8 de março de 2025
Coordenação Nacional
do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Neste dia
Internacional de luta da classe trabalhadora, seguimos enfrentando uma
conjuntura em que as trabalhadoras e toda nossa classe estão sendo massacradas
pela lógica capitalista e patriarcal. Nós, mulheres trabalhadoras de todo o
mundo, das florestas, das águas, das cidades, temos sofrido e morrido sob as
bombas das guerras imperialistas, em abortos clandestinos, em razão da fome, da
sede, nas filas em busca por cuidados com a saúde, no genocídio do povo negro e
no extermínio dos povos originários. Sofremos todos os dias: enfrentamos as
consequências da divisão sexual do trabalho, a imposição de um trabalho
doméstico desgastante e a violência sob suas diferentes formas, em casa e na
rua.
Sob a lógica do
capitalismo, nós somos cada vez mais exploradas: enfrentamos múltiplas e longas
jornadas com baixos salários, no trabalho doméstico e nos cuidados das nossas
famílias e comunidades, trabalho não remunerado, invisibilizado, essencial para
a reprodução da força de trabalho. A redução da jornada de trabalho permitiria
ampliar o acesso à saúde e ao lazer, uma maior organização política e sindical
das trabalhadoras, além de possibilitar uma redistribuição mais justa do tempo,
reduzindo a sobrecarga e garantindo melhores condições de vida. Para nós, essa
medida é fundamental para avançar na luta contra a exploração capitalista e
patriarcal, promovendo a autonomia e dignidade das mulheres e de toda classe
trabalhadora. Por isso, defendemos a diminuição da jornada de trabalho para 30
horas, sem redução dos salários e pelo fim da escala 6×1.
Diante de um cenário
internacional brutal, de ofensiva do neofascismo, reacionário e destrutor da
vida, reforçamos a necessidade de fortalecer os laços de solidariedade
internacional entre as trabalhadoras de todo o mundo, sempre numa perspectiva
revolucionária. Nos últimos anos eleições como a de Miley na Argentina e mais
recentemente a de Trump nos EUA, com agendas extremamente reacionárias atacam
os direitos das mulheres, da população lgbt, dos imigrantes e de toda a classe trabalhadora.
Milhões de nós migram na esperança de uma vida melhor, acabam desamparadas,
muitas vezes sem documentos legais e em sub empregos precarizados, mal
remunerados e enfrentando uma brutal xenofobia e um racismo sistêmico.
No Brasil, a ofensiva
conservadora também segue crescendo e os resultados das ultimas eleições
municipais evidenciaram isso, na maioria das cidades brasileiras os candidatos
eleitos são em maioria homens de direita e extrema direita. A cada dia que
passa, os índices de feminicídios aumentam, todas as formas de violência contra
as mulheres também! Nos matam e saem impunes, nossos sonhos são esmagados,
nossos desejos negados, nossas subjetividades destruídas.
Para a maioria de
nós, os alimentos mais básicos não chegam à mesa, e os que chegam estão cheios
de agrotóxicos, enquanto pouco se avança a reforma agrária, se intensificam as
repressões que atingem cotidianamente as mulheres do campo e as produtoras de
alimentos saudáveis. Estima-se que até 2050, a mudança climática devido ao capitalismo
empurrará mais 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza e levará mais
236 milhões de mulheres à fome! Apesar de ter ocorrido um aumento nos postos de
trabalho para as mulheres no Brasil, ainda somos maioria no mercado informal e
nos trabalhos mais desvalorizados e precarizados. A situação se agrava e
intensifica para as mulheres negras, indígenas e população LGBT As altas taxas
de desemprego são acompanhadas por elevações contínuas nos preços da cesta
básica. A situação para as mulheres, principalmente para as negras, indígenas e
LGBTs é ainda pior.
Metade dos lares
brasileiros é mantida financeiramente pelas mulheres, mas nossos salários ainda
são rebaixados em relação aos dos homens nas mesmas funções. A maioria de nós
vive endividada, sob ameaça de perder o pouco que conquistamos ou sem nunca
conseguir o básico. Essa situação nos deixa ainda mais vulneráveis à exploração
e à violência no ambiente de trabalho ou em casa. Somos responsabilizadas pelo
cuidado da casa, dos filhos, dos idosos e pessoas doentes da família. Mesmo
assim, ainda não temos o direito de decidir sobre nossas vidas, nossos corpos,
se queremos ou não interromper uma gravidez, por exemplo. Muitas de nossas
jovens não têm a necessária educação sexual para prevenir uma gravidez
indesejada, além das dificuldades de acesso a métodos contraceptivos seguros e
a serviços médicos de qualidade. A repressão aos direitos reprodutivos das
mulheres se torna um instrumento de controle social, mantendo-as em uma
condição de subordinação na estrutura social patriarcal.
