Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Todo poder à classe trabalhadora!
Nos aproximamos do 8 de Março – Dia Internacional de Luta das Mulheres – em um momento extremamente adverso para toda a classe trabalhadora no mundo, especialmente para as mulheres. Mais do que nunca, a concretização desta data como um dia de Greve Internacional, com atos massivos de rua e paralisações do trabalho produtivo e reprodutivo, é imperativo.
As mulheres trabalhadoras e toda nossa classe estão
sendo massacradas por uma pandemia gerada pela relação predatória do capital
com a natureza, que ainda se estende devido à condução indevida dos Estados
capitalistas e a desigual vacinação em nível global em prol da lucratividade
burguesa. Para além disso, temos sofrido e morrido nas guerras imperialistas,
em abortos clandestinos, nas filas do sistema de saúde, no genocídio do povo
negro, no extermínio dos povos indígenas, nas imigrações e nos trabalhos mais
precarizados.
O aprofundamento da crise mundial do capital em sua fase monopolista é acompanhado por guerras entre capitalistas pelo controle de fontes energéticas, mercados e massas de trabalhadores/as. A crise na Ucrânia, que chegou a seu auge no dia 24 de fevereiro, quando a Rússia iniciou operações militares no território ucraniano, tem como pano de fundo a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para o leste europeu, o avanço de governos reacionários e de cunho fascista pelo mundo, a luta pela independência das Repúblicas de Donetsk e Lugansk, que enfrentam há oito anos os ataques fascistas de Kiev e as disputas capitalistas na região.
Os interesses dos EUA e da União Europeia em conter o
fortalecimento internacional do bloco China – Rússia se expressa na expansão da
OTAN, que já está presente em 14 países da região, formando um cerco militar
nas fronteiras russas. A reação do antissoviético Putin, apresentada como se
tivesse fins humanitários, pode ser importante para derrubar os fascistas de
Kiev, porém, representa os interesses capitalistas e expansionistas russos na
região. A única solução para esse conflito passa pela luta independente da
classe trabalhadora em nível mundial contra o imperialismo dos EUA, da OTAN e o
sistema capitalista.
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No Brasil, a
massificação dos atos do 8 de março é urgente diante do governo protofascista e
ultraliberal de Bolsonaro/Mourão/Guedes, que além de ter desenvolvido uma
política genocida de ampliação da pandemia, tem avançado na privatização de
todos os bens públicos, na retirada de direitos trabalhistas e no aumento do
potencial repressor do Estado. No último ano, foram as mobilizações de rua que forçaram
o governo a realizar a vacinação, tornando-se o principal espaço de
enfrentamento às manifestações golpistas de Bolsonaro.
O posicionamento do
Estado frente à crise econômica que se desenha há cerca de 10 anos e que se
encontra com a pandemia foi, como de praxe, o de estar ao lado dos patrões.
Vivemos a ilusão de que a burguesia também sofreu profundamente com essas
crises, principalmente ao nos depararmos nas mídias com insatisfações de alguns
setores da classe dominante diante de alguns discursos de Bolsonaro. Porém,
sabemos que tais discursos não fizeram mais que prejudicar negócios e que a
burguesia segue poupada pelo governo e por seu braço armado.
A situação para as
mulheres, principalmente para as negras, indígenas e LGBTs é ainda pior.
Segundo os dados da PNAD, a taxa de desemprego foi de 17,1% para as mulheres no
segundo trimestre de 2021 e de 11,7% para os homens, um dos piores resultados
da pesquisa desde 2016. Apesar de ter ocorrido um pequeno aumento nos postos de
trabalho para as mulheres no Brasil no último trimestre, estes se deram nos
trabalhos análogos às tarefas domésticas e na informalidade. Essa alta taxa de
desemprego é acompanhada por elevações contínuas nos preços da cesta básica e
pelo retorno do Brasil ao mapa da fome. Mais da metade da população brasileira
vive em insegurança alimentar e cerca de 20 milhões estão passando fome.
