sábado, 30 de agosto de 2025

"Capa da Economist revela que Bolsonaro não interessa mais ao imperialismo", diz José Arbex Jr.

Em entrevista ao programa Forças do Brasil, analista afirma que a revista britânica busca “outro representante” para os interesses externos no País

30 de agosto de 2025

Capa da revista The Economist (Foto: Reprodução)



 


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Redação Brasil 247

247 – O jornalista, professor e analista geopolítico José Arbex Júnior afirmou que a capa da Economist sobre o Brasil indica que “o Bolsonaro deixou de ser útil pro imperialismo”. A declaração foi feita neste sábado (30.ago.2025), no Forças do Brasil, ao vivo, na TV 247.

Logo no início, Arbex contextualizou a linha editorial da revista: “A Economist, ela sempre foi porta-voz do imperialismo britânico, é uma porta-voz liberal do imperialismo”. Para ele, a manchete apontaria menos para um “elogio” ao Brasil e mais para um reposicionamento de interesses: “O imperialismo está em busca de outros representantes de seus interesses aqui no Brasil”.

Disputa por herdeiros da extrema direita

Segundo Arbex, a família Bolsonaro “deixou de ser uma figura necessária” para a agenda externa e abriu-se uma disputa interna na direita por uma nova liderança: “Tarcísio está se candidatando, o Caiado está se candidatando”. A seu ver, a capa sugere “os caras estão se matando dentro da máfia” para tentar construir um nome competitivo contra o presidente Lula em 2026.

Donald Trump e o risco de escalada social nos EUA

Ao tratar do cenário norte-americano, Arbex reforçou que Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos e segue central na arquitetura de poder: “O Trump continua sendo hoje o representante chefe do império. É ele”. Na avaliação do analista, porém, o país vive um quadro de tensão econômica e social que pode se agravar: “Esse cara vai levar os Estados Unidos para guerra civil”.

Arbex descreveu ainda uma base social irritada e um establishment que “espera para ver”, mencionando cidades tumultuadas, críticas ao financiamento de guerras e o avanço de candidaturas fora do eixo tradicional em grandes centros urbanos.

América do Sul no tabuleiro

Para o entrevistado, o enfraquecimento da hegemonia ocidental em outras regiões empurra o foco para a América do Sul — e especialmente para o Brasil, “joia da coroa” em recursos estratégicos e ator-chave dos Brics. Nesse contexto, ele alerta para pressões externas e para o uso de “quintas-colunas” internas, reiterando que o País deve redobrar a atenção sobre tentativas de tutela estrangeira.

Arbex sinaliza que a leitura da Economist não deve ser celebrada ingenuamente: “Nós temos que tomar cuidado com ficar louvando muito o que saiu na Economist, porque continua sendo um porta-voz do imperialismo”. Na sua interpretação, a capa não absolve Bolsonaro; apenas marca o esgotamento de sua utilidade para um projeto maior e abre a busca por um substituto alinhado. Assista:

Crédito da entrevista: Programa Forças do Brasil, TV 247, transmitido ao vivo em 30 de agosto de 2025.

Assista ao vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=6L11aCWfpI0&t=6s

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

EUA criticam Brasil por reação firme a Bolsonaro, diz autor de ‘Como as democracias morrem’

Steven Levitsky afirmou que STF atuou como “super-herói” contra ameaça autoritária, enquanto instituições americanas falharam em conter Trump

Steven Levitsky (Foto: Reprodução/Youtube)


 


 



Por Luis Mauro Filho

247 - O cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade Harvard e coautor do best-seller Como as democracias morrem, afirmou que os Estados Unidos punem o Brasil por adotar medidas que o próprio país deveria ter implementado para proteger suas instituições. A declaração foi feita durante um seminário no Senado Federal, promovido pelo senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Levitsky destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) teve atuação decisiva diante das tentativas de ruptura institucional no governo Jair Bolsonaro. “A Corte Suprema americana atrapalhou os esforços de parar o Trump e o Supremo Tribunal Federal está agressivamente tentando processar Bolsonaro. Essencialmente, eles são super-heróis que ficaram de pé defendendo a democracia contra Bolsonaro”, afirmou.

