Yahoo, Redação Notícias
ter., 23 de novembro de 2021
Um clima de tensão
e medo tomou conta do conjunto de sete favelas, onde vivem cerca de 60 mil
pessoas na região metropolitana do Rio de Janeiro. (Foto: REUTERS/Ricardo
Moraes)
As mortes por uma onda de violência no complexo de favelas do Salgueiro,
em São Gonçalo (RJ), subiram para ao menos 10 desde o fim de
semana, informou a polícia fluminense nesta terça-feira.
Além da morte de um sargento da
polícia no sábado em um suposto ataque de criminosos e dos oito corpos encontrados por moradores em um manguezal na segunda-feira após
uma operação policial, uma nova morte foi contabilizada pela polícia. Segundo a
Polícia Militar, o morto teria participado do ataque que matou o sargento.
“Uma equipe do Samu foi acionada ao Salgueiro
por conta de um indivíduo ferido, e criminosos armados obrigaram a retirada
deste do local. O homem foi a óbito e reconhecido por policiais do 7ºBPM como
um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição no sábado“, informou a PM em
nota.
A morte do agente de segurança foi seguida de uma série de operações da PM
no local. Um clima de tensão e medo tomou conta do conjunto de sete
favelas, onde vivem cerca de 60 mil pessoas na região metropolitana do Rio de
Janeiro.
Na segunda-feira, oito corpos foram
encontrados por moradores do Salgueiro após uma operação do Batalhão de
Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar fluminense no local.
Segundo a polícia, das oito vítimas,
sete foram identificadas, e cinco tinham antecedentes criminais. As vítimas
usavam roupas camufladas.
Nas redes sociais, moradores da comunidade
afirmaram que o número de mortos pode ser maior. Parentes das vítimas disseram
que há suspeita de tortura em alguns dos corpos e alegam que havia marcas de
facadas e tiros.
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A polícia nega que tenha ocorrido excessos ou maus tratos na ação no complexo do Salgueiro.
Defensoria Pública, Ministério
Público, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro (Alerj) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanham de
perto o caso.
Defensora pública
crê que ação policial foi “operação vingança”
A defensora pública do Rio de Janeiro, Maria Júlia Miranda, a operação no
Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro, foi uma “operação vingança”.
A declaração foi dada em entrevista ao Uol News nesta terça-feira (23).
Maria Júlia Miranda também criticou a
ação policial por não terem registrado um ferimento de uma senhora de 71 anos,
atingida no braço. “Existe uma estigmatização do território da favela, como se,
obrigatoriamente, estivessem submetidos à violência do Estado”, afirmou ao Uol.
O Ministério Público já investiga o
caso. A defensa defendeu a apuração: “A política pública precisa ser
compreendida como uma forma decente de fazer essas operações”. Até a tarde da
última segunda-feira (22), sete dos oito corpos encontrados foram identificados.
Pedido de
investigação da ONU
O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediu para que seja feita
uma investigação, em um processo independente, sobre a chacina que
ocorreu ao longo do fim de semana no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro.
Na última segunda-feira (22),
famílias tiraram corpos das vítimas da região do mangue após policiais fazerem
uma intervenção na comunidade. Até o momento, nove corpos foram encontrados.
No sábado, um policial militar,
Leandro da Silva, morreu durante operação no Complexo do Salgueiro e, no dia
seguinte, diversos moradores foram assassinados. Familiares e amigos falaram em
sinais de tortura nos corpos encontrados. A suspeita é que a chacina tenha sido
uma retaliação.
Oito corpos foram
encontrados por moradores do Salgueiro após uma operação do Bope da Polícia
Militar no local. (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
Segundo o Uol, o Alto Comissariado da
ONU mostrou preocupação com o ocorrido e pediu a identificação dos responsáveis.
“Nosso escritório pede ao Ministério Público que conduza uma investigação
independente, completa, imparcial e eficaz sobre essas mortes, de acordo com
padrões internacionais”, declarou a porta-voz da entidade, Marta Hurtado.
Sinais de tortura
Segundo a TV Globo, moradores das
Palmeiras classificam a ação policial como uma chacina. “Os corpos estão todos
jogados no mangue, com sinais de tortura. As pessoas, uma jogada por cima da
outra. Estava com sinal totalmente de chacina mesmo”, revelou um morador do
local.
Outra moradora afirmou que muitos
conhecidos foram mortos pelos PMs. “A gente estava gritando no mangue para ver
se consegue tirar, mas todos mortos”, disse.
À TV Globo, uma terceira moradora
disse que as mães das vítimas estão entrando na região do mangue para resgatar
os corpos. “As mães estão entrando dentro do mangue. Com o mangue acima do
joelho para poder tentar puxar os corpos”, detalhou à TV Globo.
Ao jornal Extra, outra pessoa que
vive no local revelou que, entre as vítimas, havia pessoas envolvidas com o
crime, mas também “pais de família”. Além disso, o morador revelou que não
foram encontradas armas junto aos corpos.
“Tinham pessoas envolvidas com o
crime? Tinham. Mas a grande maioria não tem nada com o fato. Muitas pessoas
estão desfiguradas. Se eles tivessem a intenção de prender, não teriam feito
isso. Quem correu se salvou. Essas mortes aconteceram de ontem para hoje. (Os
policiais militares) passaram de sábado para domingo e ontem durante o dia eles
saíram e voltaram. Se fosse troca de tiros, os jovens não estariam assim. Eles
fizeram uma chacina. Resgatamos os corpos e não achamos nenhuma arma. Morreu um
PM em um dia e no outro eles fizeram uma chacina."
da Reuters
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