As mulheres continuam
enfrentando as consequências da divisão sexual do trabalho, a submissão ao
trabalho doméstico e a violência contra a mulher, sendo que todos esses
elementos se intensificaram durante a pandemia e durante o governo
Bolsonaro/Mourão: as reformas trabalhistas e da previdência, junto com a
retirada de outros direitos, facilitaram o assédio moral e as violências
físicas e sexuais no trabalho, nos lares e nos espaços públicos, ao diminuir ou
retirar a autonomia financeira de milhares de mulheres.
A ofensiva conservadora encabeçada pelo governo tentou avançar ainda mais na retirada dos direitos reprodutivos, a fim de criminalizar o aborto em todas as situações, inclusive quando apresentam risco para a vida das mulheres e em situações de estupro. Tal criminalização resulta diretamente em abortos clandestinos, adoecimento e mortes, principalmente para as mulheres negras e pobres, que não podem pagar clínicas em condições adequadas. Na PNA 2016, estimou-se 503 mil abortos clandestinos ao ano para o Brasil.
Em países onde se descriminalizou o
aborto e se investiu em educação sexual e reprodutiva esses números diminuíram,
como é o caso do Uruguai. O movimento de mulheres e feminista pela legalização
do aborto tem se fortalecido e avançado na América Latina, forçando os
mecanismos institucionais do Estado a revogarem a suas leis criminatórias e
legalizar o aborto, como foi o caso da Argentina e na última semana, a grande
vitória de nossas hermanas colombianas.
Essas manifestações estão no bojo do crescimento dos movimentos protagonizados por mulheres e feministas na última década. Em 2016, mais de 100 mil mulheres estiveram em marchas e paralisações em oposição à proibição do aborto na Polônia. Logo depois, no mesmo ano, explodiu, a partir da Argentina, o movimento "Ni una menos", contra o feminicídio e as violências, que se espalhou pelo continente e em alguns países europeus.
Em 2017, temos o chamado da Greve Internacional de
Mulheres, protagonizado por feministas marxistas, com o fim de dar mais força
ao caráter socialista e revolucionário do 8 de março. Em 2018, 5 milhões de
mulheres aderiram ao chamado de greve de 24 horas na Espanha, contra a opressão
sexista, a exploração e as violências. No final de 2018 tivemos os atos do
#EleNão protagonizado pelas mulheres, que sacudiu o Brasil e levou 100 mil
pessoas às ruas, somente em São Paulo, contra o governo Bolsonaro.
Parte dessas
mobilizações evocam o espírito das mulheres grevistas, que inspiraram Clara
Zetkin a propor em 1910, na II Conferência Internacional das Mulheres
Socialistas, o Dia Internacional de Luta das Mulheres e a força das mulheres
que incendiaram a Rússia em 1917, com milhares indo às ruas reivindicar pão e o
fim da guerra, dando abertura à Revolução Socialista que mudou os rumos da
classe trabalhadora em todo o mundo. O 8 de março se tornou o marco para essa
comemoração em homenagem à chama revolucionária das mulheres trabalhadoras russas
que paralisaram as fábricas, ganharam as ruas de Petrogrado e iniciaram os
movimentos que culminaram na Revolução Soviética.
Outras bravas
lutadoras também inspiram a combatividade do 8 de março, como Dandara dos
Palmares, Anastácia, Acotirene, Zeferina, que lutaram junto a muitas outras
mulheres e homens escravizados pela libertação de toda sua classe. Ou de
grandes artistas como Carolina Maria de Jesus e Elza Soares, que lutaram
bravamente para dar voz à situação de suas vidas enquanto mulheres negras e
trabalhadoras e de milhares de outras que sofrem com a miséria, a fome, o
desemprego, o feminicídio, violências diversas e com os trabalhos mais
precários, a exemplo do trabalho doméstico.
Nesse momento
pré-eleitoral, o campo protofascista, ultraliberal e do partido fardado
representado por Bolsonaro, Paulo Guedes e Mourão se articula em um suposto
“giro ao centro” em paralelo a uma tentativa de retomar sua popularidade
através de concessões pontuais, que diminuam a fome, a miséria e a grande
insatisfação dos/as trabalhadores/as, como o Auxílio Brasil, um mísero aumento
salarial ao funcionalismo público federal e a facilitação no saque do FGTS. Ao
mesmo tempo, avança em medidas para satisfazer sua base reacionária, como a
legalização dos jogos de sorte, uma máquina de lavagem de dinheiro.
