Folha de São Paulo - História por IGOR GIELOW
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - O
ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, afirmou nesta sexta (3) que o complô envolvendo
Jair Bolsonaro (PL) relatado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) foi uma
"tentativa Tabajara" de golpe.
O termos alude às Organizações
Tabajara, empresa fictícia clássica do humor do grupo Casseta & Planeta,
que virou sinônimo de qualquer ação farsesca.
Foi sua primeira manifestação pública após a revelação de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em que foi discutido uma trama golpista para revogar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito do ano passado, que incluía gravar Moraes ilegalmente para constrangê-lo.
O caso foi revelado, ainda que com
vaivém de versões, pelo senador Do Val, que relatou reunião não negada pela
parte com Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi preso na
quinta (2).
Moraes deu detalhes da abordagem que
sofreu por parte de Do Val. "Ele solicitou uma audiência como outros
deputados e senadores, eu o recebi no Salão Branco [do Supremo]", afirmou,
dizendo que o senador lhe citou a reunião com Bolsonaro e Silveira.
"[Eles tiveram] A ideia genial
de colocar uma escuta no senador [para grampeá-lo] e, a partir dessa gravação,
pudesse solicitar minha retirada da presidência dos inquéritos [das fake news e
atos antidemocráticos]", afirmou.
Moraes diz ter solicitado um
depoimento a Do Val, mas que ele se recusou. "Disse que era uma questão de
inteligência e não poderia confirmar. O que não é oficial, não existe",
disse Moraes, falando por videoconferência em evento do Lide, organização
empresarial capitaneada pelo ex-governador João Doria (SP), em Lisboa.
Agora, contudo, ele afirma que a
Polícia Federal seguirá investigando o caso. Falou de forma mais geral das
apurações sobre atos antidemocráticos e golpistas. "As investigações da PF
continuarão e vamos analisar a responsabilidade de todos aqueles que se
envolveram na tentativa de golpe. Temos informações adiantadíssimas sobre os
financiadores, desde o ano passado", afirmou.
Vídeo
relacionado: Alexandre de Moraes confirma que Marcos do Val o procurou
para denunciar 'Operação Tabajara' (Dailymotion)
Em sua fala e respondendo a questões
posteriores, Moraes defendeu o rigor no trato com os golpistas. "As
pessoas têm todo direito de criticar o Supremo, mas ninguém tem direito de
agredir verbalmente ou fisicamente um ministro do Supremo, ameaçar a família de
ministros", afirmou.
"Os golpistas confundem a
liberdade de expressão de poder criticar os ministros e suas decisões a poder
ameaçá-los morte na frente de sua casa. As pessoas que agem assim devem ser
presas e responsabilizadas. Só assim vão aprender", disse.
Ele defendeu um novo conjunto de
leis, que será proposto pelo TSE ao Congresso, para responsabilizar autoridades
que trabalhem pela corrosão da democracia.
"Temos instrumentos para ataques
externos à democracia, como lei marcial, um fortalecimento do Executivo em
situações emergenciais. Isso vem desde a Roma antiga. Mas como tratar das
agressões internas, da corrosão da democracia? Há a necessidade de novos
instrumentos normativos. Essas autoridades precisam ser mais rapidamente
responsabilizadas", afirmou.
Ele citou abusos "do próprio
Legislativo, de alguns membros que deturpam suas prerrogativas para atacar a
democracia", afirmou. Na véspera, ele havia mandado prender Silveira por
descumprir medidas restritivas ao ex-deputado no âmbito do inquérito das fake
news e atos antidemocráticos, que preside.
Moraes defendeu ser necessária uma
lei internacional. "Da mesma forma que se combate o tráfico internacional
de drogas, é importante ter o combate ao tráfico internacional de ideias contra
a democracia", disse.
Ele repassou suas críticas às redes
sociais. "Estamos gastando mais energia para defender algo que
considerávamos consolidado, as instituições democráticas, essa energia acaba
sendo utilizada em vários lugares do mundo para combater políticos populistas
no Executivo. É uma perda de energia, que demorará décadas para ser
solucionada."
"Estudos coordenados,
lamentavelmente eficientes, da extrema direita americana ao analisar o papel
das redes sociais nas Primaveras Árabes [movimentos do começo da década de
2010]. O que surgiu de uma maneira democrática foi capturado pelos populistas e
transformado num mecanismo de lavagem cerebral, que transformou pessoas em
zumbis, que cantam o Hino Nacional para pneus", disse.
Para ele, "o que poderia ser uma
comédia, resultou numa tragédia, a tentativa frustrada de golpe no dia 8 de
janeiro".
O jornalista Igor Gielow viaja a
convite do Lide
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