Segundo o acadêmico, o contraste entre as respostas brasileira e norte-americana a líderes com agenda autoritária pode estar relacionado à ausência, nos Estados Unidos, de um trauma histórico que funcione como alerta. “A gente nunca perdeu a nossa democracia, a gente não tem experiência com autoritarismo. [...] Os brasileiros não têm essa ilusão, e isso poderá explicar por que o Poder político brasileiro respondeu de uma forma muito, muito mais séria a essa ameaça autoritária”, disse.

Para Levitsky, a defesa do regime democrático exige ação firme e não pode ser conduzida de maneira passiva. “A democracia não pode se defender. Ela não pode ser defendida passivamente”, concluiu.

domingo, 24 de agosto de 2025

As sete revelações bombásticas do celular de Bolsonaro

Muitas das mensagens e áudios tinham sido apagadas por Bolsonaro, o que revela um comportamento de quem sabe que está cometendo crimes

Por Elvino Bohn Gass (Deputado Federal – PT/RS)


Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)


 





O celular de Jair Bolsonaro, que a Justiça apreendeu no dia da tornozeleira, tem, ao menos, sete revelações bombásticas!

Primeiro, prova que Jair e seu filho Eduardo são culpados pelo tarifaço porque tramaram com Donald Trump para tentar coagir a Justiça brasileira no processo da tentativa de golpe de Estado. Eduardo chega a dizer que o tarifaço dos Estados Unidos, que arrebentou algumas empresas exportadoras, é um “bom momento” e sugere que o pai faça um agradecimento a Trump.

Também há mensagens de Jair pedindo orientação a um advogado ligado a Trump e, inclusive, cópia de uma petição contra o ministro Alexandre de Moraes lá nos EUA. Mais: Eduardo avisa, 15 dias antes, que a tal Lei Magnitsky seria aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. 

Ou seja, ele sabia! E ainda traz para a cena criminosa o Silas Malafaia, que aparece fazendo combinações como a trama deveria ser conduzida. Para a Justiça, Malafaia estava dentro da empreitada criminosa. Por isso, o pastor teve passaporte e celular apreendidos.

A segunda revelação é a prova de que Jair e Eduardo não estão nem aí para o pessoal do 8 de Janeiro. Eduardo fala em “anistia light”, ou seja, fica evidente que, para eles, não adiantaria nada aliviar as penas dos vândalos. E aqui se revela a grande mentira dos bolsonaristas: dizem que defendem “as velhinhas com a Bíblia na mão”, mas o objetivo real deles é livrar Bolsonaro da cadeia. A anistia que defendem é para ele!

Terceira revelação: Bolsonaro enviou mais de 300 vídeos e mensagens de whatsapp alimentando sua máquina de propaganda mentirosa, depois de ser proibido pela Justiça de fazer isso. Ele descumpriu as medidas cautelares.

Quarta revelação: Bolsonaro planejava fugir do país. Sim, no celular tem um pedido de asilo a Javier Milei, o presidente Argentina, de extrema direita como ele.

Quinta revelação: um dia antes de depor no Supremo, Jair Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a conta da esposa Michelle. E Eduardo também usou a mulher para escamotear dinheiro. Passou para a conta da esposa Heloísa repasses milionários que seu pai fez para ele nos Estados Unidos.

A sexta revelação é importantíssima: Bolsonaro teve acesso prévio à defesa do general Mário Fernandes, o autor do plano para matar Lula, Moraes e Alckmin, antes de o documento ser enviado ao Supremo.

