Ao enviar relatório a Moraes sobre gabinete do
ódio, delegada alerta que PF sabe que a fábrica está dentro do poder e
certamente com o conhecimento de Bolsonaro
Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes (Foto: Adriano
Machado/Reuters | Rosinei Coutinho/SCO/STF)
(*) Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
O relatório da
delegada Denisse Ribeiro, da Polícia Federal, encaminhado a Alexandre de Moraes
com informações sobre as fake news tem duas novidades a partir de uma
informação antiga. A informação velha é esta: a fábrica de notícias falsas, ataques, dossiês e
difamações funciona, com todas as engrenagens, dentro do Palácio do Planalto.
Nada de novo.
A partir dessa informação emergem as duas principais notícias. A primeira salta
de dentro do relatório: atitudes suspeitas ou criminosas de Bolsonaro têm
conexão “e semelhança no modo de agir” com o núcleo das fake news e
possivelmente por este são abastecidas. Bolsonaro está no esquema. A segunda informação não faz parte do conteúdo do despacho. É o alerta
produzido pela própria atitude da delegada ao alcançar o documento a Moraes. A investigadora está dizendo oficialmente pela primeira vez, em comunicado ao
relator do inquérito, com base no que apurou até agora, que a PF sabe que a
fábrica está dentro do poder e certamente com o conhecimento de Bolsonaro.
A delegada diz para que todos saibam: a PF avisa ao Supremo e a quem interessar
que a produção, o financiamento e a disseminação de fake news são parte da
estrutura de poder. Não se trata de uma engrenagem paralela, como muitas que se formam em
escaninhos de governos. É uma estrutura orgânica, da lógica do bolsonarismo, no
ventre do Planalto. Não é a imprensa que diz, é a polícia. A partir daí, podemos concluir, mesmo
que muito mais não se saiba ainda, que a PF já tem elementos para apontar
Bolsonaro, os filhos e o entorno como mantenedores de um esquema que ocupa
salas, com equipamentos e gente do governo.
É uma estrutura física, com servidores pagos pelo setor público, fincada no
palácio. A facção das fake news é um apêndice grudado à administração. E aí alguém pode perguntar: mas qual é a novidade disso, se a imprensa já lidou
muito com essas evidências? A novidade é que os indícios aparecem em investigações e agora num documento da
Polícia Federal, levado ao conhecimento do ministro Alexandre de Moraes, quase
que como um recado, mesmo que involuntário.
A PF está advertindo que as investigações chegaram a Bolsonaro, aos amigos e a
outros que são próximos deles. E quem são e quantos são, além dos já conhecidos? É o que saberemos mais
adiante, quando for desvendando o esquema de operação e de financiamento do
gabinete de gestão e das suas milícias digitais. A perda a lamentar é que a delegada se retira do inquérito para desfrutar de
licença maternidade. Claro que vamos desejar um bom período de licença à
servidora, a mesma que já havia apontado o crime de Bolsonaro no vazamento de
inquérito da PF sobre o ataque hacker ao TSE.
Fica a apreensão em relação ao andamento das sindicâncias, mesmo que Alexandre
de Moraes já tenha dado sinais de que não irá afrouxar na condução dos
inquéritos que têm a família no centro das investigações. Desejamos saúde à delegada e ao seu bebê. E que o seu substituto continue o que
vem sendo feito. Os Bolsonaros não podem se sentir confortáveis com o
afastamento da delegada.
(*) Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos
querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero
hora, de Porto Alegre.
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