quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Lula não vê em Trump disposição para o diálogo e defende ação coordenada do BRICS sobre tarifaço

Presidente afirma que Brasil buscará articulação com países do BRICS diante do tarifaço e critica postura autoritária de Trump

07 de agosto de 2025



 

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert / PR)




Redação Brasil 247

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (6) que buscará articulação com os países do BRICS para uma resposta coordenada ao aumento das tarifas imposto pelos Estados Unidos. Em entrevista concedida à agência Reuters e repercutida pela Agência Gov com informações da Agência Brasil, Lula explicou que pretende ligar para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e para o presidente da China, Xi Jinping, com o objetivo de construir uma estratégia conjunta frente às sanções econômicas.

"Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão", declarou. O presidente lembrou que dez integrantes do BRICS fazem parte do G20, o que reforça a força política e econômica do bloco no cenário global. 

As tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos começaram a valer nesta quarta-feira. No mesmo dia, o presidente norte-americano Donald Trump publicou novo decreto elevando em 25% as tarifas sobre produtos indianos, alegando que o país importa direta ou indiretamente petróleo russo.

Governo prepara resposta e quer preservar empregos

Lula reforçou que a prioridade de seu governo neste momento é garantir a manutenção dos empregos e apoiar as empresas brasileiras a encontrarem novos mercados. Segundo ele, o Ministério da Fazenda deve encaminhar ainda hoje ao Palácio do Planalto a minuta da medida provisória com ações planejadas para enfrentar os impactos do tarifaço.

"Temos que criar condições de ajudar essas empresas. Temos obrigação de cuidar da manutenção dos empregos das pessoas que trabalham nessas empresas e ajudar essas empresas a encontrar novos mercados para seus produtos", disse Lula. O presidente também demonstrou disposição para conversar com empresários norte-americanos: “Temos preocupação de conversar com os empresários norte-americanos, a brigar com o presidente Trump para que ele possa flexibilizar isso [as tarifas]”.

“Trump não quer telefonema”, afirma Lula

Durante a entrevista à Reuters, Lula foi questionado sobre a ausência de contato direto com o presidente norte-americano e respondeu com franqueza: “Eu não liguei porque ele não quer telefonema. Não tenho por que ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que ele mandou e nas suas decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, o que ele fala é em novas ameaças”.

Apesar da resistência de Trump ao diálogo direto, Lula ressaltou que os negociadores brasileiros já mantiveram dez reuniões com representantes oficiais dos Estados Unidos desde maio. “Estou fazendo tudo isso [negociando] quando poderia anunciar uma taxação dos produtos americanos. Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento do presidente Trump. Quero mostrar que quando um não quer, dois não brigam — e eu não quero brigar com os Estados Unidos”.

O presidente ainda avaliou que retaliar os EUA com tarifas poderia gerar demissões naquele país e que esse tipo de medida não ajuda a resolver conflitos. “Quero dar exemplo ao presidente Trump”, afirmou.

Soberania brasileira não está em negociação

Lula reagiu com firmeza à tentativa de intromissão do presidente dos Estados Unidos em assuntos internos do Brasil. “Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras em um país soberano como o Brasil. Não é admissível que os Estados Unidos ou qualquer outro país resolva dar um pitaco na nossa soberania”, disse.

“Ele que cuide dos Estados Unidos. Do Brasil, cuidamos nós. Só tem um dono esse país, e só um dono que manda no presidente da República: é o povo, o povo que elegeu, o povo que pode tirar”, completou.

Lula também recordou a atuação norte-americana no golpe civil-militar de 1964, reforçando que a soberania brasileira precisa ser respeitada em qualquer circunstância.

Bolsonaro e Eduardo são “traidores da Pátria”, afirma Lula

Questionado sobre as tentativas de Donald Trump de interferir no processo judicial contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, Lula foi direto: “Esse cidadão não estava preparado para disputar eleições e perder. Ele tinha o comportamento de um ditador, ele queria se perpetuar no poder”.

Na visão do presidente brasileiro, Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, deveriam responder por novos processos. “Ele e o filho dele deveriam ter outro processo e ser condenados como traidores da Pátria. Traidor da Pátria, isso é o que ele é. Porque não tem precedente na história: um presidente da República e um filho que é deputado ir para os Estados Unidos para insuflar os Estados Unidos contra o Brasil. Isso nunca existiu na história, acho que de nenhum país do mundo”.

Lula critica ataque à regulação das big techs

O presidente também condenou as críticas de Trump à legislação brasileira sobre regulação de empresas de tecnologia. “Esse país é soberano, tem uma Constituição, tem uma legislação. É nossa obrigação regular o que a gente quiser regular de acordo com os interesses e a cultura do povo brasileiro. Se não quiser regulação, saia do Brasil”, afirmou.

Para Lula, a visão de Trump é de destruição do multilateralismo. “Você sabe por que eu entrei no sindicato? Porque um trabalhador sozinho, fazer negociação com a Mercedes, com a Ford, com a General Motors, o acordo sempre será um acordo mau para o trabalhador e bom para o empresário”, comparou.