Por fim, a sétima revelação mostra que os diálogos entre Jair, Eduardo e Malafaia nem de longe são coisa de pai, filho e amigos, mas de quadrilheiros mesmo. Eduardo chega a mandar o pai “tomar no c...”, ameaça “dar porrada”. Malafaia, por sua vez, chama Eduardo de “babaca” e confessa ter “arrebentado” ele em áudios.

E é importante que as pessoas saibam: muitas dessas mensagens e áudios tinham sido apagadas por Bolsonaro, o que revela um comportamento de quem sabe que está cometendo crimes.

Bem, resta esperar a perícia no telefone de Malafaia. Mas pelo que já vimos, os bandidos golpistas continuam agindo... como bandidos golpistas. Eles foram indiciados em mais crimes e, portanto, a tendência de que a pena de Bolsonaro, que se imaginava de 43 anos de cadeia, pode acabar sendo muito maior.

Que se faça Justiça! É só o que espero. 

sábado, 23 de agosto de 2025

Trump usa navios de guerra para intimidar e ameaçar a América Latina, avalia o governo Lula

Percepção é de que Trump tenta emparedar governos que adotam postura independente em relação à Casa Branca. 

Lula e Donald Trump (Foto: ABR | Reuters)



 




Por Paulo Emilio

247 - O envio de navios de guerra norte-americanos para a costa da Venezuela é visto pelo governo brasileiro como uma tentativa explícita de intimidação da América Latina. Segundo integrantes do Executivo ouvidos pela CNN Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca transmitir um recado direto aos países da região: se necessário, estaria disposto a recorrer ao uso da força para conter governos que adotem políticas contrárias aos interesses ideológicos ou econômicos de Washington. Entre as nações mencionadas estão Brasil, Colômbia, México e Panamá.

O Brasil, que tem resistido a iniciativas de interferência externa, figura entre os alvos dessa ofensiva política. Colômbia e México, liderados por governos de esquerda, também mantêm atritos importantes com Trump. No caso panamenho, apesar do governo de direita, há forte preocupação na Casa Branca com a presença chinesa em torno do Canal do Panamá e com o fluxo migratório pela região do Darién, considerado uma das principais rotas de entrada rumo à América do Norte.

Fontes do governo brasileiro destacam que, apesar da retórica agressiva, não há expectativa de que a Casa Branca ordene, neste momento, uma ação militar direta contra a Venezuela de Nicolás Maduro. A estratégia estaria mais voltada a demonstrar poder, reforçando a presença estadunidense com fuzileiros navais e embarcações de guerra para manter a região sob influência de Washington. Essa postura é comparada por analistas à antiga Doutrina Monroe, formulada no século 19 para consolidar o controle dos EUA sobre o continente.

Ainda conforme a reportagem, um dos principais articuladores dessa política de pressão é o secretário de Estado Marco Rubio. Filho de exilados cubanos que se opuseram à revolução de Fidel Castro, Rubio mantém histórico de forte hostilidade contra governos progressistas na América Latina e tem desempenhado papel central no endurecimento da diplomacia da Casa Branca.

Na Colômbia, as divergências estão relacionadas ao combate à produção de cocaína e à imigração. O presidente Gustavo Petro, um dos principais líderes da esquerda latino-americana, tem sido vocal em suas críticas a Trump, o que acirrou ainda mais a relação.

No México, governado por Claudia Sheinbaum, o impasse se concentra na crise migratória e no fentanil, droga que se tornou uma das maiores emergências de saúde pública nos EUA. Washington acusa os cartéis mexicanos de controlar a produção e distribuição da substância e critica o governo local pela falta de ação. Trump e Rubio chegaram a ameaçar o uso das Forças Armadas para bombardear instalações ligadas ao narcotráfico no país vizinho. Já o Panamá segue na lista de preocupações de Washington por conta do papel estratégico do canal interoceânico e do aumento da influência chinesa na região.