Em relação à atual
situação do aborto no Brasil, revela a junção entre as questões de classe
social, direitos reprodutivos e o controle social de nós mulheres. A
criminalização do aborto reflete a forma como o capitalismo e o patriarcado se
entrelaçam para controlar os corpos das mulheres, principalmente as que
pertencem às camadas populares.
As mulheres da classe
trabalhadora são as mais afetadas pela criminalização, principalmente as
mulheres negras e pobres, pois são as que menos têm acesso a métodos
contraceptivos seguros e a serviços médicos de qualidade, o que as coloca em
risco de vida pela clandestinidade. Ao mesmo tempo, a restrição de acesso aos
direitos reprodutivos dessas mulheres se torna um instrumento de controle
social, mantendo-as em uma condição de subordinação e impossibilitando seu
pleno exercício da autonomia e da liberdade.
Nos últimos anos,
tem-se observado no Brasil uma serie de ataques aos direitos sexuais e
reprodutivos, com propostas de lei relacionadas ao aborto sendo a´resentadas de
forma articulada municipal, estadual e nacionalmente. Projetos como o Projeto
de Lei 1904/2024 conhecido como “ PL Gravidez Infantil”, proibindo e
equiparando aborto a homicídio quando realizado após 22 semanas de gestão, mesmo
nas situações já asseguradas em lei, como nos casos de estupros. Também PL
478/2021, que visa tornar ainda mais restritivas as condições para o aborto
legal no país, e o PL 3.569/2015, que pretende criminalizar a realização do
aborto em qualquer circunstância, mesmo nos casos previstos em lei, são
exemplos claros de tentativas de cercear direitos conquistados ao longo de
décadas.
Essas propostas
refletem a ideologia dominante do sistema capitalista, que, aliado ao
patriarcado, busca manter a mulher em um lugar de subordinação e exploração,
negando-lhe o controle sobre seu próprio corpo e sua vida. A aprovação dessas
leis significaria um retrocesso histórico nas conquistas feministas e um
fortalecimento das opressões estruturais que atravessam a sociedade brasileira.
O Coletivo Feminista
Classista Ana Montenegro defende que a autonomia reprodutiva das mulheres não
pode ser vista apenas como uma questão moral ou individual, mas como uma
questão política que envolve a luta por um projeto de sociedade mais justa, que
coloque a emancipação das mulheres e a transformação das condições materiais de
vida como prioridade. Essa luta, portanto, precisa ser travada no campo da
política e da organização popular, desafiando as estruturas de poder que tentam
impor uma moral conservadora e controladora sobre nossos corpos.
Somos diversas,
diferentes, somos múltiplas, desiguais, mas precisamos estar juntas, enquanto
classe, contra a barbárie do capitalismo. Lembramos Clara e Alexandra e as
mulheres trabalhadoras socialistas que há mais de um século inspiraram o 8 de
Março.
Com elas, reafirmamos
que o feminismo não pode se limitar ao horizonte do estado burguês, seguimos
apontando a necessidade da superação revolucionária da lógica capitalista que
explora, oprime e violenta toda nossa classe. Apontar para o socialismo não é
uma mera bandeira de agitação, mas, sim a única possibilidade de superação
dessa barbárie capitalista!
As lutadoras que
inspiraram o 8 de Março não queriam flores, mas justiça, dignidade e
emancipação! Nós não queremos rosas, queremos queremos outra realidade, e por
isso seguimos lutando e resistindo !
– Redução da jornada
de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salário! Pelo fim da escala
6×1!
– Pelo arquivamento
definitivo do PL 1904/2024 e da PEC 164/2012!
– Basta de
feminicídios! Pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres!
– Abaixo a fome, a
pobreza e a carestia!
– Em defesa do SUS
100% público e estatal!
– Aborto legal,
seguro e garantido pelo SUS para não morrer!
– Em defesa dos povos
originários, pela demarcação das terras indígenas!
– Em defesa da
diversidade e contra a LGBTfobia!
– Pelo fim do
genocídio da população negra!
– Toda Solidariedade
ao povo Palestino! Contra o sionismo de Israel!
– Pelo Poder Popular!
Rumo ao socialismo!
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