Em agosto do ano passado, um relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou quase R$ 100 milhões em contratos sem licitação
17 de março de 2024
Nísia Trindade, ministra da Saúde (Foto: Marcelo
Camargo/Ag. Brasil)
Agenda do Poder - Para colocar
fim ao histórico feudo de deputados no controle dos hospitais federais do Rio,
com indicações políticas para cargos de direção, especialmente para o
departamento de compras, a ministra Nísia Trindade decretou uma espécie de
intervenção nas unidades. O interventor será o secretário nacional de Atenção
Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães, que, entre outras tarefas, vai
unificar as compras esvaziando o poder dos diretores apadrinhados por
políticos.
Os hospitais federais do Rio
frequentemente aparecem no noticiário por denúncias de corrupção. Um dos
últimos escândalos aconteceu no fim de maio do ano passado, quando o
diretor-geral do Hospital Cardoso Fontes, Gustavo Albino Pinto Magalhães, pediu
exoneração em meio a denúncias sobre a realização de uma obra feita sem licitação
para instalar isolamento acústico em seu gabinete.
Enquanto o diretor se dava esse luxo,
os pacientes da unidade sofrem com a falta de itens como algodão, fralda,
luvas, agulhas, soro fisiológico, avental descartável para cirurgias, fio de
nylon, entre outros. Em agosto do ano passado, um relatório da área técnica do
Tribunal de Contas da União (TCU) identificou quase
Em agosto do ano passado, um
relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou
quase R$ 100 milhões em contratos sem licitação entre 2019 e 2021 no Hospital
Geral de Bonsucesso, que durante o governo de Jair Bolsonaro, era controlado
por apadrinhados do senador Flávio Bolsonaro, que teria indicado os três
ex-superintendentes do Ministério da Saúde no estado e o coordenador-geral dos
hospitais federais à época, Marcelo Lamberti.
- Avaliamos que as unidades têm
muitos problemas, não temos por que esconder isso. Elas sofreram deterioração
muito agressiva nos últimos anos. Estive nessa mesma posição entre 2011 e 2014,
e os hospitais hoje são muito piores do ponto de vista da performance do que
eram antes – afirma o secretário nacional de Atenção Especializada à Saúde,
Helvécio Magalhães.
O secretário do ministério foi
designado para chefiar o novo comitê, que tem ainda o DGH, diversos setores da
pasta e a superintendência do Rio. O objetivo principal é implementar com mais
calma a portaria, antes prevista para 14 de março, depois adiada para 8 de
abril e agora com prazo menos rígido para entrar em voga, além de impor
mudanças mais abrangentes nas unidades.
Entre os pontos da portaria, a maior
alteração envolve as compras realizadas pelos hospitais. No modelo atual, cada
unidade tem autonomia quase total, o que acaba encarecendo produtos e
despadronizando a rede.
– Esse processo de centralização de
compras no DGH existia no nosso período anterior, mas no último governo foi
transferido para cada hospital, e me parece que esse é o motivo principal para
fechamento de leitos, falta de abastecimento, entre outros problemas – avalia
Magalhães. – Tem também a questão de pessoal. Estamos com edital para contratar
cerca de 500 profissionais de Saúde.
Dar tempo para as mudanças, diz o
secretário, é importante para evitar riscos de piora no abastecimento, garantir
a realização dos projetos vigentes e dar mais segurança jurídica às alterações.
A suposta pressa para mudar o funcionamento das unidades foi um dos motivos que
motivaram críticas à gestão Nísia por parte de setores sindicais e do PT,
partido que tem influência em nomeações para os hospitais.
A atuação do chefe do DGH, Alexandre
Telles, entrou na mira desses grupos. Com o reforço no processo de intervenção
nas unidades, o ministério avaliza e dá uma nova chance a Telles, mas o
secretário Magalhães afirma que “ninguém tem lugar garantido”, quando
perguntado sobre possíveis trocas.
– Ele não tinha todos os instrumentos para melhorar
a rede, já que todas as compras eram descentralizadas. Contamos com ele e vamos
continuar avaliando cada equipe de direção de cada hospital. Ninguém tem lugar
garantido.
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