EXTRA - Sérgio Roxo, Rafael Garcia, Paula Ferreira, Eduardo Gonçalves, Bruno Góes, Ana Lúcia Azevedo e Rafael Soares
dom., 6 de novembro de 2022
O governo do presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) planeja para as primeiras semanas após a posse um
“revogaço” de portarias e decretos implantados ao longo da gestão de Jair
Bolsonaro. O foco será reverter iniciativas que facilitaram o acesso a armas,
dificultaram o combate ao desmatamento e impuseram sigilos a informações.
O cancelamento dessas medidas depende
apenas da decisão do Executivo, sem necessidade de construção de uma maioria
parlamentar. A lista exata de normas que serão derrubadas ou modificadas
começará a ser decidida nesta semana, com o início dos trabalhos da equipe de
transição coordenada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. Cinquenta
pessoas vão preparar uma radiografia do atual governo.
Uma das bandeiras da campanha de
Lula, a redução do número de armas em circulação deve ser alcançada, entre
outras formas, por meio da mudança completa das políticas de Bolsonaro.
— O compromisso expresso na campanha
foi revogar decretos que facilitam o acesso a armas e munições — afirma o
deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que integrou o grupo responsável por discutir
propostas para a segurança pública.
Em entrevista ao GLOBO na semana
passada, o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), cotado para o Ministério da
Justiça, classificou de “imprescindível” a revisão de regras no setor. O
Anuário Brasileiro de Segurança Pública diz que o controle da posse de armas
foi “desmantelado”, fazendo com que civis e Caçadores, Atiradores e
Colecionadores (CACs) tenham em mãos um arsenal superior ao de órgãos públicos.
Ao todo, foram editados 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções e três
instruções normativas.
Foi por meio de “canetadas”, por
exemplo, que Bolsonaro abriu caminho aos CACs. A quantidade a que a categoria
podia ter acesso passou de 16 armas, 40 mil projéteis e quatro quilos de
pólvora para 60 armas, 180 mil cartuchos e 20 quilos de pólvora. Com as
mudanças nas regras, o número de CACs cresceu de 117 mil em 2018 para mais de
673 mil até junho de 2022 — as armas registradas pelo grupo saltaram de 350 mil
para mais de 1 milhão no período.
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— Precisamos repensar o controle de
munição. É preciso não apenas revogar, mas inovar para facilitar o rastreio de
cartuchos e tornar obrigatória a marcação da munição vendida no país — afirma o
policial federal Roberto Uchôa, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública.
Já o gerente do Instituto Sou da Paz,
Bruno Langeani, defende que até mesmo as mudanças barradas pelo Supremo
Tribunal federal (STF) precisam ser anuladas:
— A autorização para compras de armas
sem a justificativa de necessidade, por exemplo, caiu com uma decisão do
ministro Edson Fachin, mas precisa ser revogada para não causar confusão
jurídica. Além disso, a decisão proíbe compras de fuzis por civis, mas não
trata das armas já compradas, que estão em circulação. O novo governo vai
precisar se debruçar sobre isso.
Medidas ambientais
Na área ambiental, o deputado federal
Nilto Tatto (PT), um dos coordenadores do setor na campanha de Lula, elenca
como prioridade a revogação de dois atos do governo Bolsonaro — um que reduziu
o espaço da sociedade civil no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama); e
outro que prevê a anulação de multas ambientais avaliadas em mais de R$ 16
bilhões.
— Temos que trabalhar nisso agora no
início do governo, pois esses atos emperram as outras pautas — disse o
parlamentar, que irá junto com Lula à Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP27), no Egito.
Na conta do centro de pesquisa
independente Instituto Talanoa e do projeto Política por Inteiro, existem 401 atos
do Executivo emitidos entre 2019 e 2022 que precisam ser revistos “para a
reconstituição da agenda climática e ambiental brasileira”. Estão também na
lista normas que versam sobre direitos indígenas e facilitação ao garimpo,
dificultando a fiscalização.
