O próximo presidente da Câmara pode sempre ser pior...
Por Tereza Cruvinel
09 de fevereiro de
2025

Hugo Motta (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
Hugo Mota é um
estelionatário. Mal tomou posse na presidência da Câmara ele tirou a máscara
com que concorreu ao cargo e está mostrando a verdadeira cara. Como
candidato, ele fugiu de compromissos programáticos e temas polêmicos,
conquistando o apoio de quase todos os partidos, inclusive o do PT. Empossado,
passou a ter opinião sobre tudo, a defender projetos favoráveis aos
bolsonaristas e a criticar o governo Lula. Mostrando as garras, ele agora
ofende o STF dizendo que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro e ousa
questionar as penas impostas aos golpistas que já foram julgados.
Enquanto era
candidato, ele se fingiu de morto ou de sonso, evitando emitir opinião sobre
temas mais polêmicos. Jurou não ter prometido ao PL colocar em tramitação o
projeto que anistia os golpistas e nem ter prometido ao PT que congelaria o
projeto, deixando de instalar a comissão especial prevista pelo antecessor Lira
para examiná-lo. Ele continua tergiversando sobre o que fará, dizendo que
ouvirá a Casa e os líderes antes de decidir, mas na sexta-feira rasgou a
fantasia ao dizer que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro. Para ele,
houve ataque às instituições, mas não tentativa de golpe, o que exigiria a ação
de líderes e o envolvimento de instituições.
A dedução é óbvia.
Se não houve tentativa de golpe, os participantes não podem ser condenados por
isso. Logo, merecem anistia.
Hugo Motta tenta
engambelar o país jogando palavras ao vento. A Polícia Federal já demonstrou,
com fartura de provas, que a tentativa de golpe teve líderes. Apontou, entre
eles, o ex-presidente Bolsonaro, seu companheiro de chapa, general Braga Neto,
seu ex-ministro da justiça, Anderson Torres, e outros mais. E embora as
Forças Armadas não tenham embarcado no golpe enquanto instituições, a PF já
demonstrou o envolvimento de militares graduados, como o ex-comandante da
Marinha, Almir Garnier. Os comandantes das outras duas forças foram
pressionados, inclusive por Bolsonaro, a participarem do golpe, oficiais da
ativa cobraram o engajamento do Alto Comando do Exército e um general da ativa,
Mario Fernandes, do alto escalão palaciano, planejou o assassinato de Lula, de
seu vice Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moras.
Quando era
candidato, Hugo Motta não deu um pio contra o STF. Agora ele se permite dizer
que algumas penas impostas a golpistas pelo tribunal são “desproporcionais”.
Uma mulher que apenas passava pela Esplanada não pode ser condenada a 17
anos de prisão, disse ele distorcendo os fatos. O Supremo absolveu dois moradores
de rua que acabaram arrolados no processo, mas contra os outros que já foram
condenados, sobram provas. Sobram vídeos nítidos e em cores. Alguns estão
foragidos e tiveram até a oportunidade de firmar acordos que reduziriam as
penas.
Evitando opinar
sobre temas polêmicos, na campanha Motta recusou-se a comentar o projeto que
altera a lei da ficha limpa, reduzindo de 8 para 2 anos o prazo de
inelegibilidade para quem cometeu crimes de abuso do poder político ou
econômico em eleições. É o caso de Bolsonaro. Se o projeto for aprovado, poderá
permitir que ele dispute a Presidência em 2026. Poderá, porque não é certo que
a lei poderá retroagir para premiar Bolsonaro. A decisão seria do STF.
Na sexta-feira
passada, 7, Hugo Mota declarou uma rádio na Paraíba, seu estado, que oito anos
“são uma eternidade”, castigo duro demais. Novamente, não prometeu pautar o
projeto, que está na CCJ. Vai ouvir o colégio de líderes. Todos nós sabemos que
este colegiado é dominado pelos partidos do Centrão, que incluem o Republicanos
de Motta. Se ele quiser, fará a matéria avançar.
Da mesma forma, ele
nunca deu um pio sobre as propostas de mudança do sistema de governo. O
assunto, que vai e volta, agora ressurgiu em uma PEC que acabou de ser
apresentada com mais de 190 assinaturas. São necessárias 171. Sem se
comprometer, ele disse que o Brasil precisa mesmo discutir este tema, porque o
povo merece melhores governos.
Neste caso, acho
que Motta devia mesmo pensar antes de se comprometer. Muitos juristas acham que
o sistema de governo não pode ser alterado por emenda, pelo Congresso. A
Constituinte de 1987/88 literalmente rachou em relação ao tema. Os
presidencialistas ganharam por pouco mas aceitaram a realização de um
plebiscito cinco anos depois, em 1993, para confirmar a opção presidencialista.
O povo a confirmou. Para muitos juristas, e para alguns ministros do STF (pois
não se conhece o pensamento de todos a respeito), só outro plebiscito pode
alterar a decisão popular de 1993.
Hugo Motta comete
estelionatos eleitorais em série. Candidato, fugiu de temas econômicos e
fez elogios ao ministro Fernando Haddad. Agora está fazendo críticas à política
econômica e posando de fiscalista. Chegou a dizer que a Câmara não aprovará
mais nenhum projeto destinado a aumentar a arrecadação. O governo que trate de
gastar menos, disse ele. Isso já sugere que o governo terás problemas para
aprovar, por exemplo, o projeto que isenta de imposto de renda os trabalhadores
que ganham até cinco mil reais, promessa de campanha que Lula quer pagar.
Para compensar a perda de receita, o governo proporá que os mais ricos
paguem mais. Entre eles os que ganham supersalários e também os que nadam de
braçada com ganhos em dividendos, aluguel, aplicações financeiras e outras
mamatas.
Hugo Motta, ao
tomar posse, tentou elevar a própria estatura evocando Ulysses Guimarães, com
citações e a imitação do gesto mais famoso, o de erguer a Constituição ao
proclamá-la esconjurando a ditadura. Um dos ditos mais famosos de Ulysses é
este, sempre citado: “Você diz que esse Congresso é ruim porque ainda não viu o
próximo”.
Em uma semana no
cargo, Motta já nos tenta a fazer uma adaptação generosa para com Arthur Lira:
o próximo presidente da Câmara pode sempre ser pior.
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=L-jSGu8tLyc&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg&t=5s
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