Um dos pais do Real expõe a farsa da tática para sabotar Lula
“Winston Fritsch
repete várias vezes que o discurso da questão fiscal é uma tapeação a serviço
do mercado”, escreve o colunista Moisés Mendes
Winston Fritsch (Foto: Reprodução/YouTube) |
É mais do que esclarecedora, é
demolidora a entrevista que o economista Winston Fritsch concedeu à Folha essa
semana. Um dos pais do Plano Real esclarece pelo que diz e pelo que não precisa
ser dito. Isso é o que ele diz:
“Não se pode dizer que os juros estão
onde estão por causa do fiscal. É por causa do choque da inflação pós-Covid. A
resposta do Banco Central, independente, foi dada um ano antes dos Estados
Unidos, e foi muito violenta. Mas funcionou. Só que, agora, para baixar, começa
o lero-lero de ‘pô, olha o fiscal’. Mas não foi o fiscal que fez a taxa subir.
Foi o choque exógeno da inflação. E com os juros americanos de curto prazo a
5,5%, não dá para baixar muito por aqui. Se baixa muito no Brasil, tem êxodo de
capital, o dólar vai para o espaço. É o que está acontecendo”.
O resto é complemento do seu argumento e nem precisaria estar aqui, para que se saiba o que ele não disse. O que Fritsch deixou subentendido é que toda a conversa sobre a questão fiscal, que sustenta a argumentação do mercado, do Banco Central e da grande mídia, é uma farsa. A ladainha fiscal não deveria ser usada para explicar a atual calibragem do juro. Mas é usada (e isso Fritsch não precisa dizer) para acossar e imobilizar o governo, jogá-lo às hienas da Faria Lima e criar manchetes com a sabotagem de Folha, Globo e Estadão. O que fica claro na entrevista é que o argumento da direita é usado para inviabilizar o governo e culpá-lo publicamente pelo juro alto. Quem diz não é um economista de esquerda.
Vamos seguir em frente com a
explicação de Fritsch, que leva a um desfecho arrasador:
“Toda vez que aparece a ideia de que
o juro vai cair, o dólar sobe. Virou uma espécie de armadilha. Porque veio a
crise, o juro subiu. Os americanos subiram, e temos agora um patamar que é dado
pela conta de capital, não mais pela economia interna. Então, tem que ficar
esperando o Fed (o BC americano) baixar o juro para a gente ir atrás”.
E chegamos então ao gran finale da
entrevista, quando o entrevistador Fernando Canzian insiste em dizer que “o
calcanhar de Aquiles continua sendo o fiscal”. Eis o trecho com a resposta:
“Agora, o juro está alto por causa do
fiscal? Bullshit (bobagem). Está alto pela taxa do Fed a 5,5% ao ano. Mas
aparece todo o discurso conservador da Faria Lima”.
Vamos repetir: a questão fiscal é uma
asneira, uma conversa fiada, uma farsa. Mas mesmo assim o que prevalece, com a
insistência em torno do corte de gastos, é “o discurso conservador da Faria
Lima”.
Fritsch define a defesa do arrocho
fiscal, com cortes na educação e na saúde, como propõem os jornalões, como
discurso conservador do mercado financeiro, porque é uma pessoa educada.
É mais do que isso, é a pregação
rentista, que concilia interesses imediatos dos donos do dinheiro com os
interesses políticos do bolsonarismo articulado com Roberto Campos Neto.
O que Fritsch reafirma várias vezes é
que o principal argumento para que os juros sejam altos é falso. O que ele não
precisa dizer é que nunca antes um argumento pretensamente econômico do mercado
financeiro e do BC se prestou tanto ao ativismo político de direita e extrema
direita como agora.
Só o que faltou na fala de Fritsch
foi uma referência direta a Campos Neto, que é apenas o capataz do mercado e
está a caminho de colocação num emprego do bolsonarismo, como fez Sergio Moro.
A Folha deu à entrevista esse título:
“Há tarefas inacabadas, mas juro alto não é problema só do fiscal, diz um dos
pais do Real”.
Essa relativização, essa história de
“não é problema só do fiscal”, não aparece em nenhuma frase e nem poderia ser
usada como resumo do que disse o economista. Fritsch não diz nada disso. Não
tem nada de não é ‘só’ do fiscal. O que tem é: o juro alto hoje não é culpa da
questão fiscal.
O que ele repete está nessa sequência
de frases. Vamos ler de novo. Primeira frase: “E não se pode dizer que os juros
estão onde estão por causa do fiscal”. Segunda frase: “Mas não foi o fiscal que
fez a taxa subir”. E a terceira e definitiva frase: “Agora, o juro está alto
por causa do fiscal? Bullshit”. Ou dito sem volteios: é uma conversa de merda
mesmo.
O resumo da entrevista, para rimar com tapeação e
bobagem, é esse: a tática do mercado, do BC e das corporações de mídia é parte
da sabotagem.
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