Edmilson Costa – Secretário Geral do PCB
A recente reunião de
Bolsonaro com embaixadores é uma mistura de confissão de uma derrota anunciada;
tentativa de amedrontar o país com ameaça de golpe a partir de um conjunto de
mentiras seguidamente repetidas, buscando encontrar justificativas para cancelar
as eleições; preparação de suas milícias fascistas para desencadear o caos no
processo eleitoral, tentando paralisar a oposição; fanfarronices típicas de um
animal ferido e desesperado diante, inclusive, da possibilidade de vir a ser
preso, junto com os seus filhos e aliados, no período pós-eleitoral. Além
disso, trata-se da velha tática diversionista de desviar a atenção para o
fracasso e os crimes cometidos por este governo genocida.
Primeiro, todos sabem
que Bolsonaro é lumpen abominável e sem escrúpulos, um genocida responsável por
mais de 670 mil mortes e pela destruição do país, um presidente que está
isolado, mas que não pode ser subestimado. Ele sabe que a eleição já está
perdida, que as suas manobras para manipular o processo eleitoral através da
compra de votos com a PEC kamikaze não irão dar resultado. Portanto, a exemplo
daquilo que Trump fez nas eleições dos Estados Unidos, ele segue um roteiro
manjado. Busca desqualificar e desmoralizar o processo eleitoral com denúncias
ridículas para justificar sua derrota eleitoral e se blindar em relação às
prováveis consequências no momento pós-eleitoral.
Segundo, a avaliação
dessa reunião com embaixadores é a de que a mensagem do genocida não foi para
os embaixadores, pois todos eles sabem exatamente quem é o presidente
brasileiro. O discurso de Bolsonaro foi endereçado às suas milícias fascistas
visando colocá-las em movimento para incentivar a baderna, como já vimos
recentemente no assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, nas agressões
à caminhada de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro e nas bombas de fezes contra
manifestações de Lula. Bolsonaro sabe perfeitamente que, num clima de
tranquilidade, ele é um homem derrotado e desmoralizado.
Portanto, estimula o
caos porque imagina que só numa conjuntura dessa ordem pode obter justificativa
para não reconhecer o resultado das eleições ou para impor um eventual
cancelamento do pleito. Bolsonaro estica a corda para testar até onde pode ir
com suas ameaças. E se não ocorrer uma respostas à altura, ele vai prosseguir
com suas provocações porque, quanto mais se aproximam as eleições e a derrota,
mais desesperado ele fica e mais ele vai apelar para que suas milícias atuem no
sentido de tumultuar, de agredir e de espalhar o medo.
Mas não se pode
esquecer que as ações espetaculosas de Bolsonaro são muito bem calculadas e já
foram realizadas em vários momentos de dificuldades de seu governo. Visam
desviar a atenção da população para os verdadeiros problemas vividos pelo povo
trabalhador, como a carestia, o desemprego e informalidade de milhões de
trabalhadores, bem como os mais de 33 milhões de brasileiros que estão nas
filas da fome disputando ossos e pelancas de carne nos caminhões de lixos em
várias regiões do Brasil.
Que fazer?
Continue lendo
Diante de uma
conjuntura dessa ordem, qual o papel das forças populares? Há tempos o Partido
Comunista Brasileiro vem afirmando que a melhor tática para deter a barbárie
bolsonarista é combinar dialeticamente a luta eleitoral com a luta de massas
nas ruas. Temos absoluta convicção de que só com o povo nas ruas seremos
capazes não apenas de evitar o pacto das elites, mas principalmente evitar
qualquer aventura golpista. Não se combate o fascismo apenas com boas
intenções, manifestos bem intencionados, declarações nas redes sociais. O fascismo
e a aventura golpista que Bolsonaro tenta promover só serão derrotados com
demonstração de força popular, com combate sem tréguas às suas iniciativas.
Grande parte das
forças políticas no Brasil, especialmente aquelas envolvidas no processo de
conciliação de classe, estão ingenuamente acreditando que tudo se resolverá com
as eleições. Por isso mesmo, abandonaram qualquer perspectiva de mobilização
popular contra as ameaças fascistas, as aventuras golpistas e contra a
dramática situação social do país. Esqueceram-se das recentes lições do
passado. Apassivaram e desmobilizaram a classe trabalhadora e, quando as forças
reacionárias deram o golpe em 2016, não encontraram nenhuma resistência
popular. Esse erro não pode ser repetido novamente.
É verdade que Bolsonaro,
com suas fanfarronices, está atrapalhando os negócios de vários setores da
burguesia. Mas não podemos cair na ilusão de que, com a perda de apoio desses
setores, está evitada a possibilidade de uma aventura golpista. Também é
verdade que a realização de um golpe, para ser vitorioso, é fundamental que
tenha apoio social, político e econômico das classes dominantes. Entretanto,
não podemos esquecer que foram exatamente essas classes dominantes que
patrocinaram o golpe de 2016 e todos sabemos que a burguesia não tem escrúpulos
e pode mudar de posição de acordo com seus interesses objetivos.
Mesmo sem apoio
geral, não pode ser afastada a possibilidade de uma aventura, ainda que esta
não tenha possibilidade de se sustentar. Uma aventura desse tipo, mesmo que
seja derrotada posteriormente, causará um enorme estrago entre as forças
populares, que é o alvo central dos golpistas. Da mesma forma, não adianta
justificar a paralisia afirmando que um golpe no Brasil não terá apoio do
imperialismo. Só os ingênuos acreditam que o imperialismo tem princípios. Se
Bolsonaro for útil nessa conjuntura internacional em que o imperialismo está
passando por momentos de instabilidade, não vacilará nem um pouco em apoiá-lo.
Já apoiaram Franco, Salazar e as ditaduras mais assassinas na América Latina.
Não esqueçam isso. Só podemos confiar em nossas próprias forças: portanto, só a
mobilização e a luta nas ruas serão capazes de barrar as aventuras golpistas e
abrir espaço para construir um novo rumo para o país.
Existe base objetiva
para se colocar as massas em movimento. Problemas é que não faltam: carestia,
desemprego, fome e ameaça de golpe são temas que têm todas as condições de
mobilizar para a luta. Não existe nenhuma contradição entre realizar a disputa
eleitoral e chamar a população para se manifestar contra esse governo genocida.
Pelo contrário, a luta nas ruas fortalecerá a batalha pelas liberdades
democráticas, evitará as aventuras golpistas e colocará no seu devido lugar as
forças fascistas.
Vale lembrar que a
grande maioria da população brasileira está contra esse governo que vem
infernizando a vida da população. Bolsonaro conta apenas com uma pequena
parcela da população, além de suas milícias fascistas. Não podemos continuar
nessa situação em que uma minoria ativa e agressiva fica chantageando
permanentemente a maioria porque as suas lideranças resolveram ingenuamente
colocar a cabeça na areia, se fingir de mortas como se nada estivesse
acontecendo, como se o perigo não estivesse à porta de todos. Está na hora de
fazer valer o direito e a força das maiorias. Como diz o poeta, as ruas são do
povo como o céu é do condor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário