domingo, 13 de fevereiro de 2022

Delegada da PF mandou recado à família Bolsonaro e seus amigos


Ao enviar relatório a Moraes sobre gabinete do ódio, delegada alerta que PF sabe que a fábrica está dentro do poder e certamente com o conhecimento de Bolsonaro

 

 

Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes (Foto: Adriano Machado/Reuters | Rosinei Coutinho/SCO/STF)

(*) Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

O relatório da delegada Denisse Ribeiro, da Polícia Federal, encaminhado a Alexandre de Moraes com informações sobre as fake news tem duas novidades a partir de uma informação antiga. A informação velha é esta: a fábrica de notícias falsas, ataques, dossiês e difamações funciona, com todas as engrenagens, dentro do Palácio do Planalto. Nada de novo.

A partir dessa informação emergem as duas principais notícias. A primeira salta de dentro do relatório: atitudes suspeitas ou criminosas de Bolsonaro têm conexão “e semelhança no modo de agir” com o núcleo das fake news e possivelmente por este são abastecidas. Bolsonaro está no esquema. A segunda informação não faz parte do conteúdo do despacho. É o alerta produzido pela própria atitude da delegada ao alcançar o documento a Moraes. A investigadora está dizendo oficialmente pela primeira vez, em comunicado ao relator do inquérito, com base no que apurou até agora, que a PF sabe que a fábrica está dentro do poder e certamente com o conhecimento de Bolsonaro.

A delegada diz para que todos saibam: a PF avisa ao Supremo e a quem interessar que a produção, o financiamento e a disseminação de fake news são parte da estrutura de poder. Não se trata de uma engrenagem paralela, como muitas que se formam em escaninhos de governos. É uma estrutura orgânica, da lógica do bolsonarismo, no ventre do Planalto. Não é a imprensa que diz, é a polícia. A partir daí, podemos concluir, mesmo que muito mais não se saiba ainda, que a PF já tem elementos para apontar Bolsonaro, os filhos e o entorno como mantenedores de um esquema que ocupa salas, com equipamentos e gente do governo.

É uma estrutura física, com servidores pagos pelo setor público, fincada no palácio. A facção das fake news é um apêndice grudado à administração. E aí alguém pode perguntar: mas qual é a novidade disso, se a imprensa já lidou muito com essas evidências? A novidade é que os indícios aparecem em investigações e agora num documento da Polícia Federal, levado ao conhecimento do ministro Alexandre de Moraes, quase que como um recado, mesmo que involuntário.

A PF está advertindo que as investigações chegaram a Bolsonaro, aos amigos e a outros que são próximos deles. E quem são e quantos são, além dos já conhecidos? É o que saberemos mais adiante, quando for desvendando o esquema de operação e de financiamento do gabinete de gestão e das suas milícias digitais. A perda a lamentar é que a delegada se retira do inquérito para desfrutar de licença maternidade. Claro que vamos desejar um bom período de licença à servidora, a mesma que já havia apontado o crime de Bolsonaro no vazamento de inquérito da PF sobre o ataque hacker ao TSE.

Fica a apreensão em relação ao andamento das sindicâncias, mesmo que Alexandre de Moraes já tenha dado sinais de que não irá afrouxar na condução dos inquéritos que têm a família no centro das investigações. Desejamos saúde à delegada e ao seu bebê. E que o seu substituto continue o que vem sendo feito. Os Bolsonaros não podem se sentir confortáveis com o afastamento da delegada.

(*) Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

EM TEMPO: É isso aí Bozo.  Seu dia de ir para os tribunais,  está próximo

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