De acordo com as fontes consultadas pela CNN, todas essas movimentações fazem parte de um pacote maior da Casa Branca para reafirmar que os Estados Unidos não admitirão políticas que tirem a América Latina de sua órbita de influência.

domingo, 17 de agosto de 2025

Trump reconhece Putin como potência igual e muda rumos da guerra na Ucrânia, avalia José Arbex Jr.

Analista geopolítico afirma que encontro no Alasca simboliza o fim do isolamento da Rússia e expõe fragilidade da Europa diante do conflito

17 de agosto de 2025

Vladimir Putin e Donald Trump - 15 de agosto de 2025 (Foto: Reuters)



 






Redação Brasil 247

247 – Em entrevista ao programa Forças do Brasil, transmitido pela TV 247 em 16 de agosto de 2025 e apresentado por Mario Vitor Santos, o jornalista e analista geopolítico José Arbex Jr. analisou os impactos da cúpula entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizada no Alasca. Segundo Arbex, o encontro representa uma virada histórica nas relações internacionais e marca o reconhecimento da Rússia como uma potência de igual para igual com os Estados Unidos, rompendo décadas de isolamento promovido pelo Ocidente.

 “Essa cúpula foi extremamente importante, independente do que foi discutido. O simples fato de Putin ter sido recebido com tapete vermelho e de ter aberto a comunicação com a imprensa já mostra que a Rússia deixou de ser tratada como uma potência de segunda classe”, afirmou Arbex.

A derrota dos neoconservadores

Arbex destacou que o encontro simboliza uma ruptura profunda na política externa dos EUA. Ele lembrou que, desde a dissolução da União Soviética, em 1991, a doutrina dominante em Washington — formulada por estrategistas como Zbigniew Brzezinski — defendia o cerco e a contenção da Rússia, inclusive com a incorporação da Ucrânia à OTAN. Essa estratégia foi amplamente abraçada pelos neoconservadores, corrente que guiou presidentes anteriores, inclusive Joe Biden. 

Segundo Arbex, Trump rompeu com essa linha:

 “Ontem os neoconservadores foram derrotados. O Trump representa outra visão, mais isolacionista e unilateralista, que rejeita o globalismo e aposta em acordos pontuais de força. Isso não significa que ele seja favorável à Rússia, mas que joga com outra lógica de poder.”

Ucrânia encurralada e fragilidade da Europa

Na avaliação de Arbex, o maior derrotado do encontro no Alasca foi o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ao perder o respaldo decisivo dos Estados Unidos, a Ucrânia teria entrado num beco sem saída.

 “Ontem acabou a guerra. Não no sentido imediato, mas no sentido de que a Europa não tem condições de sustentar a Ucrânia sozinha. Seria necessário desmontar o Estado de bem-estar social europeu para financiar uma guerra desse porte. Isso nunca vai acontecer”, disse o analista.

Ele acrescentou que a Rússia avança “centímetro a centímetro” no campo de batalha, consolidando posições, e que a Ucrânia já não possui reservas humanas e financeiras para resistir.

 “A melhor coisa que Zelensky poderia fazer é aceitar a derrota de fato e negociar o que ainda for possível.”

Bastidores e especulações

O analista também comentou especulações publicadas pela imprensa britânica de que Putin teria acesso a arquivos comprometedores de Jeffrey Epstein, envolvendo figuras do alto escalão do poder mundial, entre elas Trump. Embora tenha evitado entrar em conjecturas, Arbex afirmou que a submissão de Trump a Putin ficou evidente no encontro:

 “Trump mostrava uma deferência patética, chegou a esperar sozinho no tapete vermelho enquanto Putin descia do carro.”

Além disso, destacou a exploração, por parte de Putin, da fragilidade cognitiva do presidente norte-americano:

 “Trump não consegue sequer andar em linha reta. Seu discurso é cada vez mais incoerente. O Putin soube explorar isso com frieza.” 

