As propostas
incluem até a possibilidade de a Petrobrás voltar a ser dona da refinaria da
Bahia, o maior ativo de refino vendido em 2021 pela empresa
5 de agosto de 2022
Lula e Petrobrás (Foto: Ricardo Stuckert | ABR)
Por Rafaella Barros, Reuters - Estudos sobre o setor de petróleo e gás no Brasil encomendados para municiar a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva vão sugerir ações para o fortalecimento do refino da Petrobras que incluem a abertura de conversas para a reversão de vendas de refinarias já realizadas pela empresa, disse à Reuters um dos coordenadores do trabalho e integrante do plano petista.
As análises para o
candidato do PT que lidera as pesquisas propõem também novos investimentos e a
retomada de projetos de refino abandonados pela Petrobras, depois que a empresa
decidiu focar na extração de petróleo do pré-sal, como forma de sair da crise
resultante da operação Lava Jato.
As propostas
incluem até a possibilidade de a Petrobras voltar a ser dona da refinaria da
Bahia, o maior ativo de refino vendido em 2021 pela empresa, hoje de
propriedade da Acelen, do grupo Mubadala, comentou William Nozaki, um dos
escolhidos para a construção do plano do petista para assuntos de Petrobras.
"Para alguns
ativos é possível que se faça uma consulta aos parceiros que adquiriram para
entender melhor a situação e saber se eles têm realmente interesse em
permanecer integralmente na operação. É o caso da Rlam (na Bahia)", disse
Nozaki, que também é coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos
de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ligado à Federação Única
dos Petroleiros (FUP).
A refinaria baiana foi o primeiro desinvestimento concluído pela Petrobras do grupo de oito refinarias que terão que ser vendidas pela empresa pelo acordo firmado com o Cade em 2019 para cessar o monopólio da empresa no refino brasileiro.
"É preciso
abrir uma conversa com o fundo Mubadala para saber quais as perspectivas deles,
se eles vão querer mesmo operar 100% da refinaria. É abrir diálogo com os
parceiros que compraram os ativos e avaliar completamente se existe alguma
possibilidade de retorno à Petrobras", disse Nozaki, em referência às
sugestões ao plano de governo de Lula, que está sendo finalizado.
"Mas a
orientação dada pelo presidente Lula é que nada vai ser feito de maneira
traumática para os acionistas e nem para os investimentos da Petrobras",
acrescentou o pesquisador.
O pesquisador
admitiu que é "difícil" a reversão das vendas das refinarias da
Petrobras, mas não impossível. A ideia é dialogar com os novos proprietários
antes de qualquer atitude.
"O presidente
Lula pediu para que colocássemos na mesa todas as opções disponíveis, do ponto
de vista técnico, para pensar em como enfrentar o problema da inflação de
combustíveis."
A inflação
acumulada em 12 meses no Brasil supera 11%, impulsionada também pelos
combustíveis, e tem sido problema que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta
mitigar com reduções de impostos em meio à sua tentativa de reeleição.
As diretrizes
técnicas apontarão também para a necessidade de reavaliação da venda de três
refinarias do acordo com o Cade, cujos processos de alienação estão mais
atrasados: Repar, no Paraná, Refap, no Rio Grande do Sul, e Rnest, em
Pernambuco. Além da refinaria baiana, a Petrobras já fechou acordos para vender
unidades no Amazonas (Reman), Paraná (SIX), Ceará (Lubnor) e Minas Gerais
(Regap), embora alguns processos dependam ainda de conclusão e aprovação de
autoridades.
OUTRAS MEDIDAS
Em função da
complexidade de uma retomada dos ativos, o conjunto de ações sobre refino deve
focar primeiramente no aumento da capacidade produtiva da Petrobras nas
refinarias ainda sob seu controle.
Uma das primeiras
medidas deve ser a análise do Fator de Utilização (chamado de FUT) de todas as
refinarias da Petrobras, de forma que ele acompanhe a média internacional,
entre 88% e 95% da capacidade máxima de produção de derivados.
"Com alguns
investimentos de modernização daquilo que já está em funcionamento no parque
brasileiro, é possível aumentar um percentual de produção para diminuir a nossa
importação", disse Nozaki.
Segundo o
pesquisador, o FUT médio das refinarias da Petrobras ficou na casa dos 60%
durante o governo Temer, mas aumentou no governo Bolsonaro justamente para
produzir mais combustíveis e reduzir a dependência externa.
Em seu relatório de
Produção e Vendas do segundo trimestre, a Petrobras afirmou que suas refinarias
alcançaram 97% de FUT no fim de junho, acrescentando que opera dentro de
capacidade máxima, considerando fatores como a segurança da operação, para bem
atender o mercado.
Um passo seguinte
de um eventual governo Lula seria uma reanálise da retomadas de obras de
refinarias da Petrobras que foram paralisadas por problemas de corrupção, como
a Premium II, no Ceará, e a do Polo Gaslub (antigo Comperj), no Rio de Janeiro,
este último apontado como grande foco do escândalo investigado pela Lava Jato,
que levou políticos, incluindo o próprio Lula, para prisão --posteriormente, o
petista teve os processos no âmbito da operação anulados pela Justiça.
"É menos
custoso concluir as obras e colocar em operação do que manter o ativo,
deixando-o sucatear", afirmou Nozaki, acrescentando que a retomada das
obras da Premium I, no Maranhão, é menos provável.
Por fim, também
integrará o rol de possibilidades a construção de novas refinarias, mas como
uma medida de médio e longo prazos. O próprio Lula já falou publicamente sobre
isso. "Mas isso em um terceiro momento, até porque a construção de uma
refinaria você inicia hoje e a conclusão ocorre em seis anos", disse
Nozaki.
EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO
Em relação à área
de exploração e produção, o estudo deve apontar que o foco deverá ser mantido
na área do pré-sal, o grande filão das reservas de petróleo do Brasil, e na
chamada Margem Equatorial, área de grande potencial produtivo que vai do Rio
Grande do Norte até o Amapá, mas que ainda não teve extração de óleo.
Segundo Nozaki, a
possibilidade de parcerias com o setor privado tanto em pesquisas quanto na
revitalização de campos, incluindo do pós-sal, está na mesa de discussões para
subsidiar o programa de Lula.
Tanto o foco no
pré-sal como a parceria para a revitalização de campos do pós-sal já são
atividades realizadas pela Petrobras atualmente.
As diretrizes a
serem entregues ao PT também vão apontar para investimentos em energia
renovável, com maior participação da Petrobras.
O foco no pré-sal
acabou deixando a Petrobras mais distante de investimentos em energia eólica e
solar, por exemplo, mas o pesquisador considera que este também é um caminho
importante a seguir, até para o enfrentamento às mudanças climáticas.
EM TEMPO: O Brasil precisa ser reconstruído no próximo governo Lula.
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