EXTRA - Ivan Martínez-Vargas
qui., 28 de julho de 2022
O manifesto organizado por juristas e
pela Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia, intitulado
"Carta aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito",
recebeu nesta quinta-feira o apoio das oito maiores centrais sindicais do
Brasil. O texto, que já ultrapassou as 290 mil assinaturas, foi endossado por
CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CSB, Pública e Intersindical Central da
Classe Trabalhadora.
Em meio ao rápido crescimento de
adesões, o site que colhe adesões ao texto, hospedado pela Faculdade de Direito
da USP, já recebeu 2.400 ataques hackers até o momento, segundo o diretor da
instituição, Celso Campilongo. Nenhuma das tentativas de invasão foi bem
sucedida até o momento.
Um dos organizadores do manifesto,
Campilongo afirma que o ritmo de adesões ao documento "aumentou
muito" após o presidente Jair Bolsonaro chamar o documento de
"cartinha", na quarta-feira. Publicado oficialmente na terça-feira
com 3 mil assinaturas, o texto já foi endossado por 12 ex-ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) e também por grandes empresários, políticos e artistas.
— Depois que falaram que o documento
era só uma cartinha, deu um impulso na adesão. Estamos em 250 mil assinaturas.
A continuar nesse ritmo, teremos mais de 300 mil ainda nesta quinta-feira. A
repercussão surpreendeu até o mais otimista dos organizadores — diz Campilongo.
O presidente afirmou na quarta-feira
durante a convenção nacional do PP em Brasília que não precisa de “nenhuma
cartinha” para falar que “defende a democracia” nem de sinalização de apoio de
“quem quer que seja” para mostrar que o caminho é “democracia, liberdade e
respeito à Constituição”. Embora a "Carta aos Brasileiros" não o
mencione, critica diretamente os ataques às urnas eletrônicas, uma marca de
Bolsonaro.
Em nota conjunta, as centrais
sindicais afirmam que "decidiram orientar seus entes de base e militância
a assinarem" o texto organizado pelos juristas. Também informam que
"vão convocar e orientar as suas bases a mobilizar e participar dos atos
do dia 11 de agosto, data em que será lançada a 'Carta aos Brasileiros'"
em evento no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo.
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Segundo Campilongo, o evento será
dividido em duas partes. Um ato será realizado para lançar um manifesto
empresarial assinado por instituições e que ainda está em elaboração e outro,
em seguida, celebrará a "Carta aos Brasileiros". Esse primeiro
documento, empresarial, tem sido articulado pelo presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, e por um grupo
de advogados, acadêmicos e ex-ministros.
Intitulado “Em Defesa da Democracia e
da Justiça”, o texto já a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),
da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), da Câmara
Americana de Comércio Para o Brasil (Amcham) e do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Já a "Carta aos
Brasileiros", publicada oficialmente na terça-feira, é uma reedição de um
documento homônimo lido, em agosto de 1977, em pleno regime militar, pelo
professor de direito Goffredo da Silva Telles Junior no Largo de São Francisco.
À época, a carta denunciava o autoritarismo e a ilegitimidade da ditadura
militar e o estado de exceção no qual o país se encontrava.
A carta atual diz que "nossas
eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no
mundo", em contraposição aos ataques que Bolsonaro tem feito às urnas
eletrônicas.
"Tivemos várias alternâncias de
poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo.
As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça
Eleitoral", diz o documento.
"Ao invés de uma festa cívica,
estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática,
risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das
eleições", afirma em outro trecho.
Ataques de hackers
Ao GLOBO, Campilongo afirma que o
site que colhe as assinaturas para o documento dos juristas já sofreu mais de
2.400 tentativas de ataque até esta quinta-feira. Nenhum delas foi
bem-sucedida.
— Estamos salvando tudo, temos backup
(das assinaturas) e diversas camadas de proteção. Recebemos o suporte da
Superintendência de Tecnologia da Informação da USP, além da área técnica da
própria faculdade. Todo site tem vulnerabilidade, então tememos que qualquer
hora um desses hackers acerte o alvo, mas se isso acontecer, estamos preparados
— afirma Campilongo.
O professor salienta que, dada a ampla repercussão
dos atos programados para 11 de agosto no Largo de São Francisco, onde fica a
Faculdade de Direito, a instituição já decidiu colocar telões na rua para
transmitir o evento.
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