Segundo Lula, o presidente dos Estados Unidos tenta substituir o diálogo coletivo por negociações unilaterais: “Taxação abusiva não leva a lugar nenhum. As coisas vão ficar mais caras para o povo brasileiro. As coisas vão ficar mais caras para o povo americano. As coisas vão ficar mais caras para o mundo”.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Entrevista de Lula sobre tarifaço de Trump lidera engajamento no Instagram do New York Times em 2025

Publicação com críticas ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump superou 746 mil interações na rede social

06 de agosto de 2025

Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)








Por Paulo Emilio

247 - A entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal norte-americano The New York Times gerou ampla repercussão nas redes sociais, especialmente após a crítica direta feita pelo petista ao “tarifaço” de 50% adotado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Segundo a coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, a informação consta de um levantamento realizado pela FGV Comunicação.

De acordo com o levantamento, o conteúdo publicado pelo perfil do NYT no Instagram sobre a entrevista foi o que mais movimentou os debates em torno de Lula durante a última semana. O post se destacou tanto no cenário nacional quanto internacional, alcançando mais de 746 mil curtidas e comentários — marca que o tornou o mais engajado da conta do New York Times em 2025 até agora.

A relevância da postagem é ainda maior quando se observa o desempenho histórico do perfil do jornal na plataforma. Ao longo de todo o ano de 2024, apenas uma outra publicação obteve resultado superior em número de interações: a que noticiou a morte da atriz britânica Maggie Smith, conhecida mundialmente por interpretar a professora Minerva McGonagall na franquia Harry Potter.

Na entrevista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que o Brasil, e ele próprio como dirigente político do Executivo, merecem e querem ser tratados com respeito pelo governo estadunidense na questão do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros pretendido por Donald Trump. Em entrevista a um dos jornais mais influentes do mundo, Lula reafirmou que não está sobre a mesa de negociações recuos em relação à soberania política do Executivo e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O Estado Democrático de Direito para nós é algo sagrado”, disse Lula. “Porque já vivemos ditaduras e não queremos mais", completou o presidente.

Lula concedeu a entrevista no Palácio do Alvorada, numa "sala imponente coberta por uma tapeçaria colorida no palácio presidencial modernista, onde emas vagam pelos gramados", na descrição do jornal. O NYT retratou o presidente brasileiro como "um esquerdista em seu terceiro mandato e indiscutivelmente o estadista latino-americano mais importante deste século". O jornal ainda destacou a afirmativa de Lula de que não receberá ordens de Trump.

O presidente ressaltou que o Brasil permanece aberto ao diálogo, mas com altivez. “Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, disse o presidente brasileiro. “Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”

Uma das questões levantadas pelo jornal foi a cobrança de Trump para que o Brasil encerre o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condição para que o tarifaço seja revisto. Bolsonaro está sendo julgado pelo STF sob acusação de golpe de Estado, entre outras. Lula reforçou que o Judiciário brasileiro é independente e que o processo seguirá o seu curso democrático e legal.

“Talvez ele [Trump] não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente”, respondeu Lula. O presidente do Brasil disse ser “vergonhoso” que Trump tenha feito suas ameaças em sua rede social, Truth Social. “O comportamento do presidente Trump se desviou de todos os padrões de negociação e diplomacia”, disse ele. “Quando você tem um desentendimento comercial, um desentendimento político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato.”

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

"A Justiça não permitirá que um réu a faça de tola", diz Moraes em decisão que prendeu Bolsonaro

Ministro decretou prisão domiciliar por descumprimento reiterado de medidas cautelares; decisão cita tentativa de obstrução da Justiça e ataques ao Supremo

04 de agosto de 2025

Bolsonaro e Moraes (Foto: Antonio Augusto/STF)









Por Guilherme Paladino

247 -  Na noite desta segunda-feira (4), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por descumprimento reiterado de medidas cautelares impostas no âmbito da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A decisão foi marcada por duras críticas à conduta do ex-mandatário e à sua insistência em desafiar ordens judiciais.

Em um dos trechos mais enfáticos, Moraes escreveu:
“A JUSTIÇA É CEGA, MAS NÃO É TOLA. A JUSTIÇA NÃO PERMITIRÁ QUE UM RÉU A FAÇA DE TOLA, ACHANDO QUE FICARÁ IMPUNE POR TER PODER POLÍTICO E ECONÔMICO.”

O ministro afirmou que Bolsonaro violou as determinações da Suprema Corte ao participar, mesmo que virtualmente, de manifestações que pediam a intervenção estrangeira contra o STF e atacavam diretamente o Judiciário brasileiro. Entre as provas citadas estão vídeos produzidos pelo ex-presidente e divulgados nas redes sociais de seus filhos e aliados, além de uma ligação por vídeo com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), durante o ato bolsonarista deste domingo (3), na Avenida Paulista.

Segundo Moraes, houve “claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e apoio, ostensivo, à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro”.