O Partido dos
Trabalhadores não demonstrou nenhuma intenção de refletir sobre seu papel no
momento político, social e econômico que estamos vivendo. Ao optar por
desenvolver uma política de fortalecimento do capitalismo e de não
enfrentamento à burguesia, não realizaram mudanças estruturais no país a favor
da classe trabalhadora. Limitou-se a implementar programas assistenciais e a
possibilitar a ampliação do consumo às custas do endividamento das famílias.
Nesse momento, o campo democrático e popular tem apostado suas fichas na
reeleição de Lula com Alckmin na vice, o que aponta para a retomada de um
governo de conciliação de classes, com matiz ainda mais liberal.
Nesse sentido,
saudamos a pré-candidatura de Sofia Manzano para presidência e de outras
mulheres do PCB para os governos estaduais. É fundamental a esquerda combativa
apresentar candidaturas que tragam em seu cerne as lutas da classe
trabalhadora, a denúncia das candidaturas liberais e reacionárias e a urgência
da revolução socialista. Acreditamos que o campo político que precisa ser
conformado deve girar em torno de uma frente anticapitalista e
anti-imperialista, com os diferentes setores da classe trabalhadora em nível
nacional e internacional.
Dessa forma, reforçamos a importância da nossa presença massificada nos atos do dia 8 de março e o fortalecimento de seu caráter classista e socialista no âmbito internacional. O cenário do ano anterior mostrou a importância de a classe trabalhadora retomar as ruas e se colocar como uma força dentro do jogo político, o qual vinha sendo movimentado apenas pelos setores burgueses e pequeno-burgueses.
Sabemos que
Bolsonaro e o bolsonarismo não serão derrotados apenas por vitórias eleitorais.
Assim, nossa presença nas ruas e a organização da classe trabalhadora nos seus
locais de trabalho, estudo e moradia são condições indispensáveis para
resistirmos a todos os ataques que estamos sofrendo, revogar as
contrarreformas, impedir a manutenção de Bolsonaro na presidência e fortalecer um
polo de enfrentamento ao protofascismo e ao liberalismo conciliatório.
Não aceitamos pautas
mínimas enquanto nossa classe está passando fome e sendo massacrada. O
apontamento para o socialismo não é uma bandeira de agitação, pelo contrário, é
a única possibilidade de superarmos a barbárie capitalista. Assim, convocamos
todas as mulheres e a toda a classe trabalhadora a se somarem aos atos e
atividades do 8 de março e a fortalecerem as lutas anticapitalistas e
anti-imperialistas no Brasil e em todo o mundo.
– Fora Bolsonaro,
Mourão e Guedes!
– Abaixo a fome, a
pobreza e a carestia!
– Por emprego,
salário e direitos iguais para trabalho igual.
– Por uma política de
pleno emprego para toda a classe trabalhadora.
– Pela revogação de
todas as privatizações, das reformas trabalhista e da Previdência e pelo fim do
Teto dos Gastos.
– Contra todas as
formas de violência às mulheres. Pela ampliação de serviços de acolhimento e
suporte às vítimas de violência.
– Em defesa do SUS
100% público e estatal. Pelo total controle do Estado e dos/as trabalhadores/as
do sistema de saúde.
– Pelo fim das
patentes das vacinas e de todos os monopólios farmacêuticos.
– Não à múltiplas
jornadas de trabalho das mulheres: creches e escolas em tempo integral para
nossas/os filhas/os; lavanderias e restaurante públicos.
– Educação sexual
para decidir. Métodos contraceptivos para não abortar. Aborto legal, seguro e
garantido pelo o SUS para não morrer.
– Pela demarcação das
terras indígenas.
– Toda solidariedade
às trabalhadoras e trabalhadores das Repúblicas de Donetsk e Lugansk e contra
toda a ofensiva fascista e reacionária no mundo.
– Pelo fim da OTAN e
de todas as guerras imperialistas!
– Pela construção do
poder popular! Rumo ao socialismo!
Viva o Dia
Internacional de Lutas das Mulheres!
28 de fevereiro de
2022
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