ESTADÃO - André Borges
© Dida Sampaio/Estadão O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, no plenário durante votação do Projeto de Lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos no Brasil
BRASÍLIA – O
plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 9, o projeto de
lei que flexibiliza a entrada de novos agrotóxicos no País. Após forte resistência da oposição, o texto base foi
submetido à votação pelo plenário da Casa e acabou aprovado por 301 votos a
favor e 150 votos contrários à proposta. Agora, o texto de relatoria do
deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR) segue para discussão e votação no
Senado.
Desde o ano
passado, a oposição tentou impedir o avanço do PL 6299/02, cunhado pelos
ambientalistas como o “PL do
Veneno”. A forma de definir os agrotóxicos, inclusive, foi uma das
preocupações da bancada ruralista, que determina que, oficialmente, esses
produtos químicos não sejam mais chamados de agrotóxicos, mas sim de
“pesticidas”.
Durante as discussões que antecederam a votação, o próprio relator Nishimori chegou a afirmar que ele mesmo gostaria que o País só consumisse alimentos orgânicos, mas que o mercado para isso ainda era muito pequeno. “Se fosse só alimento orgânico, seria melhor, mas ele é só 1% do mercado”, disse, durante a sua exposição e defesa de sua proposta.
Ambientalistas são
taxativos em demonstrar, tecnicamente, que as novas regras enfraquecem a
atuação do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama no controle e autorização
dessas substâncias. Pelo texto, essa missão passa a ficar concentrada no
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
“É gravíssimo que a
Câmara tenha aprovado um projeto de lei que permitirá que se coloque mais veneno
no prato dos brasileiros. Se virar lei, iremos à Justiça para proteger a vida
dos brasileiros e evitar que milhares e milhares de brasileiros venham a morrer
de câncer”, disse ao Estadão o
deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).
Em 2018, o Ibama e
a Anvisa apontaram que a proposta aprovada é inconstitucional e possui falhas
que prejudicariam a fiscalização dos produtos, colocando em risco a saúde da
população. O Ministério da Agricultura e a Frente Parlamentar da Agricultura,
no entanto, afirmam que o tema é tratado com "preconceito e
ideologia" e que precisa ser modernizado. O mesmo argumento foi sustentado
pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que defendeu a legalidade do
projeto de lei.
A Frente
Parlamentar Agropecuária comemorou a votação e declarou que o projeto traz “o
aperfeiçoamento e a modernização do que se tem hoje, além de igualar o Brasil
às maiores potências agropecuárias do mundo, com mais rigor científico e
desburocratização dos trâmites”.
Numa comparação do
veneno com as vacinas contra a covid-19, a FPA declarou que “vacinas salvam
vidas, pesticidas salvam as lavouras”. Segundo a frente da bancada ruralista,
“os pesticidas são vacinas para as plantas e a salvaguarda nos plantios”, além
de “garantia de remédios de qualidade e eficiência para as produções e a
certeza de alimentos ainda mais seguros”.
Kenzo Jucá,
assessor legislativo do Instituto Socioambiental (ISA), classifica a aprovação
como “uma catástrofe” à sociedade e ao meio ambiente. "As consequências
negativas são diversas, desde as mais visíveis, como aquelas relacionadas ao
aumento do número de pacientes com câncer, consequência direta do consumo de
substâncias tóxicas que seriam comercializadas sem a devida regulação sanitária
e ambiental”, afirmou.
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Na avaliação de
Jucá, a entrada de mais agrotóxicos no País reduz a possibilidade de
coexistência de qualquer outro modelo agrícola e agrário no Brasil. “Esse
projeto consolida um modelo toxico, rejeitado pelo mundo, que não produz
alimentos saudáveis para quem pode comer e amplia a insegurança alimentar,
aumentando a fome da população.”
Suely Araújo,
especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, alertou que
o projeto, além de reduzir o poder de Ibama e Anvisa, viabiliza o registro de
agrotóxicos comprovadamente nocivos e cancerígenos. “Não há nada na Lei do
Veneno que assegure a aprovação de agrotóxicos efetivamente seguros para o meio
ambiente e a saúde da população. Facilitar o registro de agrotóxicos no País
está longe de ser caminho para uma agricultura ambientalmente responsável. A
narrativa da modernização é falsa”, comenta Araújo.
A avaliação da
especialista é a de que, no atual momento, o Congresso liderar o debate pela
redução da dependência dos agrotóxicos. “Há proposta legislativa nessa
perspectiva pronta para a pauta na Câmara, o PL 6670/2016, que o governo e a
Presidência da Câmara não têm qualquer interesse em colocar para deliberação.
Esperamos que o Senado mostre respeito à vida e descarte a Lei do Veneno.”
EM TEMPO: A população brasileira precisa melhorar a qualidade do voto. Não é possível continuar votando em políticos atrasados politicamente e sem bom senso. É o mínimo que se pode reivindicar. Esse governo Bozo com o atual Congresso Nacional vão liquidar o Brasil e o seu povo. O próximo Presidente vai encontrar "terra arrasada".
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