Na opinião da pesquisadora Natalie
Unterstell, presidente do Talanoa, apesar da urgência em tratar muitas
questões, é preciso evitar a tomada de decisões importantes sem debate. A lista
de assuntos frágeis inclui a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), que
é a proposta oficial do Brasil de redução de emissões de CO2.
— Até se pode ir lá e jogar um ato
logo no primeiro dia colocando uma NDC nova, mas a gente entende que é
indispensável para isso refazer o diálogo com a sociedade — diz a cientista
A maior parte das normas infralegais
que precisam de revisão foram emitidas durante o primeiro ano e meio de
pandemia da Covid-19, quando o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles
propunha que o governo aproveitasse a situação de instabilidade para seguir
“passando a boiada” dos atos que flexibilizavam normas ambientais.
O Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Inesc) produziu um levantamento dessas medidas no ano passado.
Para Alessandra Cardoso, analista política da entidade, é preciso atuar fora do
Ministério do Meio Ambiente também:
— Muitas “boiadas” passaram no Incra,
na Funai, no Ministério da Economia... A gente tem que ter um olhar amplo para
o que foi esse desmonte e revertê-lo nos primeiros cem dias de governo.
Também está nas pretensões de Lula
revogar decretos que impuseram sigilos de cem anos a assuntos envolvendo o
governo federal. O petista chegou a prometer rever essas iniciativas nos
debates com Bolsonaro ao longo da campanha. Ficaram sob sigilo, entre outros
temas, a carteira de vacinação do presidente, o processo interno do Exército
sobre a participação do então general Eduardo Pazuello em manifestação ao lado
de Bolsonaro no Rio em maio de 2021, os crachás de acesso dos filhos de
Bolsonaro ao Palácio do Planalto e a investigação da Receita Federal contra o
senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Saúde e educação
Há pontos críticos ainda nas áreas de
saúde e educação, que não devem passar incólumes ao “revogaço”. O Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass) elabora um documento para entregar à
equipe de transição com políticas que, na opinião da organização, devem ser
revistas, como programas e portarias lançados pelo Ministério da Saúde sem
discussão com gestores locais, contrariando o que prevê a legislação. Um dos
pontos é a Rede de Atenção Materno Infantil (RAMI), que substituiu a Rede
Cegonha, criada em 2011 e reconhecida pelo sucesso em relação à atenção ao
pré-natal, parto e puerpério. Entre as críticas, estava o fato de a política
dar protagonismo a médicos obstetras sem prever atenção à criança por meio de
pediatras.
— Tivemos desmontagens no campo da
atenção básica, além da interrupção de programas na área de saúde da mulher. O
ministério destruiu a relação de gestão tripartite com municípios e estados.
Não é revogar por revanchismo, vamos ter que avaliar os atos. É para isso que
serve a transição: identificar os principais problemas — afirma o ex-ministro
da Saúde Arthur Chioro, que participou da construção do plano de governo de
Lula.
Na educação, um dos principais alvos deve ser a
Política Nacional de Alfabetização (PNA). Organizações como Todos pela Educação
e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que devem ter representantes na
equipe de transição, defendem a revogação. A PNA colocou como central a
aplicação do método fônico para alfabetizar crianças, modelo em que a
aprendizagem começa das letras e sílabas até chegar às palavras. Na época em
que foi lançada, a política foi criticada por gestores locais e estaduais por
ter desconsiderado as iniciativas que vinham sendo desenvolvidas por estados e
municípios a respeito do tema.
EM TEMPO: Na realidade o governo Bozo quer armar a população, preparando-a para um guerra civil. Outra coisa que precisa ser revogada é a instrução normativa que permite que as placas dos veículos sejam identificados com o nome "Brasil", ao invés da cidade de origem como era antigamente. Também deve ser reduzido os Clubes de Tiro. Por outro lado, o Exército precisa voltar a ter controle sobre as armas que se encontram em poder dos civis. Os Fascistas são assim mesmo, uma vez que só pensam em eliminar os outros e invocar o "Deus das Armas". É mesmo! Ou o "Capeta das Armas".
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