Marina Silva (Foto: Twitter / Reprodução)
Por Armínio Westermann -
Analista político
3 de
abril de 2022
"O
que ela pede para declarar apoio a Lula é simplesmente um compromisso mais
claro do PT com relação ao meio-ambiente", escreve Armínio Westermann. Marina
Silva está pronta a integrar a frente ampla contra Bolsonaro. O Brasil, ela
afirma, "não tem como suportar mais quatro anos de Bolsonaro" (https://apublica.org/2022/04/marina-silva-concorrer-a-camara-e-fazer-frente-a-terra-arrasada-deixada-por-bolsonaro/ ).
Seja no plano do meio-ambiente, das políticas sociais, da economia ou dos
direitos humanos, "derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo", diz ela,
"é um ato de legítima defesa".
Fiel à sua vocação e à sua história, o que ela pede para declarar apoio a Lula
é simplesmente um compromisso mais claro do PT com relação ao meio-ambiente. De
modo específico e transparente, Marina pede: a) o abandono do projeto de
construção de hidrelétricas na Amazônia, em particular no Rio Tapajós; b)
investimentos pesados no programa de agricultura de baixo carbono (ABC); c)
investimentos igualmente significativos no desenvolvimento de combustíveis
limpos.
De forma mais ampla, ela afirma que "essa [não] é uma agenda da ecologia
pela ecologia, essa é a agenda da economia do século XXI". Isso não
implica dizer que Marina seja contra, por exemplo, o pré-sal ou contra o
petróleo de modo geral. O que ela defende, com plena razão, é que utilizemos
"os meios que ainda temos a partir dessa fonte – que não tem como ser
suprimida da noite para o dia – para investir recursos na transição
energética".
Da mesma forma, Marina não defende que a Amazônia seja transformada num imensa
reserva natural, bloqueada ao exercício de atividades econômicas. Ao contrário,
Marina defende o uso racional das riquezas da região, com base na aliança entre
a biotecnologia e os conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia. Essa
articulação, segundo ela, permitiria a criação de "sistemas agroflorestais
de indústria", para a produção de "novos produtos, materiais e
cadeias de valor".
Por fim, Marina pede que seja colocado um ponto final na política de
"regularização fundiária", isto é, na política de regularização
periódica da "grilagem". O que é necessário fazer, segundo Marina,
para colocar fim ao caos e à destruição na Amazônia é um "ordenamento
territorial e fundiário, que pressupõe demarcar as terras indígenas; isolar os
povos originários que não podem ter contato, criando inclusive um cinturão de
proteção; consolidar áreas que podem ser utilizadas para atividades produtivas
agrícolas de base sustentável, fazendo transição para o programa ABC [de
agricultura com baixas emissões de carbono], como o que foi desenvolvido pela
Embrapa. Mas não vamos chegar a isso", ela ressalta, "se
continuar[mos] destinando 1% do plano Safra para agricultura de baixo carbono e
99% para a agricultura tradicional.
Isso é o que separa Marina do PT.
Marina pede ao PT, apenas, um ajuste no modelo "desenvolvimentista"
implementado a partir do segundo governo Lula. Marina pede ao PT, basicamente,
uma política energética e uma política agrícola em linha com o que partidos de
esquerda, sob influência do ideário ambientalista, tem defendido, com unhas e
dentes, em países como França, Alemanha ou Portugal.
Energia limpa e comida saudável.
São temas, no mundo civilizado, incontroversos.
E o PT -- à luz, inclusive, da experiência do MST, que é hoje um
movimento agro-ambientalista, focado no desenvolvimento e na massificação da
agricultura agro-ecológica -- não tem qualquer razão para hesitar diante da
demanda por compromissos mais explícitos e ousados nesse campo.
Estamos em condições de construir uma aliança reunindo o melhor do Brasil.
Caminham para o entorno de Lula, ansiosas para salvar o Brasil de uma ditadura
tacanha e regressiva, todas as forças democráticas e esclarecidas do país.
Mariana, como Alckmin, não teve um desempenho um desempenho notável nas últimas
eleições presidenciais. Mas ela permanence sendo o símbolo de um modelo de
desenvolvimento. Ademais, é inquestionável sua dedicação ao Brasil, ainda que
fora do PT, e seu excelente desempenho como senadora e depois ministra do meio
ambiente.
Se Marina, como Alckmin ou Lula, fizeram acordos ou alianças questionáveis para
tentar chegar à presidência, isso apenas indica que o cenário político
brasileiro está repleto de armadilhas e não podemos e não devemos mais dar
sequência à estratégia de lutar para ver quem vai "liderar o atraso".
Hoje, pela primeira vez desde o segundo turno das eleições de 1989, estão
disponíveis para uma aliança com o PT os melhores quadros da política e da
sociedade brasileira.
Marina, integrada à frente ampla contra Bolsonaro, poderá contribuir para
refazer os laços do PT com a classe média, com o movimento ambientalista, com a
vertente mais moderna do empresariado, com a população da região Norte bem como
com o público evangélico.
Trata-se de uma figura de peso, que faz falta ao PT e cujo retorno ao centro da
luta política, ao lado de Lula, tem tudo para dar à candidatura do
ex-presidente o fôlego necessário para um vitória, cada vez mais necessária, no
primeiro turno.
EM
TEMPO: Observe que Marina faz menção apenas a Lula e não ao PT como
um todo. Marina age no terreno das reivindicações, assim como o PSOL. Resta
saber se as demais forças de esquerda farão o mesmo.
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