A história provou que conchavos sempre nos jogam no mesmo lugar: espaço para liberalismo, privilégio para classes abastadas e um país “altamente mais ou menos”
(Foto: Agência Brasil) |
10 de agosto de 2022
Por Denise Assis
(*), para o 247
O ministro Alexandre de Moraes, que assumirá o
comando do TSE no próximo dia 16, não é desafeto de Bolsonaro. Pelo simples
fato de que é ministro do Superior Tribunal Federal. E por ser ministro do STF,
não pode ser desafeto de A ou de B. Na função que ocupa atualmente não lhe cabe
ter humores para com nenhuma autoridade. Seja ela Bolsonaro, Luiz Inácio Lula
da Silva ou o Zé das Couves.
Sabemos que há chicanas e conchavos. Li,
recentemente, matéria em que o autor dizia que a relação dos militares com
Moares ficará mais leve porque o chefe do seu gabinete é um militar reformado
com bom trânsito e diálogo com o comando militar.
Ora dane-se o diálogo do chefe de gabinete de
Moraes com o comando militar. Não é das funções do chefe de gabinete do
ministro do STF ou do presidente do Tribunal Superior Eleitoral estabelecer
diálogos de compadrio com o comando militar. Ao comando militar cabe entender
de uma vez por todas:
- As Forças Armadas só terão algum papel nas
eleições – fora o que sempre desempenharam, o de garantir a ordem pública
para que elas transcorram com tranquilidade e colaborar no translado das
urnas aos rincões do país – e nada mais.
- Já foram chamadas para opinar indevidamente,
numa condescendência abusiva e subserviente do ministro Luiz Roberto Barroso.
O fizeram sem conhecimento de causa e aprofundamento técnico. Perderam
prazos de inspeção, desconheceram a natureza independente da tecnologia
das urnas com relação à internet e fizeram ameaças descabidas. Portanto,
já se imiscuíram que chega num processo que segundo a Constituição – e é a
ela que respondem os militares – deve ser conduzido unicamente pelo
TSE.
- Qualquer nova concessão a esse segmento será a
mesma sinalização que se dá a um chantagista. Ceda a uma das suas
exigências e nunca mais haverá sossego. É dar a mão e eles vão querer o
pé.
- Se o ministro Fachin, antes de sair, ceder a
qualquer dos absurdos que lhe estão sendo encaminhados – e mesmo que
absurdos não sejam – deixará para Moraes uma herança maldita de
subordinação e medo.
O mínimo que a sociedade espera é que o chefe de
gabinete do ministro Alexandre de Moraes permaneça nos limites de suas funções
e não caminhe até o “forte apache” de tristes lembranças para a geração de
1970, para tomar cafezinho e promover salamaleques. Que o novo presidente do
TSE leia com atenção e se atenha ao que consta na Constituição de 1988,
duramente construída a custa de muitas mortes, desaparecimentos,
abaixo-assinados, mobilizações e noites de discussões e trabalho nos movimentos
sociais.
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A história já provou que os conchavos sempre nos
jogam no mesmo lugar: o espaço para o liberalismo, o privilégio para as classes
abastadas e um país “altamente mais ou menos”.
É isto que engoliremos novamente? Um país em que o
dirigente cede, cede e cede, mais por carência afetiva do que em nome dos que
governa? É preciso ter em mente que, ao optarmos por seguir os trâmites e as
regras do jogo eleitoral, o mínimo que se espera é que a instituição que
comanda esse jogo, ou seja, o Tribunal Superior Eleitoral, nos corresponda
seguindo as regras estabelecidas na carta, e não novas regras que vão sendo
incluídas na súmula ao seu bel prazer.
O que se espera de Moraes é que realmente presida o
processo, isento de influências ou chantagens das Forças Armadas que, não por
acaso, gozam da mesma credibilidade (30%) na sociedade, hoje, que o núcleo de
apoiadores do governo autoritário a que seguem. Ou saem do gueto a que se
refugiaram e servem ao país, ou vão amargar a mesma imagem com a qual saíram da
ditadura que alimentaram e engordaram durante mais de 20 anos: a de
truculentos, corruptos e assassinos. Levaram cinquenta anos para se
apresentarem ao Brasil de roupa limpinha, para agora jogarem na lama,
novamente, as suas insígnias.
Ministro Alexandre de Moraes, presida o TSE e o
processo eleitoral que nos devolverá um Brasil depauperado, mas com dignidade e
altivez para recuperar-se com a autoridade conferida pelo seu povo, pelo voto
democrático.
(*) Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal
do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço
do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela
Democracia
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