Curiosos e apoiadores somaram-se aos policiais no entorno da casa de Roberto Jefferson durante o domingo. Foto: Ricardo Moraes/Reuters© Fornecido por Estadão |
ESTADÃO - Fernando Abrucio (*)
Todo o ato do ex-deputado Roberto Jefferson,
desde as declarações
nazistas contra a ministra Cármen Lúcia, até sua reação à prisão
parece ser uma ação orquestrada para direcionar o foco da campanha para o STF
nesta última semana antes do segundo turno. Ao colocar-se como uma suposta
vítima de censura e de um inquérito que, segundo ele, seria ilegal, ele ataca a
democracia, tentando criar uma narrativa contrária à de frente ampla usada pela
campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
A própria ideia de reforçar os
ataques contra o Supremo vem circulando nos grupos bolsonaristas do Telegram há
dias, com uma articulação muito grande. No entanto, Jefferson se precipitou e
errou na execução do plano. Ao atirar com fuzil e granada contra a Polícia
Federal, o ex-deputado criou uma crise que inverteu a situação e hoje os holofotes
estão sobre ele, não sobre a Corte.
Isso embaralhou os planos dos
bolsonaristas radicais e deixou o próprio Jair Bolsonaro totalmente
perdido. A frase do presidente, de que não há fotos suas com Jefferson, é a
prova disso. Candidato à reeleição, ele não sabe como se posicionar neste
momento. Ao mesmo tempo em que diz não estar envolvido, envia seu ministro da
Justiça para intervir - algo que nunca foi feito, mesmo na prisão dos
ex-presidentes Lula e Michel Temer.
Além disso, o ato prejudica sua
campanha à reeleição. Bolsonaro já perdeu muitas horas de seu programa
eleitoral, por decisão do TSE, e agora terá de usar muito do tempo que ainda
restou para tentar explicar que não teria nada a ver com o golpe do ex-deputado.
Mas, apesar do problema de execução,
não se pode deixar enganar: a ação de Jefferson não foi uma simples resistência
à prisão. Foi, sim, uma reação inconstitucional contra o Judiciário, uma das
instituições do País. Isso tem nome, chama-se golpe de Estado. Um dos principais aliados de Bolsonaro
cometendo crime contra a democracia, com anuência de bolsonaristas.
As próximas horas serão quentes. A
violência pode escalar, com muita gente querendo agir como lobos solitários,
alimentados pela armas liberadas pelo governo e pelo seu discurso de ódio. Do
outro lado, o Supremo deve reagir e o clima vai acirrar. Em vez de uma Corte
acuada, os bolsonaristas terão de enfrentar um STF que vai pesar mais a mão,
com um processo de fake news que envolve o filho do presidente que pode sair a
qualquer momento.
Agora é hora de ver como a sociedade
vai reagir. O que está em jogo é a
ordem democrática. Se nós titubearmos agora, se não reagirmos fortemente
a essa tentativa de golpe perpetrada por Roberto Jefferson, a ordem democrática
vai para o ralo.
(*) Fernando Luiz Abrucio é doutor em Ciência Política pela USP, Professor
da FGV – EAESP e coordenador da área de Educação do Centro de Estudos de
Administração Pública e Governo (Ceapg)
EM TEMPO: A liberação de armas pelo governo atual tem o objetivo de estimular a guerra civil. A luta pelas Liberdades Democráticas deve ser permanente, mesmo após a possível vitória de Lula no dia 30.10.22
Acesse o link abaixo sobre o caso Roberto Jefferson.
https://www.youtube.com/watch?v=4rBGVRWK3uI&list=PL8UbssCaS2BbKnLDatsqZrlKLUwXtADjA
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