Para principal conselheiro de Lula para assuntos internacionais, esse tipo de atitude é uma 'irracionalidade'
Por Eliane Oliveira
—
Brasília
14/08/2025
Celso Amorim,
assessor especial de Lula — Foto: Cristiano Mariz
Principal conselheiro
do presidente Lula para assuntos
internacionais, Celso Amorim avalia que a
revogação de vistos americanos de funcionários do governo brasileiro anunciada
nessa quarta-feira é uma tentativa de provocar uma reação no Brasil para
justificar “ações mais absurdas”.
É a total
irracionalidade. Ou, pior, uma provocação à espera de uma reação que sirva de
pretextos a ações mais absurdas. Com que objetivo, sinceramente, não sei —
afirmou Amorim ao GLOBO.
Em mais uma escalada
da crise entre Brasil e Estados Unidos, o Departamento de Estado americano
anunciou a revogação de vistos de dois brasileiros que participaram do programa
Mais Médicos, programa criado em 2013 para contratar profissionais estrangeiros
da área de saúde na rede pública. A medida foi justificada pela necessidade de
responsabilização daqueles que permitem o esquema de "exportação de
trabalho forçado do regime cubano".
Os brasileiros
punidos: são Mozart Sales, homem de confiança do ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, e Alberto Kleiman, coordenador-Geral para a COP 30, conferência
mundial do clima que acontecerá em Belém (PA) no próximo mês de novembro.
A declaração de Celso
Amorim reflete uma impressão geral entre integrantes do governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva: os ataques da Casa Branca ao Judiciário brasileiro —
e, desde ontem, a servidores públicos federais — têm como objetivo provocar reações
em um tom maior do Brasil para justificar sanções mais duras.
Um exemplo seria a
expulsão do principal representante dos EUA em Brasília, o encarregado de
negócios Gabriel Escobar. Ou, para demonstrar descontentamento, chamar de volta
ao Brasil a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti.
Mas não há qualquer
decisão a esse respeito e a tendência é continuar buscando uma negociação. Nas
palavras de um importante interlocutor, Washington "estica corda".
Gabriel Escobar é o
único canal de interlocução entre autoridades brasileiras e americanas. Desde o
início da crise, foi chamado quatro vezes pelo Itamaraty, para ouvir
manifestações de descontentamento do governo do Brasil.
De acordo com
interlocutores envolvidos no assunto, o diplomata americano será chamado sempre
que for preciso, embora seja um canal pouco útil. A avaliação é que Escobar não
tem entrada alguma com a atual administração e está no posto como "boneco
de ventríloquo".
A Embaixada dos EUA
está sem titular desde janeiro deste ano, quando o presidente Donald Trump, tomou posse. O
posto tinha como embaixadora a empresária e ativista democrata Elizabeth
Bagley.
Na última
sexta-feira, Escobar foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores.
Ouviu queixas do governo brasileiro em relação aos novos ataques da embaixada
ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nas redes
sociais.
"O ministro
Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus
apoiadores. Suas flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções
pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Trump. Os aliados de Moraes no
Judiciário e em outras esferas estão avisados para não apoiar nem facilitar a
conduta de Moraes. Estamos monitorando a situação de perto", dizia a
mensagem da embaixada.
Na véspera, Gabriel
Escobar se reunira com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Os detalhes da
conversa não foram divulgados.
A embaixada voltou à
tona no sábado passado. Publicou uma mensagem semelhante a um texto divulgado
horas antes pelo número dois do Departamento de Estado americano, Christopher
Landau, afirmando que Moraes teria "usurpado o poder" do STF.
Desta vez, não houve
convocação. O governo brasileiro manifestou à embaixada americana seu
"absoluto rechaço às reiteradas ingerências dos EUA em assuntos internos
do Brasil. E destacou que a democracia sofreu uma tentativa de golpe de Estado
e não se curvará a pressões, conforme relatos de pessoas a par do assunto.
Desde que, no início
do mês passado, anunciou uma sobretaxa de 40%, somada aos 10% que já haviam
sido aplicados anteriormente, Donald Trump deixou claro que quer proteger o
ex-presidente Jair Bolsonaro no processo que corre contra ele no STF. O governo
brasileiro descarta essa hipótese e insiste em uma negociação comercial.

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