Impactos globais e papel dos BRICS

O encontro também reposiciona a disputa geopolítica em outras regiões. Arbex citou o acordo de paz forçado por Trump entre Armênia e Azerbaijão, que abre o corredor de Zangezur para rotas comerciais administradas por empresas norte-americanas, em contraponto à Nova Rota da Seda da China.

No plano global, os BRICS aparecem como elemento central na estratégia de Putin:

 “Foram os BRICS que devolveram projeção internacional à Rússia. Para Putin, essa aliança é vital. Hoje discute-se até a adoção de uma cláusula de defesa mútua semelhante à da OTAN”, observou Arbex. 

Um novo cenário mundial

Para Arbex, a cúpula entre Trump e Putin não pode ser lida como um gesto isolado, mas como um marco da redefinição das correlações de força no sistema internacional.

“O mundo amanheceu diferente. A Rússia foi reconhecida como uma igual, e a Ucrânia ficou sem futuro. Agora, os desdobramentos dependerão da capacidade da Europa, dos Estados Unidos e dos BRICS de reposicionar suas estratégias.”

Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=h151eoeT-2g

sábado, 16 de agosto de 2025

Putin e Trump reescrevem as regras da geopolítica em encontro histórico no Alasca

Cúpula abre caminho para negociações de paz na Ucrânia e pode redefinir a ordem mundial com novo eixo entre Rússia e Estados Unidos

16 de agosto de 2025

Vladimir Putin e Donald Trump - 15/08/2025 (Foto: Reuters)



 


 




Redação Brasil 247

247 – O encontro entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizado em Anchorage, no Alasca, foi descrito como um sucesso absoluto e um marco histórico nas relações internacionais. A avaliação é de Dmitry Suslov, vice-diretor de pesquisa do Conselho Russo de Política Externa e de Defesa, em entrevista à agência Sputnik International (leia aqui).

Segundo Suslov, a cúpula não apenas reaqueceu os canais de diálogo entre Washington e Moscou, mas também lançou bases concretas para uma possível solução negociada do conflito na Ucrânia, além de abrir perspectivas para cooperação em diversas áreas estratégicas.

Três razões que tornam a cúpula decisiva. O analista destacou três pontos principais que tornam o encontro no Alasca um divisor de águas:

1     Normalização ampla das relações – o encontro “deu impulso” à reaproximação entre Rússia e Estados    Unidos em todos os fronts, indo da questão ucraniana ao controle de armas e à cooperação econômica.

*

2.    Sinalização de negociações de paz reais – de acordo com Suslov, os contatos imediatos de Trump com    Volodymyr Zelensky e líderes europeus indicam que “foram conduzidas negociações sobre condições      específicas para um acordo de paz final”, rompendo com a exigência de um cessar-fogo prévio,               defendida até agora por Bruxelas e Kiev.


3.   Contribuição para a ordem mundial do pós-guerra – a reunião foi “histórica”, porque “fez uma grande      contribuição para lançar as bases da ordem mundial futura, uma ordem pós-guerra. O conflito               ucraniano é, acima de tudo, o maior e mais severo conflito militar das últimas décadas, e a expressão       concentrada da guerra híbrida travada pelo Ocidente contra a Rússia”.


Europa e Zelensky diante da encruzilhada

Para Suslov, agora cabe à Europa e ao presidente ucraniano decidir se aceitam os termos delineados por Putin e Trump. “Se eles categoricamente recusarem, os Estados Unidos provavelmente suspenderão totalmente a transferência de inteligência e a entrega de armas e equipamentos militares para a Ucrânia”, afirmou. Essa decisão enfraqueceria de forma “radical” a posição ucraniana no campo de batalha e aceleraria a vitória russa.

O especialista alertou ainda que o “partido da guerra” em Washington e Bruxelas tentará pressionar Trump a abandonar o que foi acordado, mas avaliou que o presidente norte-americano “não sucumbirá a tais provocações”, já que está mais forte politicamente do que em seu primeiro mandato.

