História por AFP
Lula deu uma resposta firme aos ataques de 8 de
janeiro© Sergio Lima
Bolsonaristas radicais vandalizaram
as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em seus esforços para obstruir a
presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, para analistas, o tiro pode ter
saído pela culatra.
Uma semana após a posse de Lula, que
combinou pompa institucional com festa popular no Distrito Federal, milhares de
seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e saquearam o Palácio do
Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, inconformados com a derrota
eleitoral.
Lula durante sua posse, em 1º de janeiro de 2023,
em Brasília© CARL DE SOUZA
As imagens, que correram o mundo,
deram logo lugar a outra cena poderosa: Lula, descendo a rampa do Planalto, o
palácio presidencial, até a Praça dos Três Poderes, ao lado dos chefes dos
poderes Legislativo e Judiciário.
Juntos, eles reafirmaram que a jovem
democracia não seria derrotada no Brasil, quase quatro décadas após o fim da
ditadura militar.
"É claro que os atos de domingo (8 de janeiro) tiveram o efeito inverso" ao que se buscava, disse à AFP Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Lula certamente saiu reforçado.
Há um clima de união nacional em defesa da democracia", avalia.
No exterior, a condenação foi
unânime. Washington, Moscou, Pequim, União Europeia e capitais da América
Latina expressaram seu apoio ao presidente do Brasil, que havia se isolado do
mundo sob Bolsonaro.
“A comoção internacional certamente
reforça a posição de Lula, como uma liderança importante que atua no
fortalecimento dos foros multilaterais”, afirma Goulart.
- Apoio unânime -
Leandro Gabiati, da consultoria
Dominium, também considera que a imagem de Lula no exterior saiu "reforçada"
por ter dado uma resposta firme, mas equilibrada, após os ataques. A de
Bolsonaro, por outro lado, piorou.
Internamente, Lula obteve "apoio unânime" de todas as classes políticas e do setor financeiro, acrescenta.
E também da população brasileira, que
em sua grande maioria, ficou chocada com as imagens de violência contra as
instituições.
“Lula foi testado e até aqui ele vem
se saindo relativamente bem”, estima Gabiati, para quem o presidente mostrou
uma “postura ponderada” que de certa forma permitiu “retomar a normalidade”.
Nos prédios do governo ainda com
danos visíveis dias após a investida dos bolsonaristas, os ministros de Lula
tomaram posse em cerimônias oficiais. Falaram sobre o "golpe" e
avisaram que o governo não seria detido.
O governo Lula tem sido firme: os
"fascistas" considerados culpados pelo atentado em Brasília poderão
pegar penas de até 30 anos de prisão por "terrorismo".
Enquanto as autoridades fecham o
cerco em torno dos financiadores e organizadores, as forças de segurança se
preparam para uma reorganização e a segurança do palácio presidencial será
esvaziada de bolsonaristas.
Em poucos dias, cerca de duas mil
pessoas foram detidas e mais de mil permaneciam sob custódia policial.
"Lula terá que tomar junto com
os três poderes decisões de punição exemplar, para inibir que novos atos desse
tipo se repitam", diz Gabiati.
- País dividido -
Porém, nada garante que essa unidade
nacional perdure. Lula ainda terá a difícil tarefa de sanar um país de fortes
divisões, aprofundadas após uma amarga campanha eleitoral repleta de
desinformação.
Os elementos mais radicais do
movimento bolsonarista, determinados a continuar a cruzada contra o
“comunismo”, o “corrupto” Lula e o sistema eleitoral, não dão sinais de
desaparecer.
"O movimento segue existindo e
provavelmente podemos esperar algum tipo de distúrbio de baixa intensidade,
protestos e algum tipo de violência", aponta Michael Shifter, do Diálogo
Interamericano. "Não acho que vá desaparecer."
Para a consultoria Eurasia, os
acontecimentos de 8 de janeiro são “um forte lembrete que Lula enfrenta um país
profundamente polarizado”.
O líder de esquerda venceu a eleição
presidencial com 60 milhões de votos, contra 58 milhões de Bolsonaro.
Com poucos dias de governo, “a
energia gasta na condenação, na investigação desses atos golpistas, ela é
necessária”, acredita Goulart.
Mas isso "não pode
contaminar" os objetivos do novo governo de combater os problemas urgentes
da maior economia latino-americana, como a fome e a pobreza.
pt-lg/rsr/pr/ic
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