Em nota, Antônio Barra Torres lembra que é general da Marinha e critica falas do presidente sobre vacinação de crianças de 5 a 11 anos
O GLOBO - Mariana Muniz
08/01/2022 - 20:35 / Atualizado em 08/01/2022 - 21:21
O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, com o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, ao fundo Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/10-03-2021
BRASÍLIA — O presidente da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, rebateu o presidente Jair Bolsonaro
(PL) neste sábado e pediu para que o mandatário apresente provas caso tenha
informações sobre eventuais ilegalidades ocorridas na agência na liberação da
vacina contra a covid-19 para crianças. Barra Torres também cobrou uma
retratação do presidente.
"Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar", escreveu Barra Torres em uma nota divulgada na noite deste sábado, em que lembrou ser general da Marinha.
Disse ainda o presidente da Anvisa:
"Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios,
exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita,
se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela
frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito
pelo contrário", apontou.
A Anvisa entrou na mira de Bolsonaro após a agência autorizar a
aplicação de vacinas contra a covid-19 em crianças de cinco a 11 anos de idade,
no dia 16 de dezembro. Desde que a Anvisa aprovou a vacina da Pfizer para uso
infantil, o presidente tem dado declarações contrárias à imunização de
crianças.
Na última quinta-feira, o presidente criticou a autorização
dos imunizantes, questionando "qual o interesse das pessoas taradas por
vacina". Bolsonaro disse que os pais de crianças não devem se
deixar levar pela "propaganda" e afirmou desconhecer casos de óbitos
causados pela doença nessa faixa etária — apesar de dados do próprio governo
mostrarem 301 mortes.
Continue lendo
— A Anvisa, lamentavelmente, aprovou a vacina para crianças entre
5 e 11 anos de idade. A minha opinião, quero dar para você aqui: a minha filha
de 11 anos não será vacinada. E você tem que ler o que foi feito ontem no
Ministério da Saúde, o encaminhamento disso daí, para você decidir se vai
vacinar o seu filho de 5 a 11 anos ou não — disse Bolsonaro, em entrevista à
Rádio Nova, de Pernambuco.
"Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor
indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique,
Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha
pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu
tenho o privilégio de integrar", rebateu o presidente da Anvisa neste
sábado.
Barra Torres ainda disse:
"Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou
morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer
isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais
praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter",
afirmou.
Hoje difícil, a relação entre Bolsonaro e Barra Torres sofreu um
desgaste ao longo dos últimos dois anos de pandemia — mas nem sempre foi assim.
Em março de 2020, o presidente da Anvisa chegou a participar de atos
pró-governo ao lado do presidente, sem o uso de máscaras. Ao longo de 2021,
porém, a Anvisa passou a ganhar os holofotes por sua atuação técnica, em
contraponto à postura antivacina do presidente. Por ter um mandato, Barra
Torres não pode ser demitido.
Dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da
Covid-19, vinculada ao Ministério da Saúde, mostram que 2.978 diagnósticos de
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid ocorreram em crianças de 5 a
11 anos, com 156 mortes, em 2020. E em 2021, já foram registrados 3.185 casos
nessa faixa etária, com 145 mortes, totalizando 6.163 casos e 301 mortes desde
o início da pandemia.
Na terça-feira, o Ministério da Saúde chegou a realizar uma
audiência pública para debater o tema. Representantes de entidades científicas,
parlamentares, entre outros, participaram do debate. Na ocasião, a pasta
pressionou pela adoção de prescrição médica para vacinação. Como O GLOBO
revelou, depois, a pasta decidiu não exigir a receita médica.
A seguir, leia a íntegra da nota divulgada pelo presidente da Anvisa:
Em relação ao recente questionamento do Presidente da República,
Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual
pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor
Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil,
servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e
honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram
que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma
auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente
do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de
ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um
paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos,
mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer
digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à
frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que
pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de
corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor
Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa
aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho
o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça
a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se
retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela
frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada.
Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa Contra-Almirante RM1 Médico Marinha do
Brasil
EM TEMPO: É isso aí Bozo: "quem diz o que quer, ouve o que não quer". O ex-presidente, general e ditador Ernesto Geisel, já dizia que Bozo era um mal militar. Já o Comandante das Forças Armadas, naquela época, general Leônidas Pires, proibiu Bozo de visitar os quarteis. Bozo nunca foi bom sujeito e quando Parlamentar fazia parte do "Baixo Clero". Perguntar não incomoda: Porque os militares, especialmente os graduados, embarcaram nessa "barca furada" que é o governo Bozo?
ESTADÃO: A postura atual do chefe da Anvisa difere de seu comportamento no início da pandemia. Em março de 2020, antes de ser confirmado no cargo pelo Congresso, ele esteve, ao lado do presidente, em uma manifestação de bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em maio do ano passado, Barra Torres admitiu que foi “um ato inadequado".
Nenhum comentário:
Postar um comentário