'O depoimento de Freire Gomes deixou ver que joio e trigo estavam no mesmo saco', escreve a colunista Denise Assis (Jornalista)
20 de maio de 2025
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General Marcos Freire Gomes (Foto: Divulgação) |
Foi dada a largada para o desfile de cerca de 81
testemunhas dos acusados (cálculo feito por alguns juristas), de tentativa de
golpe de Estado e abolição violenta do Estado de direito – os mais graves -, e
mais dois crimes relativos à depredação dos prédios públicos. A estreia ficou a
cargo do general Marco Antônio Freire Gomes, à época o comandante do Exército
(2022), que tentou apelar para o “espírito de corpo”, a fim de salvar a pele do
também comandante, o da Marinha, Almir Garnier.
Não fica bem para um militar, principalmente em
posição de comando, expor colegas de fardas, ou “entregar” os seus malfeitos.
Assim, no depoimento que deu primeiramente na Polícia Federal - que a princípio
ficaria sob sigilo -, falou à vontade, posou de herói e até mencionou uma frase
de efeito, que, afinal, não disse: “presidente, se o senhor continuar eu serei
obrigado a prendê-lo”.
Ali, diante do ministro relator, Alexandre de
Moraes, tentou desanuviar sua fala, ajeitando a figura de Garnier, que até
mesmo em um levantamento feito sob encomenda das Forças Armadas pela FGV, na
semana de 7 de setembro de 2022, aparecia com a graduação máxima para o quesito
em que apontava os adesistas ao golpe. Com o brigadeiro Carlos Almeida Batista
Júnior, da Aeronáutica, não se preocupou. Já na PF ele havia se saído bem da
fita. O estudo foi um termômetro para os comandos saberem a quantas andava o engajamento
em um possível golpe no país, publicado com exclusividade pelo 247 em 6 de setembro daquele
ano. https://www.brasil247.com/blog/exclusivo-forcas-armadas-fazem-levantamento-sobre-oficiais-dispostos-a-aderir-ao-golpe-prometido-por-bolsonaro
Em seu primeiro depoimento, houve quem enxergasse
em Freire Gomes, enfim, o herói que o Exército tanto gosta e procura.
Principalmente nesse episódio, que já entrou para a história e deixou mal a
instituição, por mais que os comandos falem em “punir” para “separar o joio do
trigo”.
O que o depoimento de Freire Gomes deixou ver é que
joio e trigo estavam no mesmo saco, até que alguém pesou e mediu e constatou
que o “day after” desta vez seria ainda mais danoso do que os últimos 21 anos
de ditadura, para o Exército. Já começou com o sarrafo lá em cima, falando em
“matar todo mundo”, projetando campo de concentração e exibindo plano de
assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (O Jeca) envenenado; o seu
vice, Geraldo Alckmin (o Joca, sem definição de método), e o ministro Alexandre
de Moraes, degolado.
A contradição entre um tom e outro do seu
depoimento não passou despercebido ao ministro relator, que observou: ou ele
mentiu na PF ou estava mentindo sob juramento, o que lhe daria cana por crime
de perjúrio. Indignado, Freire Gomes tentou dar uma carteirada com o seu tempo
de serviço e suas dragonas, para afirmar que não mentiria. Perdeu. Teve de
rever posição e, mesmo amenizando o que havia dito sobre Garnier, manteve. O
marinheiro, de fato, aderiu ao golpe. Disse isso tentando dar à fala o colorido
de um saco de balas jujubas, com um sorriso amarelo e a “coragem” de um
general...
Mas o que ele não consegue explicar, nem para
Moraes, nem para mim ou alhures é: por que o cântaro foi tantas vezes à bica?
Na primeira reunião, foi-lhe apresentada uma minuta de golpe. Na segunda
reunião, em que pese o país ter passado recentemente por uma eleição, dando
vitória ao candidato do campo oposto, não estranhou que o derrotado, na solidão
do palácio que não mais lhe pertenceria, punha diante dele um “estudo” sobre
Estado de sítio, o remédio mais amargo do cardápio em tempos de guerra.
Sem mencionar a manutenção dos acampamentos país
afora, a carta em defesa dos acampados à frente do QG e o silêncio sobre uma
carta/pressão, com assinaturas de militares da ativa.
Não quis saber em que contexto o tal instrumento
seria usado, e tampouco porque o tema estava na pauta do ex-presidente postado
à sua frente. Sim, porque passada a eleição, era esta a condição de Jair
Bolsonaro: ex-presidente.
Numa tentativa desesperada de disfarçar o que ficou
evidente – Gomes caminhou com o golpe até onde deu, mas depois medrou -, o
general argumentou que “os instrumentos listados no documento estão previstos
na Constituição”. Bidu!!!! Claro que estão. O que importa aqui, é como e com
que destinação seriam usados. O general foi incapaz de questionar Bolsonaro
sobre o que pretendia? O país não vivia um confronto armado, pelo contrário.
Havia se libertado do jugo de um desvairado, imprevisível, negacionista. A
vitória de Lula era uma realidade. Era hora de arrumar as gavetas. E Freire
Gomes não estranhar isso é sintomático. Ou, puro disfarce.
E tanto é assim que ao ser relembrado de sua
declaração à PF, de que sempre deixou claro ao ex-presidente que o Exército não
participaria “na implementação desses institutos jurídicos visando reverter o
processo eleitoral”, demonstrou a sua total compreensão das intenções do homem
que lhe estendia uma proposta de golpe. Portanto, sabia muito bem o que estava
por vir. E voltou lá três vezes. Não se deu conta de que alguém já com as malas
prontas, não teria motivos para fazer estudo sobre Estado de Sítio?
E, pior: havia no tal “estudo” uma descrição da
necessidade de prender Moraes. Alô, general!!! Você viu um elefante voando e
não considerou, no mínimo estranho? Francamente... É comum, não é mesmo,
prender ministro do Supremo? Fala sério... E ainda minimizou a postura de
Garnier com a seguinte pérola: “o almirante se colocou à disposição do
presidente”, quanto aos planos golpistas. E então estávamos falando do quê? De
que cor era o cavalo branco do Napoleão?
E ainda reforçou: “o almirante Garnier tomou essa postura de ficar com o
presidente”, mas não gostaria de “aferir” as reais intenções de Garnier. Beirou
o ridículo, o esforço do general Freire Gomes para saltitar entre uma desculpa
e outra. É possível que não tenha reduzido em nada o dano para Garnier, e ainda
tenha exposto ao sol a própria pele para torrar. Tudo nos leva a crer que o
herói perdeu a capa e a espada...
EM TEMPO: O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, e a CIA, enviaram uma Generala do Cone Sul, da elite da esquadra militar dos EUA, a qual se reuniu, em meados do primeiro semestre de 2022, com o Alto Comando das Forças Armadas do Brasil, afirmando categoricamente que o governo dos EUA não apoiava Golpe Militar no Brasil. O que nos chama atenção é que alguns militares de alta patente foram na conversa fiada de Bozo, um ex-militar indisciplinado, conforme foi dito pelo General e Ex-Presidente, Ernesto Geisel. Convém lembrar que no governo Geisel o general Leônidas Pires, membro do Alto Comando das Forças Armadas proibiu Bozo de visitar as dependências do Exército Brasileiro, isto é, em todo o Brasil. Além do mais o Bozo foi expulso do Exército e queria explodir a Adutora do Guandú no RJ. "Acordar pra Jesus, é preciso!" No é Braga Neto, Pazuello, Paulo Nogueira, Augusto Heleno, Lorena Cid, Mauro Cid e tantos outros militares que foram na onda de Bozo.
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