Atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 (Foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil)
"Eles não só embarcaram naqueles ônibus para uma viagem rumo a Brasília para a “Tomada pelo Povo”, mas também rumo ao submundo do golpe", escreve Denise Assis
3 de janeiro de 2024
Tendo como objetivo a “tomada” do poder, lideranças
do Movimento Brasileiro Verde e Amarelo (MBVA), ruma para Brasília, após o
resultado da eleição de 2022. Inconformados com a derrota para o candidato
progressista, Luiz Inácio Lula da Silva, se articularam por redes sociais. São
pessoas que detêm capital econômico e influência política em seus locais de
atuação. Como ferramenta de mobilização, além das redes, contaram com o
programa “Sucesso no Campo”, transmitido em TV aberta e em mídia social. O
programa divulga líderes, pautas e convocações do grupo para manifestações.
Formado sobretudo por sojicultores do Centro-Oeste,
naturais do Rio Grande do Sul, contam com as principais lideranças e fundadores
do MBVA: Antônio Galvan (sojicultor em Sinop/MT, presidente da Aprosoja
Brasil); Jeferson da Rocha (advogado em Florianópolis e porta-voz do grupo);
Vitor Geraldo Gaiardo (sojicultor e presidente do Sindicato Rural de Jataí/GO);
Humberto Falcão (sojicultor em Primavera do Leste/MT e proprietário de empresa
de sementes); Luciano Jayme Guimarães (sojicultor em Rio Verde/GO e presidente
do Sindicato Rural de Rio Verde) e José Alípio Fernandes da Silveira
(sojicultor em Barreiras/BA e presidente da Andaterra). Todos os empresários
bem-sucedidos e de muitos recursos, ligados ao agronegócio, embora ocupem,
ainda assim, posições secundárias num setor decisivo para a balança comercial
do Brasil.
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O MBVA tem capital próprio e rede de contato com
elevada capacidade de arrecadação de recursos. Desse modo, as lideranças do
MBVA articularam diversos atos públicos de apoio ao ex-presidente Bolsonaro e
em defesa de pautas antidemocráticas, como a intervenção militar. Para se ter
noção do seu poder de mobilização, o movimento organizou atos em Brasília que
contaram com deslocamento de máquinas agrícolas, caminhões e caravanas desde as
suas áreas de influência. A partir da articulação da sua rede de contatos nas
Aprosojas e nos sindicatos rurais, o grupo demandou e coordenou doações em suas
bases.
O ato denominado por eles de “Tomada pelo Povo”,
convocado para 8 de janeiro de 2023, em Brasília, foi tentativa de reavivar o
movimento de contestação do resultado eleitoral em curso desde o término da
eleição presidencial em 30 de outubro de 2022. Para os dias 7, 8 e 9 de janeiro
de 2023, foram organizados bloqueios de acessos a refinarias e bases de
distribuição de combustíveis em todo o país, assim como caravanas com destino a
Brasília, tendo como objetivo reverter tendência de esvaziamento do acampamento
em frente ao Quartel-General do Exército.
De acordo com a documentação das investigações
desses episódios, por autoridades, “a partir do acampamento, os manifestantes
planejaram dirigir-se à Esplanada dos Ministérios e declararam intenção de
invadir o Congresso Nacional. Foram identificados os contratantes de 103 ônibus
fretados que chegaram à capital entre 4 e 8 de janeiro de 2023, transportando
3.875 pessoas. Os indivíduos e organizações que contrataram mais de um veículo foram:
Pedro Luiz Kurunczi (4); Marcelo Panho (2); Marcos Oliveira Queiroz (2) e
Sindicato Rural de Castro (2)”.
(Observem que o mapa em que aparece a localização
dos contratantes foi confeccionado já no dia 10 de janeiro de 2023, pela Abin.
O que demonstra agilidade nos trabalhos de investigação e apresentação de
resultados). OBS.: Vide link abaixo.
Os investigadores chamam a atenção para “a grande
pulverização dos contratantes de fretados. “Foram observadas, nos últimos dias,
diversas iniciativas de financiamento coletivo para as caravanas. No entanto,
existem também indícios de contratação de múltiplos fretamentos de uma só vez, havendo disponibilização de
transporte alegadamente gratuito a quem se dispusesse a viajar. Considerando
esses fatores, é provável que diversos contratantes tenham sido utilizados como
"laranjas" com objetivo de ocultar os verdadeiros financiadores das
caravanas e dos manifestantes”.
Logo abaixo vocês poderão conferir a listagem dos
que contrataram ônibus para os atos golpistas por CNPJ. Da tabela constam
também: razão social, CPF do contratante e vínculo com a empresa ou
instituição. Foi apurado que 83 indivíduos contrataram 89 ônibus fretados por
CNPJ: vide link abaixo.
A investigação ainda arregimentou uma listagem de
99 páginas, demonstrando nome a nome, com CPFs e origem de emissão do
documento, quem foram essas pessoas que, vestidas com as cores verde e amarelo
gritaram pelo retorno do controle militar do país e por uma ditadura que a
maioria não viveu. Na verdade, o que buscavam era o fim da democracia, tendo à
frente o ditador Jair Messias. Esse era o desejo.
Nas 99 páginas – que não estarão aqui publicadas
dado o volume de imagens que seria necessário reproduzir para exibir o
documento completo -, com as listas de passageiros dos ônibus fretados, constam
centenas de pessoas comuns: médicos, veterinários, vereadores, dentistas,
professores, pequenos empresários...
Eles não só embarcaram naqueles ônibus para uma
viagem rumo a Brasília para a “Tomada pelo Povo”, mas também rumo ao submundo
de uma tentativa de golpe e, dali, com as ações frustradas -, para o bem da
democracia e do país -, para as prisões oficiais, de onde 30 já saíram
condenados e centenas ainda aguardam julgamento. Um ano depois, o Brasil
ainda se recorda atordoado das imagens de terror vistas ao vivo, após o almoço
de domingo. Escapamos por um triz. O Brasil segue sua história.
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