Confira o que Lula disse durante a solenidade de diplomação no TSE, nesta segunda-feira (12)
Publicado em 12/12/2022
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de diplomação no TSE (Foto: TSE - Secom)
Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo
brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil.
Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da
ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado
por não ter diploma universitário – o diploma de presidente da
República.Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu
vice Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a
campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais
desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para
todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados.Quero dizer que muito mais
que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da
democracia.Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão
ameaçada.Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à
prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida.
A democracia não nasce por geração espontânea. Ela
precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, a cada
dia, para que a colheita seja generosa para todos.
Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito
carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam,
a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.
Felizmente, não faltou quem a defendesse neste
momento tão grave da nossa história.
Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu
o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do
arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal
Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões
para fazer valer a soberania do voto popular.
Essa não foi uma eleição entre candidatos de
partidos políticos com programas distintos. Foi a disputa entre duas visões de
mundo e de governo.
De um lado, o projeto de reconstrução do país, com
ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país
ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais
vista ao longo de nossa história.
Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de
última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de
votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro
farto, desviado do orçamento público.
Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de
suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária,
caso contrariassem os interesses de seus empregadores.
Quando se esperava um debate político democrático,
a Nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.
Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu
uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa
história.
E no entanto, a democracia venceu.
O resultado destas eleições não foi apenas a
vitória de um candidato ou de um partido. Tive o privilégio de ser apoiado por
uma frente de 12 partidos no primeiro turno, aos quais se somaram mais dois na
segunda etapa.
Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo,
que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece
o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais,
cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares
deste país.
Tenho consciência de que essa frente se formou em
torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha
luta e o destino do Brasil.
Nestas semanas em que o Gabinete de Transição vem
escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado
processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de
desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.
Soma-se a este legado perverso, que recai
principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às
instituições democráticas.
Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda
haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.
A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do
planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.
Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos,
os inimigos da democracia se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos
mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas
digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável.
A máquina de ataques à democracia não tem pátria
nem fronteiras.
O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras
da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação
internacional mais dura e eficiente.
Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa
intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre
acesso à informação de qualidade, sem mentiras e manipulações que levam ao ódio
e à violência política.
Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós,
no Brasil, e em nossas relações multilaterais.
A importância do Brasil neste cenário global é
inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso
processo eleitoral.
Precisamos de instituições fortes e
representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente
sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias.
Precisamos de coragem.
É necessário tirar uma lição deste período recente
em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral. Para nunca mais
esquecermos. Para que nunca mais aconteça.
Democracia, por definição, é o governo do povo, por
meio da eleição de seus representantes. Mas precisamos ir além dos dicionários.
O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer
participação ativa nas decisões de governo.
É preciso entender que democracia é muito mais do
que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta
de saúde, educação, segurança, moradia. Democracia é ter alimentação de
qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia.
Quanto maior a participação popular, maior o
entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela
como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo.
A democracia só tem sentido, e será defendida pelo
povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e
oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor,
crença religiosa ou orientação sexual.
É com o compromisso de construir um verdadeiro
Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas
as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente
eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo
brasileiro.
Muito obrigado.
Luiz Inácio Lula da Silva
https://www.youtube.com/watch?v=k2HxknjXp8M&t=1s TV 247 em 12.02.22. Leonardo Attuch, Gisele
Frederice e Marcelo Auler.
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