O fator Trump e a ofensiva contra os democratas

Suslov ressaltou que a atual administração Trump não está mais na defensiva em relação ao chamado “Russiagate”. Pelo contrário, agora é capaz de acusar os democratas de conluio e falsificação nas eleições de 2016, o que fortalece a posição do republicano para resistir às pressões do establishment político e midiático.

“Trump pode resistir à pressão que será agora exercida sobre ele pela Europa, pelo Estado profundo americano e pelo partido da guerra americano, incluindo figuras como o senador Graham”, acrescentou.

Detalhes simbólicos e contraste com Biden

Além das questões de fundo, Suslov destacou também a simbologia do encontro. Desde a recepção calorosa de Trump a Putin na pista do aeroporto, passando pelo sobrevoo da aviação norte-americana, até a cena de ambos dividindo o mesmo carro a caminho da cúpula, todos os gestos demonstraram respeito e proximidade pessoal.

Essa atmosfera, marcada por cordialidade e simpatia mútua, “contrasta fortemente com o tom da administração Biden”, observou o analista. Para ele, essa mudança de postura é um sinal claro de que os Estados Unidos, sob Trump, buscam um diálogo mais direto e equilibrado com Moscou. 

Um novo capítulo da geopolítica mundial

A reunião no Alasca pode representar mais do que um avanço nas negociações de paz na Ucrânia: ela sinaliza uma mudança estrutural nas relações de poder globais. O fortalecimento do canal direto entre Rússia e Estados Unidos, segundo Suslov, mostra que as grandes potências estão dispostas a reescrever as regras da política internacional, substituindo a lógica de confrontação pela busca de um novo equilíbrio.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Amorim diz que revogação de vistos americanos por causa do Mais Médicos é provocação de Trump para Brasil reagir

 

Para principal conselheiro de Lula para assuntos internacionais, esse tipo de atitude é uma 'irracionalidade'

Por Eliane Oliveira

 — Brasília

14/08/2025



Celso Amorim, assessor especial de Lula — Foto: Cristiano Mariz







Principal conselheiro do presidente Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim avalia que a revogação de vistos americanos de funcionários do governo brasileiro anunciada nessa quarta-feira é uma tentativa de provocar uma reação no Brasil para justificar “ações mais absurdas”.

É a total irracionalidade. Ou, pior, uma provocação à espera de uma reação que sirva de pretextos a ações mais absurdas. Com que objetivo, sinceramente, não sei — afirmou Amorim ao GLOBO.

Em mais uma escalada da crise entre Brasil e Estados Unidos, o Departamento de Estado americano anunciou a revogação de vistos de dois brasileiros que participaram do programa Mais Médicos, programa criado em 2013 para contratar profissionais estrangeiros da área de saúde na rede pública. A medida foi justificada pela necessidade de responsabilização daqueles que permitem o esquema de "exportação de trabalho forçado do regime cubano".

Os brasileiros punidos: são Mozart Sales, homem de confiança do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e Alberto Kleiman, coordenador-Geral para a COP 30, conferência mundial do clima que acontecerá em Belém (PA) no próximo mês de novembro.

A declaração de Celso Amorim reflete uma impressão geral entre integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os ataques da Casa Branca ao Judiciário brasileiro — e, desde ontem, a servidores públicos federais — têm como objetivo provocar reações em um tom maior do Brasil para justificar sanções mais duras.

Um exemplo seria a expulsão do principal representante dos EUA em Brasília, o encarregado de negócios Gabriel Escobar. Ou, para demonstrar descontentamento, chamar de volta ao Brasil a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti.

Mas não há qualquer decisão a esse respeito e a tendência é continuar buscando uma negociação. Nas palavras de um importante interlocutor, Washington "estica corda".

