Por Natuza Nery (*)
Publicado em 21/10/2022 no G1
O bolsonarismo tem demonstrado alinhamento na reta
final da eleição presidencial, às vésperas do segundo turno, numa espécie de
vale-tudo para manter Jair Bolsonaro (PL) na
presidência.
E, para derrotar Lula (PT) no 2º
turno, há uma sintonia fina em ao menos três frentes:
·
propagar desinformação nas redes
sociais sobre o TSE;
·
manter o assíduo uso político da
religião, que vem desde o 1º turno;
·
assediar funcionários para que
votem a favor do presidente sob pena de punição.
Na quinta-feira (20), bolsonaristas fizeram dezenas
de postagens no Twitter com a expressão "Conteúdo removido pelo TSE",
para simular que haviam sido impedidos de postar por ordem do tribunal. Não
procede: quando a plataforma remove algum conteúdo do ar por decisão da Justiça
Eleitoral, a rede social coloca uma mensagem sobre desinformação diferente
dessa (e que aparece separado da publicação, não dentro dela).
Outro episódio se deu sobre uma suposta restrição
por parte do TSE que foi promovida pelo pastor mineiro André Valadão, que tem
mais de 5 milhões de seguidores no Facebook. Acionado na Justiça Eleitoral pelo
PT em razão de afirmações falsas sobre a campanha de Lula, o religioso foi
notificado pela Corte para se defender no processo. Em vez disso, postou um
novo vídeo com críticas ao PT que dizia ser uma retratação "a pedido do
TSE". O Instagram marcou o post de Valadão como falso.
Uso da religião
Valadão é um personagem importante por representar
duas frentes da ofensiva bolsonarista: a desinformação sobre censura e o uso da
religião para fazer proselitismo político em favor de um candidato, muitas
vezes com coação.
Pastores têm ameaçado fiéis que votam em Lula e
feito cultos similares a comícios para o atual presidente (como em Manaus e São Luís). Parte deles conta com a presença da
primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que viaja o país para discursar em igrejas
ao lado da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF).
Um dos mais recentes ocorreu em um estado chave:
Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país e único estado do Sudeste
em que Lula venceu Bolsonaro. O evento foi organizado pelo deputado federal
eleito Nikolas Ferreira (PL), ferrenho apoiador bolsonarista.
Na igreja católica, bolsonaristas interrompem
missas por acharem que os padres estão com discursos alinhados à esquerda.
Aconteceu em plena festa de Aparecida, no dia de Nossa Senhora Aparecida, com apoiadores
do presidente vaiando e xingando padres – e bebendo cerveja na basílica.
Ao mesmo tempo ocorre a explosão de assédio
eleitoral – com bolsonaristas como agentes principais. Em oito dias, as
denúncias ao Ministério Público do Trabalho saíram de 173 para 706.
Há exemplos de Norte a Sul: é empresário no
Tocantins que promete 15º salário, se Bolsonaro for eleito; na Bahia, ruralista
que ameaça "demitir sem dó" o empregado que votar Lula; e quem
obrigue funcionárias a gravar o voto com o celular no sutiã, também na Bahia.
Entre os assédios, Minas Gerais aparece com
destaque, outra vez: os casos locais de eleitores sendo pressionados quadruplicaram em uma semana. É Minas Gerais um dos focos do
bolsonarismo para virar votos de Lula para vencer em todo o Sudeste e
potencializar a votação nacional sobre o petista.
(*)
Comentarista de política e economia da GloboNews e da CBN
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