pessoais contra familiares de ministros do Supremo Tribunal Federal,
retórica que ataca diretamente a soberania nacional. O gesto não é isolado: é
método de governo, coerção travestida de política externa.
Do outro lado, Lula reposiciona o Brasil como
laboratório de resistência. Apoiado em sua biografia de sobrevivente e
estadista, ele articula os BRICS ampliados, fortalece vínculos com China,
Rússia, Índia e África do Sul, e leva para o centro do debate global a pauta da
justiça climática, da redistribuição do poder e da democratização da governança
mundial. A assimetria é evidente: os EUA brandem tarifas, Lula ergue discursos;
os EUA sancionam, Lula coaliza; os EUA desestabilizam, Lula busca mediar.
Essa nova Guerra Fria não é apenas geopolítica, mas
cognitiva. A arena não se limita aos mares ou às fronteiras: ela se desloca
para a economia digital, para os fluxos de dados, para os algoritmos que mediam
a opinião pública. O Brasil se tornou campo de prova, alvo e laboratório da
guerra híbrida, enquanto os EUA, sob Trump, exploram sanções e plataformas
digitais como armas. O Atlântico Sul, os fóruns multilaterais e até as linhas de
código tornam-se trincheiras de uma disputa assimétrica que não tem recuo.
Neste tabuleiro, Lula representa a
contra-hegemonia, o esforço de reorganizar forças dispersas em torno de uma
racionalidade solidária. Trump encarna o poder coercitivo de um império que,
incapaz de propor futuro, se ancora no passado de privilégios e violência. A
nova Guerra Fria é travada em múltiplos planos, mas sua essência é a mesma: o
confronto entre razão e obscurantismo, entre emancipação e submissão.
A Batalha das
Narrativas — ONU 2025 como Palco
A Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro
de 2025, tornou-se mais que um ritual diplomático: converteu-se em arena
simbólica de uma disputa civilizacional. Na mesma tribuna onde se ergueram
vozes que moldaram a história, dois líderes antagônicos expuseram ao mundo suas
visões irreconciliáveis de futuro: Lula e Trump.
O discurso de Lula foi a continuidade de uma
tradição iluminista. Palavras moldadas pela razão e pela memória histórica,
denunciando a escalada de sanções unilaterais, reafirmando o princípio da
soberania dos povos e clamando por um multilateralismo efetivo. Ao apresentar o
Brasil como ator central de um fundo global para preservação das florestas,
Lula não falava apenas de árvores e carbono, mas de uma visão em que a ciência
e a solidariedade orientam a política. Era o Sul Global reivindicando seu lugar
na história não como objeto, mas como sujeito de transformação.
Trump, ao contrário, usou a tribuna como púlpito de
obscurantismo. Fez da ONU alvo de seu desprezo, clamou pelo fechamento de
fronteiras, atacou migrantes e demonizou a “agenda globalista”. Onde Lula viu
ciência e cooperação, Trump viu ameaça e inimigo; onde Lula buscou pontes,
Trump ergueu muros. Seu discurso não foi dirigido ao mundo, mas a uma base interna
intoxicada por medo e ressentimento.
A batalha das narrativas não foi apenas estética,
mas estratégica. A ONU transformou-se em campo de guerra psicológica, onde cada
frase tinha valor de ataque ou defesa. Lula buscou alianças, Trump buscou
dividir. Lula projetou o Brasil como voz racional em um mundo conflagrado;
Trump reforçou os EUA como potência coercitiva que prefere a força à
diplomacia.
O contraste não poderia ser mais claro: de um lado,
a política como construção coletiva; de outro, a política como arma de
intimidação. Nesse embate, não se confrontaram apenas dois presidentes, mas
duas concepções de humanidade. A ONU 2025 ficará registrada como o palco onde
se tornou evidente que a disputa não é apenas entre países, mas entre
civilização e barbárie.
Conflito e Contato
— Diplomacia no Fio da Navalha
A relação entre Brasil e Estados Unidos em 2025
encarna a dialética da guerra híbrida: conflito aberto nas formas, contato
inevitável nas estruturas. De um lado, Trump elevou tarifas a cinquenta por
cento sobre exportações brasileiras, afetando café, carne e setores
estratégicos, gesto de coerção que funciona como ataque econômico. Também
sancionou familiares de ministros do Supremo, numa clara tentativa de intimidar
instituições brasileiras e de agradar ao bolsonarismo exilado em Washington.
São golpes calculados, mais políticos do que comerciais, que revelam a lógica
do lawfare em escala internacional.