Gabriel Escobar é o único canal de interlocução entre autoridades brasileiras e americanas. Desde o início da crise, foi chamado quatro vezes pelo Itamaraty, para ouvir manifestações de descontentamento do governo do Brasil.

De acordo com interlocutores envolvidos no assunto, o diplomata americano será chamado sempre que for preciso, embora seja um canal pouco útil. A avaliação é que Escobar não tem entrada alguma com a atual administração e está no posto como "boneco de ventríloquo".

A Embaixada dos EUA está sem titular desde janeiro deste ano, quando o presidente Donald Trump, tomou posse. O posto tinha como embaixadora a empresária e ativista democrata Elizabeth Bagley.

Na última sexta-feira, Escobar foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores. Ouviu queixas do governo brasileiro em relação aos novos ataques da embaixada ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nas redes sociais.

"O ministro Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores. Suas flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Trump. Os aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas estão avisados para não apoiar nem facilitar a conduta de Moraes. Estamos monitorando a situação de perto", dizia a mensagem da embaixada.

Na véspera, Gabriel Escobar se reunira com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Os detalhes da conversa não foram divulgados.

A embaixada voltou à tona no sábado passado. Publicou uma mensagem semelhante a um texto divulgado horas antes pelo número dois do Departamento de Estado americano, Christopher Landau, afirmando que Moraes teria "usurpado o poder" do STF.

Desta vez, não houve convocação. O governo brasileiro manifestou à embaixada americana seu "absoluto rechaço às reiteradas ingerências dos EUA em assuntos internos do Brasil. E destacou que a democracia sofreu uma tentativa de golpe de Estado e não se curvará a pressões, conforme relatos de pessoas a par do assunto.

Desde que, no início do mês passado, anunciou uma sobretaxa de 40%, somada aos 10% que já haviam sido aplicados anteriormente, Donald Trump deixou claro que quer proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro no processo que corre contra ele no STF. O governo brasileiro descarta essa hipótese e insiste em uma negociação comercial.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Brasil perdeu área do tamanho da Bolívia de vegetação nativa em 40 anos

Mais de 80% da área desmatada no país nas últimas quatro décadas eram de florestas maduras, aponta MapBiomas

13 de agosto de 2025

Área de floresta desmatada (Foto: Arquivo/Agência Brasil)



 







Por Leonardo Sobreira

Brasil de Fato - Entre 1985 e 2024, o Brasil perdeu 111,7 milhões de hectares de vegetação nativa. Trata-se de uma área maior que a Bolívia e equivalente a 13% do território nacional. Mais de 80% dessa supressão ocorreu sobre florestas primárias, segundo a Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra divulgada pelo MapBiomas nesta terça-feira (13), em Brasília.

No mesmo período, a proporção de municípios com predominância da agropecuária sobre o território subiu de 47% para 59%. A nova série histórica também mostra que a expansão agrícola e de pastagens foi o principal vetor de transformação da paisagem brasileira nas últimas quatro décadas.

A formação florestal foi o tipo de cobertura nativa que mais perdeu área, com redução de 62,8 milhões de hectares (-15%), extensão ligeiramente maior que o território da Ucrânia. Em seguida vem a formação savânica, que encolheu 37,4 milhões de hectares (-25%) – área superior à da Alemanha.

“Até 1985, ao longo de quase cinco séculos com diferentes ciclos da expansão da fronteira agrícola, o Brasil converteu 60% de toda área hoje ocupada pela agropecuária, mineração, cidades, infraestrutura e outras áreas antrópicas. Já os 40% restantes dessa conversão ocorreram em apenas quatro décadas, de 1985 a 2024”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.

Amazônia perdeu 52,1 milhões de hectares de áreas naturais nos últimos 40 anos (-13%), sendo que três em cada cinco hectares agrícolas surgiram nos últimos 20 anos. No Cerrado, a redução foi de 40,5 milhões de hectares (-28%); na Caatinga, 9,2 milhões (-15%); e na Mata Atlântica, 4,4 milhões (-11%). Os estados com menor proporção de vegetação natural ficam total ou parcialmente na Mata Atlântica: São Paulo (22%), Alagoas (22%) e Sergipe (23%).

