Não é de hoje que
se utiliza do medo como meio de amedrontar o eleitor, impedi-lo de votar, ou
mesmo como coação para que o eleitor vote contra sua livre e soberana vontade,
adverte José Dirceu
16/07/2022
A escalada contra a democracia
brasileira sob a presidência de Jair Bolsonaro, caminha para colocar em questão
as urnas eleitorais e por consequência as próprias eleições, sem as quais não
há democracia como nos 21 anos de ditadura militar.
A história do nosso próprio país nos
ensina que nenhuma manobra ou ameaça à democracia impede a sua volta, pode
apenas retardá-la. A questão é como e quando ela retorna e em que condições: se
será um simulacro ou uma democracia avançada com participação popular.
Nem o Ato Institucional nº 2 ou o
Pacote de Abril impediram o povo de votar majoritariamente contra a ditadura
derrotando a Arena e depois o PDS, seu sucessor, e dar maioria absoluta ao MDB
na Câmara e no Senado, em 1986, e na própria Assembleia Nacional Constituinte,
em 1988.
Nem a repressão e a proibição de
greve, de sindicatos livres, de liberdade de imprensa e de livre organização
dos partidos impediram os trabalhadores de dando ao PT e seus aliados 4
mandatos presidenciais que só cessaram via um golpe de força parlamentar judicial,
o golpe de 2016.
Hoje, o que assistimos abertamente é
à tentativa de se impedir as eleições de outubro, já que o candidato das forças
de extrema-direita e do núcleo militar que governa o país está a caminho da
derrota. O caminho escolhido para a tentativa de golpe vem sendo anunciado por
Bolsonaro desde 2018. Trata-se da acusação de fraude por meio das urnas
eletrônicas, acusação sem base real, indício ou prova.
O ministro da Defesa, em nome do
governo e queira ou não das Forças Armadas, tenta desmoralizar o TSE a cada
exigência que faz junto a ele. Suas investidas caminham no sentido de os
militares se imporem ao TSE na tutela do processo eleitoral, violando a
Constituição, que deu ao tribunal poderes para presidir as eleições conforme
leis aprovadas pelo Congresso Nacional.
Urna eletrônica
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Envergonha o país que os autores
desse descalabro sejam os militares, herdeiros do tenentismo e da Revolução de
1930 que instituiu o voto secreto e a Justiça Eleitoral. A urna eletrônica
representou um avanço extraordinário na informatização do processo contagem
manual dos votos e na contagem e registro manual nos mapas eleitorais, apesar
de o voto ser secreto.
Verdadeiras quadrilhas se
especializaram em falsificar os mapas eleitorais, transferindo votos de um
candidato a outro, compilando votos nulos ou brancos como voto de determinados
candidatos. Com a introdução da urna eletrônica em 1996, inicialmente nas
eleições municipais em algo como 50 municípios, iniciou-se o fim do processo
que tinha um subproduto tão perigoso quanto a fraude: a demora na apuração,
pretexto para colocar em dúvida a vitória do vencedor e tentar impedir a posse
do eleito. A demora na apuração também contribuía para aumentar os pedidos de
recontagem de votos e de anulação de urnas, transformando as eleições em um
processo inseguro, duvidoso e sujeito à contestação legal.
Tão grave quanto a tentativa do
governo e das Forças Armadas de desmoralizar o TSE e as urnas eletrônicas é a
crescente politização das forças policiais dos estados e da própria Polícia
Federal. O objetivo é arrastá-las para a atividade política, para a campanha de
descrédito das urnas eletrônicas e mesmo para a não-aceitação de uma derrota do
candidato governista.
Poder Judiciário via redes sociais e
fake news e do uso e abuso de pastores evangélicos que em seus púlpitos atacam
juízes. O exemplo para fermentar a cultura da mentira e do ódio vem de cima:
muitas vezes é o próprio presidente da República que, em suas chamadas lives,
comanda tais ataques ilegais e inconstitucionais.
O próprio filho do presidente,
deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), comandou um ato em Brasília em defesa das
armas, quando a trágica experiência de liberação geral da compra de armas nos
Estados Unidos prova exatamente o contrário –ou seja, de que é mais do que
necessário o controle restrito da venda de armas e de seu porte, que deve ser
permitido apenas em atividades de segurança pública e em casos mais do que
necessários.
Toda a pregação feita pelo deputado
em seu discurso estava associada ao ódio ao adversário e condicionada à
reeleição de seu pai. O movimento de expansão da venda de armas acompanha o
crescimento da implantação dos clubes de tiro e caça no país e estimula a
violência contra a oposição ao governo especialmente contra Lula e o PT e
seus aliados– e faz crescer no país os casos de crimes de ódio. Crimes não só
políticos, mas contra os negros e negras, as mulheres e a comunidade LGBTQI+.
A espiral de violência em decorrência
do discurso de ódio nos fez chegar ao crime vil e covarde contra o guarda
municipal Marcelo Arruda, tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, no Paraná, pela
simples razão de ser do PT e comemorar seu aniversário com o tema “Lula
Presidente”.
Crime de ódio
O assassinato de Marcelo é um típico
crime de ódio e de intolerância política, incompatível com a democracia e a liberdade,
e que deve ser repudiado sem meias palavras e com a pronta atuação dos órgãos
judiciais e policiais antes que se torne um estímulo à violência como norma na
vida política do país e na campanha eleitoral.
Não é de hoje que se utiliza do medo
como meio de amedrontar o eleitor, impedi-lo de votar, ou mesmo como coação
para que o eleitor vote contra sua livre e soberana vontade. É exatamente esta
a tentativa do bolsonarismo, num movimento coordenado com o ataque às urnas
eletrônicas e a tentativa de envolver as Forças Armadas nas eleições, o que
viola abertamente a Constituição Federal.
A gravidade da crescente pressão do
ministro da Defesa sobre o TSE e as repetidas falas do próprio presidente
exigindo a supervisão militar sobre o pregação do ódio e da intolerância
política, ser detidas. E a única forma de se fazer isso é pela mobilização da
sociedade e pela atuação dos órgãos judiciais e policiais.
Não pode haver meio-termo ou
igualdade de condições entre a vítima e o agressor ou autor de crimes de ódio e
intolerância política, muito menos de assassinatos a sangue frio. É intolerável
o uso da suposta polarização política como medida para condenar ou não tais
crimes, muito menos por razões políticas ou de disputa eleitoral.
A medida do compromisso com a democracia
hoje no Brasil é a condenação sem medo e a mobilização de todas as forças
políticas do arco democrático para repudiar a escalada criminosa estimulada
pelo bolsonarismo. Temos que ocupar as ruas e praças para garantir eleições
livres e democráticas e nosso direito sagrado de votar e eleger nossos
representantes no Congresso e nosso presidente.
José Dirceu,
ex-deputado federal e ex-ministro |Chefe da |Casa Civil
EM TEMPO: Golpe precisa de apoio internacional. Isso o governo Bozo não tem. Não é à toa que haverá uma reunião, na próxima semana, com os embaixadores estrangeiros para explicar o inexplicável: "que as urnas eletrônicas não são seguras". Ou seja, o governo brasileiro esculhambando com o país. Resta saber se os embaixadores são tão bobos assim. O tiro pode sair pela "culatra" com essa iniciativa que desmoraliza o Brasil. Agora que Bozo vai bagunçar o processo eleitoral isso é verdade. Daí a necessidade de elegermos Lula já no primeiro turno. Porém, para garantir as eleições a população precisa de se manifestar nas ruas, sindicatos, etc.
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