Ao mesmo tempo, as engrenagens da economia impõem
contato. Exportadores americanos, pressionados pelo aumento nos preços da
carne, pedem exceções; gigantes do setor agroalimentar como a JBS operam lobby
direto; Embraer e setores industriais demandam que suas cadeias não sejam
dilaceradas por tarifas arbitrárias. Empresários, nesse contexto, se tornam
embaixadores de fato, forçando Trump a abrir janelas de negociação que ele
gostaria de manter fechadas.
No Brasil, a diplomacia de Lula responde com a
serenidade da razão, mas sem ingenuidade. O Itamaraty protesta formalmente contra
as medidas, enquanto o presidente recusa retaliar de imediato, apostando no
peso da opinião pública internacional e na pressão de atores econômicos. A
estratégia é clara: mostrar ao mundo que o Brasil não capitula, mas também não
age por impulso, preservando sua imagem de potência responsável enquanto expõe
a irracionalidade do adversário.
Nesse fio da navalha, a diplomacia se equilibra
entre o gesto firme e a palavra aberta. A cada ataque, Lula responde com
denúncia e princípio; a cada sinal de contato, Lula se dispõe a dialogar, mas
sempre sob a condição de que a soberania nacional não seja moeda de troca. É a
coreografia paradoxal da política externa em tempos de guerra híbrida: combater
a coerção sem fechar a porta do diálogo, negociar com quem ameaça, mas sem
jamais conceder o essencial.
O Tabuleiro Global
— BRICS, Atlântico Sul e Comércio nas Américas
A correlação de forças não se limita à
bilateralidade entre Brasília e Washington. O embate entre Lula e Trump só pode
ser entendido no tabuleiro global, onde blocos, rotas marítimas e cadeias
produtivas são tão decisivos quanto discursos na ONU.
No plano geoeconômico, o BRICS ampliado emerge como
a principal plataforma de contra-hegemonia. Sob a liderança de Lula, o bloco
deixou de ser apenas fórum econômico para se tornar instrumento político de
afirmação do Sul Global. A inclusão de novos membros, a construção de
alternativas financeiras ao dólar e a busca por soberania mineral —
especialmente em minerais críticos e terras raras — transformaram o BRICS em
trincheira estratégica contra a coerção americana. Para Trump, esse movimento
representa uma ameaça direta ao domínio dos EUA sobre fluxos de comércio e
finanças globais.
Nas Américas, o tabuleiro também se redesenha. O
colapso do APEP e a reabertura da revisão do USMCA sinalizam que os Estados
Unidos optaram por uma lógica de tarifas recíprocas e fragmentação regional.
Isso reabre espaço para o Mercosul buscar alternativas de integração com a Ásia
e a África, e coloca o Brasil em posição de mediador entre projetos de
integração autônoma e a pressão coercitiva do Norte. Cada tarifa lançada por
Trump é uma tentativa de desarticular esse movimento e reafirmar a primazia
americana no hemisfério.
No plano geopolítico, o Atlântico Sul e o Caribe
tornam-se fronteiras estratégicas. O aumento da presença militar americana, com
exercícios como UNITAS e missões humanitárias que funcionam como soft power
disfarçado, contrasta com o esforço brasileiro de consolidar a ZOPACAS como
zona de paz e cooperação. A disputa não é apenas pelo mar, mas pelos cabos
submarinos que conectam continentes e pelas rotas energéticas que sustentam a
economia digital. O Brasil, nesse cenário, precisa equilibrar soberania naval
com diplomacia multilateral, enfrentando o dilema de negociar com uma potência
que militariza seu entorno imediato.
Este tabuleiro não admite neutralidade. Cada
movimento de Trump busca enfraquecer alianças alternativas, cada gesto de Lula
procura ampliar coalizões soberanas. O campo de batalha é global, mas o Brasil
é um dos vértices decisivos. No comércio, nas rotas marítimas, nos fóruns
multilaterais, a nova ordem se desenha — e é nesse entrechoque que Lula e Trump
se enfrentam, não como indivíduos apenas, mas como símbolos de dois projetos de
mundo incompatíveis.
O Dossiê Secreto
das Negociações
Se no palco da ONU a disputa entre Lula e Trump se
apresenta em discursos e gestos públicos, nos bastidores ela se traduz em
dossiês técnicos, cifras bilionárias e decisões estratégicas que moldarão o
futuro. O que está em jogo não é apenas tarifa ou sanção: são os nervos
centrais da soberania do século XXI — big techs, minerais críticos, data
centers e o controle dos fluxos informacionais.
As big techs ocupam lugar central nesse tabuleiro.
O Brasil, sob Lula, avança em legislação própria para regular plataformas
digitais, criar deveres de transparência algorítmica e estabelecer limites à
manipulação informacional. Para Washington, isso soa como ameaça direta: Trump
e sua base veem a regulação brasileira como censura e, ao mesmo tempo, como
risco de precedente global. O caso da suspensão e das multas contra a X/Twitter
transformou-se em símbolo dessa guerra: para o governo brasileiro, defesa da
soberania informacional; para os EUA trumpistas, justificativa para tarifas e sanções.
