Analista geopolítico afirma que a questão central é quem pagará a conta
16 de fevereiro de 2025
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Pepe Escobar e Donald Trump (Foto: Brasil247 | Reuters) |
247 – O analista
geopolítico Pepe Escobar, em seu programa "Pepe Café”, abordou a lógica
financeira por trás das guerras no cenário internacional, em especial as
estratégias do presidente Donald Trump. Segundo Escobar, para Trump, as guerras
não passam de transações comerciais bilionárias, nas quais os Estados Unidos
lucram ao máximo enquanto seus aliados e adversários pagam o preço, seja em
dinheiro ou em vidas humanas.
A questão central, segundo Escobar,
está na estratégia dos Estados Unidos de transferir o peso econômico da guerra
para a Europa. “Quem vai pagar a grana pesada de tudo isso vão ser os europeus,
porque os europeus vão continuar comprando armas americanas e pagando ao
complexo industrial-militar dos EUA”, explicou. A guerra na Ucrânia, que
poderia ter sido evitada por um acordo firmado em Istambul, foi desmantelada
pelos anglo-americanos, forçando Kiev a uma dependência ainda maior de
Washington.
Trump teria deixado claro que o custo da guerra não será suportado pelo contribuinte norte-americano, mas sim pelos europeus e pelos próprios ucranianos, que pagarão com suas terras e recursos naturais. “Ele diz que os Estados Unidos já obrigaram a Ucrânia a entregar US$ 500 bilhões em terras raras e minerais preciosos”, afirmou Escobar, destacando que 70% dessas riquezas já pertencem à Rússia, tornando a promessa de pagamento ilusória.
O ‘Gaza Riviera Resort’ e a geopolítica da expulsão
Escobar também abordou o projeto de
Trump para Gaza, que, segundo ele, mais se parece com um empreendimento
imobiliário do que com uma solução diplomática para a crise na Palestina. A
proposta do presidente envolveria a construção de um luxuoso complexo turístico
em Gaza, financiado por Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes, sob controle
final dos Estados Unidos. O plano, segundo Escobar, seria uma forma de encobrir
a expulsão forçada dos palestinos. “O projeto imobiliário de Trump seria pago
pelas monarquias do Golfo, mas revertido fundamentalmente para os EUA”,
destacou.
A ideia, que teria sido apresentada em reuniões com líderes árabes, teria sido prontamente rejeitada pelo Egito e pela Jordânia. Para Escobar, trata-se de um plano de limpeza étnica disfarçado de desenvolvimento econômico. “Na visão de Trump, Gaza foi demolida, então os palestinos têm que sair para um lugar mais legal, com vista para o mar e tudo funcionando perfeitamente”, ironizou.
A conferência de Munique e as apostas militares
Outro ponto central da análise de
Escobar é a Conferência de Segurança de Munique, onde os Estados Unidos
enviaram uma delegação de peso, incluindo o secretário de Estado, o chefe do
Pentágono e o general aposentado Keith Kellogg, enviado especial para Rússia e
Ucrânia. Segundo Escobar, a postura de Kellogg é de completo antagonismo à
posição russa, o que só reforça o clima de Guerra Fria. “Ele é visto em Moscou
como uma relíquia da Guerra Fria, e isso na versão diplomática. A não
diplomática é que ele é um imbecil absoluto”, afirmou o analista.
A conferência teria como um dos principais objetivos definir quem bancará os custos da guerra na Ucrânia. Além dos europeus, o próprio povo ucraniano continuará pagando o preço mais alto, tanto em vidas perdidas quanto em sua soberania econômica. O cenário para os próximos meses ainda é incerto, mas Escobar alerta que as condições russas para um cessar-fogo continuam inegociáveis: desmilitarização da Ucrânia, impedimento da entrada na OTAN e a fixação de uma linha de demarcação com as regiões ocupadas pela Rússia.
Trump, Musk e a nova divisão global de influência
No aspecto mais amplo da geopolítica,
Escobar destacou a crescente influência de Elon Musk nos bastidores da Casa
Branca, chegando a afirmar que o bilionário seria um “co-presidente” do governo
Trump. Segundo o analista, Musk teria influência direta sobre decisões
estratégicas dos EUA, principalmente em relação à guerra comercial com a China.
“O que as classes dominantes americanas sabem é que a verdadeira guerra do
século XXI não é contra a Rússia, mas contra a China. A disputa não será apenas
militar, mas tecnológica”, apontou.
A visão predominante nos círculos de poder dos EUA, segundo Escobar, é a de consolidar a América Latina e a Europa como zonas de influência subordinadas, enquanto Rússia e China ampliam sua aliança com os BRICS e a Eurásia. A tentativa de transformar Taiwan em uma “nova Ucrânia” para conter Pequim seria parte dessa estratégia, mas a China não estaria disposta a cair na armadilha ocidental.
O futuro das relações EUA-Rússia
Por fim, Escobar alertou para o risco
crescente de uma ruptura total nas relações entre Washington e Moscou. O
vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, já declarou
que as relações entre os dois países estão no limite da quebra. Caso Trump siga
sua abordagem errática, pode tanto aprofundar o confronto quanto abrir margem
para negociações mais pragmáticas. “Se houver um mínimo de respeito mútuo, pode
haver um reequilíbrio na relação, mas se Trump insistir em sua postura beligerante,
Moscou seguirá avançando no campo de batalha”, concluiu.
A geopolítica global segue cada vez mais
imprevisível, mas para Trump, uma coisa continua certa: siga o dinheiro, e você
entenderá seus próximos passos. Assista:
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