Ainda de acordo com a decisão, o descumprimento das medidas foi tão evidente que o próprio filho do ex-presidente, senador Flávio Bolsonaro, removeu uma publicação do Instagram para tentar apagar os rastros da infração:
“O flagrante desrespeito às medidas cautelares foi tão óbvio que, repita-se, o próprio filho do réu [...] decidiu remover a postagem [...] com a finalidade de omitir a transgressão legal.”

Moraes destacou que esta é a segunda violação por parte de Bolsonaro, o que justificaria a prisão:
“O RÉU QUE DESCUMPRE DELIBERADAMENTE AS MEDIDAS CAUTELARES – PELA SEGUNDA VEZ – DEVE SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS LEGAIS.”

O ministro ainda frisou que o ex-presidente atuou com o objetivo de obstruir as investigações e de coagir instituições do Estado:
“O réu reiterou sua conduta delitiva [...] com o claro intuito de obstrução da Justiça, evidenciando a continuidade delitiva em relação aos crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal) e obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa (art. 2º, §1º, da Lei 12.850/13).”

Na parte final do despacho, Moraes ordenou:
“Cumpra-se, com urgência.”

Medidas impostas

A decisão determina que Jair Bolsonaro cumpra prisão domiciliar em sua residência, com as seguintes condições:

·          uso obrigatório de tornozeleira eletrônica;

·          proibição de visitas, exceto de familiares diretos e advogados;

·          recolhimento de todos os celulares disponíveis no local.

Assista o vídeo:

domingo, 3 de agosto de 2025

Trump já vê BRICS como ameaça séria e Lula lidera o Sul Global, diz Pepe Escobar

 

Analista destaca que o bloco avança na desdolarização e que o presidente brasileiro retomou protagonismo geopolítico na cúpula do Rio



 

Pepe Escobar | Bandeiras do Brics (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reuters)



Redação Brasil 247

247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar analisou em entrevista ao canal Think Bricks, no YouTube, os bastidores e os desdobramentos da cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro. Ele afirmou que o encontro superou todas as expectativas e mostrou ao mundo que o bloco caminha de forma decidida para reduzir a dependência do dólar, provocando reação imediata do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em seu segundo mandato já percebe o BRICS como uma ameaça estratégica.

Contra todas as expectativas, foi um sucesso”, disse Escobar, destacando que o evento demonstrou a força crescente do bloco no cenário geopolítico. Para o analista, a movimentação do BRICS na direção da desdolarização ocorre de forma prática, sem que o termo precise ser usado oficialmente. “Eles estão fazendo o que precisam fazer”, afirmou. “São vários trens de alta velocidade correndo em trilhos paralelos rumo à estação da desdolarização, ainda que com outro nome.”

Segundo ele, a percepção de risco por parte dos Estados Unidos ficou evidente na reação imediata de Trump, que impôs tarifas de 50% ao Brasil logo após a cúpula. “Mesmo com atenção de menos de dois segundos, ele entendeu que o BRICS é agora uma ameaça séria”, disse Escobar, reforçando que o avanço do bloco representa um desafio direto à hegemonia do dólar.

Lula retoma protagonismo no cenário global

Pepe Escobar também destacou o protagonismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, reencontrou-se como líder do Sul Global. O momento mais simbólico foi o BRICS Business Day, quando Lula discursou diante de empresários de diversas regiões do mundo.

Foi um discurso de líder do Sul Global, atento ao ambiente, reescrevendo o texto a cada instante para reagir ao que acontecia na sala”, disse Escobar. Ele relatou que o presidente brasileiro demonstrou sensibilidade para dialogar com o setor privado, homenageou o Conselho de Mulheres do BRICS e estabeleceu uma ponte direta com líderes de outros países em desenvolvimento.

Para o analista, a atuação de Lula consolida o Brasil como principal voz da América Latina no bloco, abrindo espaço para maior integração com a Ásia e a África. O convite feito pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, para que Lula participe da cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, foi visto como um passo simbólico dessa articulação. “Lula vai adorar a experiência de sentar à mesa de iguais, um conceito central para o Sul Global”, observou Escobar.

BRICS fortalece caminho próprio

A entrevista também reforçou que, além do aspecto político, a cúpula do Rio trouxe avanços concretos para o BRICS. Entre eles:

·           Expansão do comércio em moedas nacionais, reduzindo o uso do dólar;

·          Debates sobre uso do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como principal canal   de   empréstimos,    com possibilidade de operar fora do Swift;

·      Fortalecimento da coordenação geopolítica e econômica, diante de pressões externas e guerras         híbridas.

Pepe Escobar avalia que o bloco vem consolidando uma arquitetura financeira e política própria, com efeitos que vão muito além de comunicados oficiais. A reação de Trump e o retorno de Lula como articulador global são, segundo ele, sinais claros de que o BRICS deixou de ser visto como apenas uma iniciativa simbólica e passou a ser um ator estratégico na disputa por uma nova ordem mundial. Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=zi6obgbrPLY&t=3s