A disputa pelos minerais críticos adiciona outra
camada. O Brasil abriga reservas estratégicas de terras raras, e projetos como
a Serra Verde entram na linha de frente da corrida global por insumos
essenciais à transição energética e à indústria militar. A diretriz de Lula é
clara: agregar valor localmente, impedir que o país seja apenas exportador
bruto e usar essa riqueza como trunfo em negociações. Para Trump, porém, o
acesso a esses minerais é vital para reduzir a dependência da China — e por isso
o tema se infiltra discretamente nas conversas bilaterais. A soberania mineral
brasileira se choca com a pressa americana de garantir cadeias de suprimento.
No campo digital, os data centers se tornaram uma
nova moeda de poder. O governo brasileiro oferece pacotes de incentivos para
atrair investimentos, mas impõe condições de segurança, infraestrutura verde e,
em alguns casos, armazenamento local de dados sensíveis. Empresas americanas
pressionam por acesso irrestrito, enquanto Brasília busca transformar o Brasil
em hub regional de inteligência artificial sem abrir mão da soberania
informacional. O embate não é apenas sobre onde os dados serão guardados, mas
sobre quem controlará a infraestrutura que organiza a vida digital de milhões
de pessoas.
Por trás de cada tarifa e de cada gesto diplomático
há esse dossiê oculto: plataformas que disputam narrativas, minerais que
alimentam indústrias militares, servidores que armazenam informações vitais. A
batalha entre Lula e Trump não é apenas entre discursos de soberania e sanções
arbitrárias, mas entre dois futuros possíveis para a governança global da
tecnologia e dos recursos. O que se negocia nos corredores é o direito do
Brasil de decidir sobre seus algoritmos, suas reservas e seus dados — em suma,
sua soberania.
Lula vs. Trump —
Iluminismo e Obscurantismo em Choque
O embate entre Lula e Trump transcende o plano da
política ordinária. Ele condensa duas matrizes históricas: de um lado, a
tradição iluminista, que afirma a razão, a ciência, a dignidade do trabalho e a
cooperação entre povos; de outro, o obscurantismo, que cultiva a irracionalidade,
o medo, a mentira sistemática e a violência como método de governo.
Lula se inscreve no campo do Iluminismo porque sua
trajetória é expressão da emancipação pela consciência. O operário que se fez
estadista leva às tribunas internacionais não apenas demandas econômicas, mas a
defesa da vida, da democracia substantiva, da soberania popular e da
solidariedade entre nações. Sua política externa altiva e ativa, o
fortalecimento dos BRICS, a defesa da Amazônia e o apelo por governança
multilateral não são apenas diplomacia: são o eco contemporâneo do projeto
iluminista de colocar a razão a serviço do bem comum.
Trump, ao contrário, encarna o obscurantismo. Sua
política é guiada pelo ressentimento, pelo irracionalismo econômico das tarifas
punitivas, pela negação da ciência e pela mobilização permanente do ódio. Faz
da mentira instrumento de poder, da manipulação digital uma arma e da violência
simbólica um método. Se Lula ergue o discurso da soberania coletiva, Trump se
ancora na força bruta de um império em declínio que busca impor sua vontade por
meio do medo.
O contraste é tão radical que o próprio conceito de
diálogo se torna instável. O que significa negociar entre razão e
irracionalidade, entre projeto de emancipação e projeto de submissão? A cada
encontro entre Lula e Trump, não se trocam apenas posições diplomáticas, mas se
confrontam mundos: um que acredita na possibilidade de progresso humano, outro
que aposta na regressão autoritária como forma de preservar privilégios.
No plano simbólico, Lula e Trump são arquétipos do
século XXI: o primeiro, um herdeiro do Iluminismo que se reinventa nas lutas do
Sul Global; o segundo, um avatar do obscurantismo que ameaça dissolver
instituições e apagar conquistas civilizatórias. O choque entre ambos é
inevitável, e cada gesto, cada palavra, cada tarifa ou cada discurso se torna
parte de uma batalha maior pela alma da política mundial.
Cenários Preditivos
— O Que Pode Acontecer
A política internacional não se move pelo acaso,
mas pela correlação de forças. No confronto entre Lula e Trump, três cenários
principais se delineiam, cada um com probabilidades distintas, todos
atravessados pela tensão entre o Iluminismo e o obscurantismo.
