FOLHApress - CAMILA MATTOSO, FABIO SERAPIÃO E FLÁVIO FERREIRA
sáb., 1 de janeiro de 2022
***ARQUIVO***BRASÍLIA,
DF, 28.03.2019 - O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) durante entrevista
à Folha em seu gabinete em Brasília (DF). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As atuais gestões do Ministério da Justiça e da Polícia Federal cancelaram a criação de uma delegacia em Petrolina, Pernambuco. A cidade é a base eleitoral do agora ex-líder do governo de Jair Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
A instalação da delegacia da Polícia Federal tinha sido autorizada na época em que André Mendonça, atual ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), era titular da pasta. Um imóvel para abrigar a nova delegacia chegou a ser escolhido no local, após chamamento público, e um contrato de aluguel foi redigido, mas o projeto não vai mais sair do papel. Os planos começaram a ser feitos em julho de 2020, a pedido da então superintendente de Pernambuco, Carla Patrícia, que alegou ser importante substituir a sede da PF no Sertão Pernambucano, trocando Salgueiro por Petrolina, que fica a 720 km do Recife.
Em documento para embasar a solicitação de mudança, ao qual o jornal Folha de S.Paulo teve acesso, a delegada argumentou que a unidade em Salgueiro foi criada apenas por ser ali o "polígono da maconha". Ela alegou que há anos a Polícia Federal vem realizando na região operações de erradicação para combater o ilícito, não havendo necessidade de manter uma estrutura no local. Há também entre as razões apresentadas a alta rotatividade do efetivo.
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Para defender Petrolina como nova sede do sertão do estado, Carla Patrícia argumentou tratar-se da cidade de maior destaque e importância da região, a sexta mais rica de Pernambuco, onde instalaram-se redes de escolas particulares, do setor hoteleiro e de gastronomia. Além disso, segundo ela, há um aeroporto no município por onde passam 1.600 pessoas por dia e mais de 10 toneladas de carga aérea.
A autorização da nova delegacia chegou a ser publicada em edição do Diário Oficial em março de 2021. Após a chegada de Anderson Torres ao Ministério da Justiça e de Paulo Maiurino ao comando da PF, os planos mudaram. A criação da nova unidade estava prevista para o julho deste ano, mas, em 11 de maio, o Ministério da Justiça pediu à PF uma reanálise da intenção por causa do "cenário de restrição orçamentária".
No mês seguinte, em 14 de junho, a PF se manifestou contrária à nova delegacia por meio de um despacho assinado pelo gabinete de Maiurino. "Considerando os novos objetivos estratégicos da Polícia Federal, o presente projeto não se encontra entre as demandas prioritárias, conforme definido em reuniões de diretores", escreveu a direção da polícia.
O despacho em que o gabinete de Maiurino informa que o projeto deixou de ser prioridade, porém, não traz informações sobre os motivos e apenas indica a definição feita em reunião com diretores. A nova delegacia acarretaria à PF uma despesa a mais de cerca de R$ 600 mil. Como não havia recursos na PF de Pernambuco, foi feito um pedido de suplementação de crédito orçamentário, o que foi autorizado.
"Informamos que existe espaço
orçamentário para suportar a contratação pretendida, devendo a SR/PF/PE
utilizar esse Despacho como Declaração de Disponibilidade Orçamentária",
consta em documento assinado pelo coordenador de Orçamento, Finanças e
Contabilidade da PF, no mês de abril, dias antes de o Ministério da Justiça
questionar as restrições orçamentárias.
Em 21 de julho, a PF em Pernambuco
arquivou em definitivo o processo de criação da nova delegacia.
O ex-líder do governo Fernando Bezerra foi alvo de investigações da Polícia Federal nos últimos anos. Em junho, a PF indiciou o senador e um de seus filhos, o deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE), por suspeita dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, associação criminosa, falsidade ideológica e omissão de prestação de contas.
Também nesse ano, a PF pernambucana deflagrou uma operação contra desvios na Prefeitura de Petrolina, comandada por Miguel Coelho (DEM), filho de Bezerra. Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou em dezembro, enquanto era líder do governo no Senado o congressista foi o responsável por endereçar R$ 330 milhões à regional do órgão federal Codevasf em Petrolina, em um período em que o filho dele prefeito da cidade busca candidatura ao governo estadual.
Em relação a 2019, o valor de cerca de R$ 180 milhões foi repassado por meio da indicação do senador com a utilização de um mecanismo orçamentário chamado termo de execução descentralizada (TED). O presidente da Codevasf, Marcelo Andrade, usou a expressão "recursos extra parlamentares" para se referir à indicação de parte desse valor, em documento de dezembro de 2019, segundo papéis obtidos pela Folha de S.Paulo via Lei de Acesso à Informação.
