(Foto: Reprodução) |
Por Joaquim de Carvalho
(Jornalista e Colunista do Portal 247)
Em 2022, morador de Paraisópolis foi morto quando
Tarcísio fazia campanha. Não foi atentado ao candidato, como divulgou
assessoria. Crime continua impune
27 de outubro de 2024
Juristas ouvidos pela imprensa são unânimes ao apontar que Tarcísio de Freitas cometeu abuso de poder político quando, em entrevista coletiva, disse que a facção criminosa PCC recomendou voto no candidato a prefeito Guilherme Boulos. O governador não apresentou provas e deu a declaração depois de votar ao lado de seu candidato, Ricardo Nunes.
Para os especialistas, resta à Justiça Eleitoral
decidir que tipo de punição aplicar. Uma possibilidade é a cassação da chapa de
Ricardo Nunes e a inelegibilidade dele e de Tarcísio de Freitas.
“Entendo como um absurdo do ponto de vista
eleitoral, fazer uma acusação agora, aparentemente sem provas, com finalidade
de produzir/influenciar o voto. Já existe ação de investigação judicial
eleitoral (AIJE) que apura eventual abuso do poder político, dos meios de
comunicação social. E pode acarretar como punição a cassação do
registro/diploma de quem for eleito, e a inelegibilidade dos responsáveis,
candidatos ou não”, afirmou ao UOL o advogado Alberto Rollo, professor de
Direito Eleitoral.
Outra questão que se coloca é por que o governador
disse algo tão grave aparentemente sem se importar com as consequências. Uma
resposta plausível é a certeza da impunidade. Em 2022, Tarcísio de Freitas se
elegeu governador com a ajuda de fake news, e não houve punição.
Alguns dias antes do comparecimento do eleitor às
urnas, um morador de Paraisópolis, Felipe Silva de Lima, foi morto com um tiro
nas costas, disparado por policiais ou seguranças da campanha do então
candidato a governador. E seus assessores divulgaram a versão de que Tarcísio
tinha sido alvo de um atentado do PCC.
Essa narrativa foi contestada pela Secretaria de
Segurança Pública, na época sob a condução do governo do PSDB. Para os
policiais, houve tiroteio, mas não um atentado ao então candidato a governador.
Tarcísio se elegeu, houve mudanças na Secretaria de
Segurança, troca de comando no inquérito policial, e a investigação foi
concluída sem apontar o autor do disparo. O Ministério Público concordou com a
conclusão, e a Justiça arquivou o inquérito.
A família nem sequer recebeu de volta o celular que
Felipe usava ou a moto que era dele e conduzia no momento do crime. Por pouco
não sobra para a imprensa. Um promotor eleitoral tentou me punir e a um
repórter da Folha de S. Paulo, por conta das respectivas coberturas
jornalísticas.
A denúncia desse promotor só não foi adiante porque
a equipe do advogado Fernando Fernandes conseguiu um habeas corpus.
Desta vez, a campanha de Guilherme Boulos pediu ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) punição a Tarcísio e punição também a Ricardo
Nunes, beneficiário do abuso do poder político.
O relator é o ministro Kássio Nunes Marques, que
acumula a vaga no TSE com a cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), que
ocupa por indicação de Jair Bolsonaro, o padrinho também de Tarcísio.
Nova impunidade à vista? Para o desembargador Alfredo Attié, em princípio, não. Para ele, o caso é tão grave que será difícil varrer para debaixo do tapete.
“A lei eleitoral pune fake news e abuso de poder
político. O ato do governador aponta o cometimento de ato ilícito eleitoral e
pode custar o mandato não apenas de Nunes, mas do próprio Governador”, afirmou
Attié, que é presidente da Academia Paulista de Direito.
“Cidadãs e cidadãos de São Paulo, que prezam a
Constituição e a Democracia e desejam que o liame de representação seja
legítimo, como exige o Estado Democrático de Direito, agora devem prestar
atenção no que fará o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral, para
resgatar a dignidade da eleição paulistana e da representação política
estadual”, acrescentou.
O governador de São Paulo é declaradamente a aposta
da elite financeira e de seus porta-vozes na imprensa corporativa em eleições
presidenciais. Tarcísio tem poder e prestígio, portanto, mas ninguém está acima
da lei.
E é preciso lembrar: o que o governador de São Paulo fez neste domingo é crime e deixá-lo impune é para o Judiciário a repetição do erro que já beneficiou, em outras ocasiões, Aécio Neves e Jair Bolsonaro. Deu no que deu. Não foi bom para o País.
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