Cenário 1: Degelo Controlado
Aqui prevalece o pragmatismo. Empresários
pressionam, cadeias produtivas ameaçam colapsar e Trump, ainda que a
contragosto, abre exceções tarifárias em setores sensíveis como carnes, café,
aviação e química. Lula aproveita a brecha para negociar salvaguardas
tecnológicas — data centers, minerais críticos — e transforma concessões
pontuais em vitórias diplomáticas. O degelo é limitado, mas suficiente para
mostrar que a racionalidade pode conter, ainda que temporariamente, o impulso
irracional.
Cenário 2: Impasse Crônico
O mais provável. As negociações avançam em detalhes
técnicos, mas são sabotadas por narrativas políticas. Cada gesto de aproximação
é neutralizado por ataques bolsonaristas em Washington, por sanções arbitrárias
ligadas a processos judiciais no Brasil ou por retóricas agressivas de Trump em
sua base eleitoral. O resultado é um jogo de soma zero: tarifas parcialmente
mantidas, diálogo sempre reaberto, mas nunca conclusivo. Um impasse prolongado,
em que Lula sustenta a defesa da soberania e expõe a irracionalidade do
adversário, reforçando seu soft power mesmo sem avanços concretos.
Cenário 3: Escalada Confrontacional
Sempre presente como risco. Novas sanções contra
autoridades brasileiras, retaliações comerciais mais amplas, endurecimento no
Atlântico Sul e no Caribe, até mesmo a ameaça velada de restrições financeiras.
A escalada gera crise institucional no Brasil, pressiona o real, eleva tensões
sociais. Nesse cenário, Trump aposta no caos como método, enquanto Lula
responde reforçando alianças nos BRICS, aprofundando integração com China,
Rússia e Índia, e consolidando o Brasil como trincheira do Sul Global contra a
coerção imperial.
Interpretação Estratégica
O impasse crônico é o cenário dominante porque
serve a ambos: Trump alimenta sua base interna com retórica de força, enquanto
Lula projeta sua imagem internacional de líder sereno que enfrenta a
irracionalidade com racionalidade. O degelo controlado pode ocorrer em setores
econômicos específicos, mas sempre precário. A escalada é ameaça constante — e
justamente por isso funciona como instrumento de barganha.
Síntese
O que pode acontecer, de fato, é menos um diálogo
estável e mais uma negociação tensa, fragmentada, instável. O diálogo é
possível, mas jamais pleno: é sempre dialogar com o fascismo sem capitular ao
fascismo. O resultado não será uma aliança, mas a reafirmação da
incompatibilidade de projetos. Nesse campo, Lula preserva a dignidade da razão,
enquanto Trump expõe a violência do obscurantismo.
Conclusão — O
Desafio Civilizatório
O confronto entre Lula e Trump não é
circunstancial, tampouco episódico. Ele condensa a luta de duas forças
históricas que atravessam o nosso tempo: de um lado, o projeto iluminista de
emancipação, racionalidade e soberania; de outro, o obscurantismo fascistoide
que se alimenta do medo, da mentira e da violência como forma de preservar
privilégios.
No curto prazo, as negociações se moverão no
terreno do pragmatismo — tarifas, sanções, minerais críticos, data centers,
plataformas digitais. Mas no longo prazo, a disputa é mais profunda: trata-se
de definir se o século XXI será governado pela razão compartilhada ou pela
irracionalidade coercitiva. Lula não representa apenas o Brasil, mas um bloco
inteiro de nações que lutam para existir fora da sombra do império. Trump não fala
apenas pelos Estados Unidos, mas por uma corrente global que busca dissolver
instituições, manipular consciências e bloquear qualquer possibilidade de
emancipação coletiva.
O desafio civilizatório está justamente no fato de
que o diálogo é, ao mesmo tempo, necessário e impossível. Necessário, porque a
interdependência econômica e tecnológica obriga encontros. Impossível, porque
não há convergência entre emancipação e subordinação, entre ciência e
obscurantismo, entre soberania e dominação. O que existe, na prática, é
negociação sob tensão permanente, em que cada passo é ganho tático e cada
concessão é medida estratégica para não entregar o essencial.
Assim, Lula carrega o fardo de dialogar com o
fascismo sem se deixar capturar por ele. Cada palavra sua, cada recusa de
retaliar por impulso, cada defesa da soberania é uma arma contra o caos. Cada
tarifa de Trump, cada sanção arbitrária, cada ataque à democracia é um lembrete
de que o obscurantismo continua vivo.
O século XXI está sendo escrito nesse choque. E é nesse confronto que se
decidirá se a humanidade seguirá o caminho da razão ou se será tragada pela
barbárie. O desafio civilizatório não é apenas de Lula ou do Brasil, mas de
todos os povos que recusam a escuridão e insistem em manter acesa a chama do Iluminismo.
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