Já em 2020 a destinação de R$ 150
milhões ocorreu por meio das chamadas emendas de relator, que são atualmente a
peça-chave do jogo político em Brasília responsável pela sustentação da base
aliada de Bolsonaro no Congresso. A modalidade foi incluída no Orçamento de
2020 pelo Congresso, que passou a ter controle de quase o dobro da verba
federal de anos anteriores.
A reportagem da Folha de S.Paulo
esteve em Petrolina no fim de novembro e constatou como estão sendo aplicadas
localmente as verbas federais destinadas pelo congressista.
Na região, a entrega de cisternas
compradas com recursos carimbados com a marca do parlamentar tem sido
condicionada ao apoio político ao grupo do filho do senador que é prefeito do
município.
Essa indicação pessoal e sem
critérios objetivos por meio de emendas ocorre ao mesmo tempo em que é
realizado um desmonte do programa federal de entrega de cisternas, intitulado
Programa Cisternas, que possui regras gerais e fiscalização social por
conselhos municipais, associações e ONGs.
O senador também direcionou verbas
para obras de pavimentação na cidade, mas o asfalto entregue ganhou até
apelidos. É chamado de farofa ou Sonrisal, em referência ao esfarelamento dos
trechos pavimentados.
O material usado derrete com o forte
calor e gruda nos calçados dos moradores e, quando ele se quebra em pedaços,
começa a esfarelar.
Verbas também foram enviadas pelo
congressista para a aquisição de cisternas, caixas-d'água, tratores,
implementos agrícolas e tubos de irrigação.
Porém dezenas desses equipamentos são
mantidos amontoados em depósitos do órgão federal Codevasf e já dão sinais de
desgaste com o tempo. Alguns deles, como canos e reservatórios de água, estão
lá há mais de um ano, segundo relato de moradores da região.
Problemas em reforma levaram a
desistência, diz PF Em nota enviada pela sua assessoria de imprensa, a Polícia
Federal afirma que problemas na reforma da sede da corporação em Pernambuco
acabaram levando à desistência da instalação da delegacia em Petrolina.
Segundo a PF, "após a declaração
de disponibilidade orçamentária, a Superintendência da Polícia Federal em
Pernambuco teve dificuldades com a construtora vencedora da licitação para a
reforma da sede da PF no estado e, como o orçamento para a obra estava inscrito
em restos pagar, a verba foi cancelada sem a possibilidade de aproveitamento.
Com o incidente, foram realizados estudos pela administração local para
construção de uma nova sede da SR/PE, o que acarretou impactos orçamentários
relevantes".
"Diante desse novo cenário,
foram realizados novos contratos de locação para abrigar o contingente dos
servidores e colaboradores em um edifício comercial com o pagamento de
condomínio, que aumentou sobremaneira as despesas da SR/PE, fazendo com que a
Coordenação-Geral de Orçamento e Finanças da PF tivesse que aumentar a cota da
unidade", de acordo com a nota.
A PF afirma que "após a
realização de várias reuniões com a atual administração da SR/PE no intuito de
adequar as despesas da unidade dentro dos limites orçamentários
disponibilizados, zelando por uma gestão orçamentária e financeira pautada em
boas práticas, decidiu-se pela revisão do ato de disponibilidade orçamentária
para implantação da delegacia".
"A cidade de Petrolina/PE já é
coberta pela Delegacia de Polícia Federal em Juazeiro/BA, município limítrofe,
além da Superintendência da PF em Pernambuco e das delegacias de Polícia
Federal em Caruaru/PE e Salgueiro/PE. Assim, a não criação da delegacia não
representa prejuízo para as investigações e ações da Polícia Federal na
região", completa a nota.
A reportagem procurou o Ministério da Justiça, o
senador Fernando Coelho Bezerra, o deputado Fernando Coelho Filho e a
Prefeitura de Petrolina, mas não obteve respostas até a publicação da
reportagem.
EM TEMPO: Interessante é que a maioria da imprensa, especialmente a burguesa de PE, nada fala a respeito desses rapazes "bons" de Petrolina. Convém lembrar que a CODEVASF está sendo usada para atender os políticos em regiões alheias as áreas de atuação da CODEVASF. É uma farra total, isto é. com dinheiro público, nesse governo do "Santo Bozo" (rsrsrsrs). No próximo governo Lula, essa rapaziada que domina Petrolina, não deve ter ingerência na política federal.
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