© YOAN VALAT/EPA |
O objetivo é barrar a chegada do partido de Le Pen ao poder. É o que se chama na França de "frente republicana", uma espécie de coalizão nacional contra a direita radical.
Macron liderou o
primeiro turno com cerca de 28% dos votos, segundo as projeções, desempenho
melhor do que o previsto nas últimas pesquisas, nas quais o atual presidente
vinha caindo progressivamente.
Le Pen teria obtido
em torno de 23% dos votos.
O pleito deste
domingo foi marcado por uma forte abstenção, de 25% a 26% do eleitorado, de
acordo com projeções. Ainda assim, ambos registraram resultados melhores do que
no primeiro turno da eleição presidencial de 2017, quando conquistaram 24% e
21,3% dos votos, respectivamente.
Dez outros
candidatos disputavam a eleição - e não pouparam Macron de críticas durante
suas campanhas.
A socialista Anne
Hidalgo, atual prefeita de Paris, foi a primeira a se posicionar a favor do
atual presidente e exortar seus eleitores a votarem "contra a extrema
direita" após a divulgação das pesquisas de boca de urna e da confirmação
do segundo turno.
O ecologista
Yannick Jadot deu declaração no mesmo sentido. O comunista Fabien Roussel
afirmou que "não permitirá nunca que Le Pen assuma o poder" e lançou
um apelo para que "todos os franceses utilizem a única cédula de voto
disponível para derrotá-la no segundo turno".
Continue lendo
Valérie Pécresse,
candidata do partido de direita Os Republicanos (dos ex-presidentes Jacques
Chirac e Nicolas Sarkozy), que fez durante sua campanha duras críticas à gestão
do atual presidente, também anunciou que irá votar em Macron.
"Apesar das
profundas divergências com Macron, as quais martelei ao longo da minha
campanha, votarei nele com consciência para impedir a chegada ao poder de
Marine Le Pen", disse ela, acrescentando que a eventual vitória de Le Pen
"conduziria a França à discórdia e a um segundo plano no cenário europeu e
internacional".
Pécresse destacou
ainda os "laços históricos" de Le Pen com o líder russo, Vladmir
Putin, que segundo ela impediriam a França de defender seus interesses.
© Pascal
Rossignol/Reuters Le Pen
disputou o segundo turno das eleições de 2017 contra Macron
O terceiro colocado
na votação, Jean-Luc Mélénchon, da França Insubmissa, da esquerda radical - que
obteve cerca de 20%, segundo pesquisas - não fez um apelo direto para que seus
eleitores votem em Macron, mas ao mesmo tempo disse que eles "não devem
dar um único voto a Marine Le Pen.
Philippe Poutou, do
Novo Partido Anticapitalista, também se posicionou como Mélenchon, ressaltando
que "nenhum voto" deve ser dado a Le Pen.
Em seu discurso
após a divulgação das projeções do primeiro turno, em um local onde estavam
reunidos centenas de partidários, Macron defendeu a ideia de um "grande
movimento de unidade e de ação", que reuniria "as diferentes
sensibilidades" (políticas).
Até recentemente,
pesquisas indicavam que Macron venceria as eleições com uma boa margem em
relação à rival da direita radical. Mas seu favoritismo começou a
perder força em meados de março, com projeções que indicavam uma
vantagem bem mais reduzida de Macron sobre Le Pen no segundo turno, de apenas
três ou quatro pontos percentuais, dentro da margem de erro, algo inédito em
relação a um partido da direita radical numa eleição presidencial na França.
Continue lendo
Em 2017, Macron
venceu Le Pen com 32 pontos de diferença.
Uma pesquisa do
instituto Ifop divulgada na noite deste domingo, realizada após o anúncio dos
resultados do primeiro turno, reforça a ideia de que a disputa se mantém bem
acirrada: Macron venceria o segundo turno, marcado para o dia 24 de abril, com
51% dos votos, com apenas dois pontos percentuais a mais do que Le Pen, dentro
da margem de erro.
"Mesmo que
Macron se mantenha favorito, nunca um representante da ex-Frente Nacional (o
partido de Le Pen, que mudou seu nome para Rassemblement National) - seja
Marine Le Pen, em 2017, ou seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2002 (que chegou ao
segundo turno numa votação que teve abstenção recorde) - tinha se beneficiado
de uma configuração tão favorável em um segundo turno", escreveu o jornal
Le Monde.
Marine Le Pen
conseguiu melhorar seu resultado no primeiro turno apesar da concorrência do
extremista Éric Zemmour, conhecido por suas declarações polêmicas que já lhe
renderam condenações na Justiça por incitação ao ódio racial e religioso.
Zemmour obteve 7%
dos votos, de acordo com projeções, e declarou seu apoio a Le Pen no segundo
turno.
A pesquisa do
instituto Ifop divulgada neste domingo também indica que 44% dos eleitores de
Mélénchon podem se abster de votar no segundo turno. Entre os que votariam, um
terço optaria por Macron e 23% escolheria Le Pen.
O programa
econômico de Le Pen tem várias semelhanças com o de Mélenchon, da esquerda
radical. Nesta campanha, a candidata do Rassemblement National deixou de lado
temas sobre imigração, islã e segurança, projetos históricos de seu partido,
que se mantêm radicais, e focou em seus discursos questões econômicas,
sobretudo medidas ligadas ao poder aquisitivo, o assunto de maior interesse dos
franceses atualmente.
© Gonzalo Fuentes/Reuters |
A direita radical
teve uma performance inédita nesse primeiro turno. Somados os votos de Le Pen,
do extremista Éric Zemmour, do Reconquista, que obteve 7%, e de Nicolas
Dupont-Aignan, que teria tido pouco menos de 2%, segundo estimativas, a direita
radical conquistou praticamente um terço dos votos.
Os dois partidos
tradicionais de direita (Os Republicanos) e de esquerda (socialista, PS) que
governaram a França nas últimas décadas, tiveram desempenho pífio, jamais
visto, e correm o risco de desaparecer do cenário político francês.
Sobretudo o PS: a
candidata Anne Hidalgo obteve apenas 1,7% dos votos, segundo as projeções. Em
2017, o PS já havia tido somente 6,3% dos votos.
Se não tivesse
havido várias candidaturas de esquerda, Mélenchon, que lançou apelos para o
"voto útil" nesse campo, poderia provavelmente ter se qualificado
para o segundo turno.
Valérie Pécresse,
de Os Republicanos, teve menos de 5% dos votos, algo em torno de 4,7%. Em 2017,
o candidato da direita republicana foi terceiro colocado no primeiro turno, com
20% dos votos.
"O fracasso
colossal do partido socialista e dos Republicanos os leva à marginalização. É
uma nova paisagem política que está surgindo. Há uma nova repartição das forças
políticas na França", afirma o analista político Brice Teinturier,
diretor-geral do instituto Ipsos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário