Nathalia Urban (1987-2024) |
Jornalista exibia uma qualidade essencial, cada vez mais rara: a virtude clássica da coragem
29 de setembro de 2024
As circunstâncias da morte prematura, aos 36 anos, da jornalista Nathalia Urban, correspondente deste Brasil 247 na Escócia, ainda estão para ser inteiramente esclarecidas.
É necessário aguardar que os
responsáveis pela devida investigação policial realizem seu trabalho e
apresentem conclusões.
Este 247 defende que tudo seja feito
sem atropelos, com zelo, ética e respeito à memória de Nathalia, evitando
pré-julgamentos e especulações de toda ordem.
A comoção criada em torno de sua
morte, para além da perplexidade, advém da enorme tristeza da perda, o que tem
a ver também com as características de Nathalia como mulher e profissional.
Impressionava a todos seu ponto de vista singular, seu antiimperialismo sem
peias, a sua maneira destemida de expor as iniquidades do capitalismo e de seus
personagens. De tudo isso, sobressaía um autêntico carisma, um magnetismo que a
todos cativava e motivou a solidariedade até mesmo do presidente Lula e da
primeira-dama Janja.
Eram raros o empenho e a energia que
Nathalia imprimia ao trabalho, a precisão e completude das informações que
detinha, a qualidade das análises que oferecia ao público numa ampla gama de
temas internacionais. Era notável na apuração de informações que ela expunha
com explicitude incomum.
O choque por sua morte inesperada
tornou evidente a imensidão da perda. Nathalia era um tipo raro de profissional
íntegra, fiel à verdade, comprometida em desnudar até o fim os meandros e
artimanhas dos operadores de uma ordem internacional injusta e opressiva. Na
busca incessante da informação, Nathalia exibia uma qualidade essencial, cada
vez mais rara, inerente ao verdadeiro jornalismo: a virtude clássica da
coragem.
Em jornadas de entrega intensa,
requisitada no Brasil e no exterior, Nathalia não apenas comunicava. Ela o
fazia com a energia dos profissionais que chamam a atenção pelo dom de encarnar
e convencer pela reflexão informada, à qual ela sempre agregava detalhes
subestimados, ângulos inéditos ou perspectivas ocultadas pelo jornalismo
submetido a Washington.
Fez do seu trabalho uma trincheira na
defesa dos temas do Sul Global, das lutas da América Latina contra o
imperialismo, dos direitos das profissionais do sexo, na denúncia do
preconceito contra os imigrantes, de que ela mesmo foi vítima.
Por essas virtudes, Nathalia constitui um exemplo
não apenas para profissionais tão jovens como ela, mas para os de todas as
gerações. Sua trajetória vive como possibilidade de um jornalismo comprometido
com a verdade antes de tudo e com a criação intimorata de um mundo melhor.
Obrigado, Nathalia.
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