“A cobertura florestal da Mata Atlântica está praticamente estável nas duas últimas décadas, mas enquanto observamos o aumento das florestas secundárias em regeneração, ainda persiste o desmatamento das florestas maduras, mais ricas em biodiversidade e em estoque de carbono”, afirmou Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

O levantamento, produzido por uma rede colaborativa de pesquisadores e organizações, mapeou 30 classes de uso e cobertura da terra. A nova edição inclui, pela primeira vez, a identificação de usinas fotovoltaicas, cuja área total no país saltou de 822 hectares em 2016 para 35,3 mil hectares em 2024 – quase dois terços delas na Caatinga.

O mapeamento das usinas fotovoltaicas mostra que Minas Gerais concentra um terço da área instalada no país. Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte, junto com Minas, somam 74% da área total identificada em 2024.

Entre 1985 e 2024, a área ocupada com pastagens cresceu 62,7 milhões de hectares, enquanto a agricultura avançou 44 milhões de hectares. A silvicultura também registrou expansão expressiva, com aumento de 7,4 milhões de hectares – mais da metade deles no bioma Mata Atlântica.

Desmatamento teve pico entre 1995 e 2004

O período entre 1985 e 1994 foi marcado pela expansão de pastagens e aumento da área urbanizada, com 36,5 milhões de hectares convertidos para uso antrópico. Na década seguinte, entre 1995 e 2004, o avanço foi ainda mais intenso: 44,8 milhões de hectares de florestas foram transformados em áreas agropecuárias, principalmente pastagens e lavouras.

“O auge dessa transformação foi entre 1995 e 2004, quando o desmatamento atingiu os maiores picos. Mas entre 2005 e 2014, registrou-se a menor perda líquida de florestas desde 1985. Essa tendência se inverteu nessa última década, que foi marcada por degradação, impactos climáticos e avanço agrícola”, avaliou Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

A fase de 2005 a 2014 foi marcada também por mudanças no uso de pastagens. “Nesta década, as novas áreas de pastagem sobre áreas naturais recém-desmatadas diminuíram, ao mesmo tempo em que a conversão de pastagens já estabelecidas para o uso agrícola ou para a regeneração de áreas naturais aumentou”, afirmou Laerte Ferreira, coordenador do mapeamento de pastagens no MapBiomas. 

Pampa devastado e Brasil mais seco

Entre 1985 e 2024, o Brasil perdeu 10 milhões de hectares de áreas úmidas, que passaram de 84 milhões (quase 10% do território) para 74 milhões de hectares (8,8%). Todos os biomas registraram redução na superfície de água, exceto a Mata Atlântica, onde a criação de reservatórios e hidrelétricas expandiu o espelho d’água a partir dos anos 2000.

As quedas mais drásticas ocorreram no Pantanal, que apresentou, em 2024, 73% menos superfície de água que a média histórica. No mesmo bioma, a perda total de áreas naturais foi de 1,7 milhão de hectares (-12%), e a cobertura de água caiu de 24% para apenas 3% da área do território.

O Pampa registrou a maior perda proporcional de vegetação nativa nos últimos 40 anos (-30%, ou 3,8 milhões de hectares), com 1,3 milhão de hectares suprimidos apenas na última década. “Ainda nesta década, o desmatamento em vegetação secundária superou o de vegetação primária na Mata Atlântica e no Pampa. Por outro lado, é preocupante o fato de que justamente nesses dois biomas, que são os mais antropizados, as perdas de vegetação nativa não florestal tenham sido as mais altas nessa última década”, destacou Eduardo Vélez, integrante da equipe do MapBiomas no Pampa.