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ESTADÃO - João Villaverde (*)
A estratégia do voto útil ainda não
aconteceu, indica
a pesquisa Ipec, mas se ocorrer nos próximos dias será para
confirmar uma tendência cada vez mais clara: a de que Lula pode ser eleito já
em 1º turno. Há meses que o ex-presidente oscila entre 44-46% dos votos, algo
muito próximo do limite dos chamados “votos válidos” (que exclui os votos em
branco ou nulos). Agora, Lula subiu mais, chegando a 47% (ou 52% dos válidos).
Essa subida de Lula não ocorreu sobre o
eleitorado de outras candidaturas, mas sim sobre os pouquíssimos eleitores que
ainda não tinham se engajado por alguma candidatura em 2022. Eram só 6%, na
semana passada, os que ainda respondiam “nulo ou branco” mesmo depois de ouvir
o largo cardápio de nomes a disposição. Agora são apenas 5%. Pelo visto, Lula
abocanhou quem ainda estava descrente.
Há
poucos dias começou uma forte campanha petista pelo voto útil. A ideia é
persuadir os eleitores de Ciro
Gomes e de Simone
Tebet, que rejeitam Bolsonaro, para que votem em Lula já no 1º
turno. A ideia é clara: se você despreza tanto Bolsonaro, mesmo não tendo em
Lula sua primeira opção, evite a possibilidade de um 2º turno fazendo um voto
útil no ex-presidente.
Isso quer dizer que há um volume expressivo de eleitores, cerca
de 13 milhões de pessoas, que escutam os pesquisadores mencionarem os nomes de
Lula e Bolsonaro, mas optam por Ciro e Simone. Compreender por que essas
pessoas ainda não cederam aos apelos da chapa Lula-Alckmin é a missão principal
dos estrategistas petistas para as duas últimas semanas de campanha.
De acordo com a pesquisa Ipec, é possível que Lula seja eleito
em primeiro turno mesmo que não tenha qualquer migração de votos adicional de
Ciro e Simone. É por isso que, argumento aqui, a eventual estratégia do voto
útil levaria a uma confirmação, não a uma mudança de resultado. Ou seja, caso ganhe
alguns pontos adicionais por conta do voto útil, a chapa Lula-Alckmin estaria
eleita não com 51%, mas com 54% ou 55%. Venceria da mesma forma, mas com uma
distância maior.
O percentual de votos em Bolsonaro é pouco importante nesta
altura do campeonato: de nada adianta subir dos 31% que ele registra no Ipec,
para, digamos, 35% ou mesmo 40%. Lula ainda pode vencer em 1º turno. A única
estratégia que resta ao presidente que está agora fazendo comício em meio a um
funeral na Inglaterra não é virar votos de indecisos ou de quem quer seja, mas
sim reduzir a votação de Lula.
(*) JOÃO
VILLAVERDE É PROFESSOR E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO PELA
FGV-SP.
EM TEMPO: Quanto mais o Ciro bate em Lula, mais ele se afasta do seu eleitorado.
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