Foto: Renata Regina |
Nota Política do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
A crise econômica, social e política ganhou novos contornos no Brasil com as manifestações de 7 de setembro convocadas por Bolsonaro, o aparente recuo posterior do presidente para ganhar tempo em sua declaração à nação, a resistência das forças classistas nas ruas, além do ato esvaziado do MBL em 12 de setembro.
Esses
acontecimentos demonstram o acirramento da luta de classes em nosso país, com o
reposicionamento de frações das classes dominantes, o aumento do isolamento de
Bolsonaro, bem como a disputa política e ideológica entre as forças de
esquerda. Demonstrou também que as classes dominantes não querem tirar
Bolsonaro do governo. Preferem desgastá-lo, visando buscar uma terceira via e
ganhar certa estabilidade para que possam intensificar a agenda neoliberal no
Congresso Nacional, pauta com a qual todos estão de acordo.
As manifestações de 7 de setembro demonstram que Bolsonaro realizou um ensaio geral visando uma ruptura institucional, mas ainda não conseguiu reunir forças suficientes para atingir seus objetivos. Podemos dizer que o 7 de setembro convocado pelos grupos reacionários e por fascistas tinha como objetivo testar as forças que apoiam o presidente e “tirar uma foto” para pressionar o Supremo Tribunal Federal a recuar nas investigações contra Bolsonaro e sua família, emparedar o Congresso para impor medidas restritivas às liberdades democráticas e amedrontar vários setores da sociedade, especialmente as forças de esquerda, com as ameaças de golpe.
Foi nesse sentido que o presidente genocida fez
declarações de que não mais acataria as decisões do Supremo Tribunal Federal.
Como houve uma grande reação de vários segmentos sociais e suas manifestações
não alcançaram a magnitude que imaginava, ele sentiu o isolamento e a
possibilidade de impeachment e por isso resolveu recuar.
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Entretanto, não
podemos subestimar o fascismo e a complexa composição de apoio ao intento
golpista. Mesmo isolado, com crescente queda de popularidade e repudiado
internacionalmente, Bolsonaro ainda conta com o apoio de largas frações das
classes dominantes, dos setores do agronegócio – com destaque para o setor da
soja -, dos empresários destruidores da Amazônia, dos que exploram trabalho
escravo, da maioria dos líderes das igrejas neopentecostais, de facções
militares e dos grupos mafiosos organizados em torno da família Bolsonaro.
Esses setores financiaram as manifestações com financiamento a caravanas de
ônibus de várias partes do Brasil, alimentação, pagamento de hotéis para os
manifestantes e farto material de propaganda distribuídos em todo o país.
Mesmo assim,
Bolsonaro está mais frágil agora do que quando assumiu o governo, em função das
ações criminosas durante a pandemia, do escandaloso desemprego que já atinge 21
milhões de trabalhadores, da informalidade que se aproxima dos 40 milhões de
trabalhadores, das filas da fome que atingem 19 milhões de brasileiros, além da
carestia, com aumento dos preços do arroz, do feijão, da carne, do óleo, da
luz, do gás, da gasolina, o que vem reduzindo dramaticamente o poder de compra
da população. Além disso, o Brasil chegou à absurda marca de 600 mil vidas
perdidas e os efeitos dessa catástrofe sobre milhões de pessoas atingidas pela política
negacionista promovida pelo governo. Podemos dizer que a maioria da população
brasileira rejeita esse governo, muito embora ainda não tenha encontrado formas
de organização mais efetivas para demonstrar essa insatisfação por meio da luta
organizada.
A luta de classes em nosso país exige cada vez mais ações efetivas para derrotar o governo genocida antes de 2022. Nesse sentido, é profundamente equivocada a posição de certas forças de esquerda que estão pensando muito mais nas eleições do próximo ano do que na realização efetiva da luta contra o governo e os ataques promovidos pelo capital. Tais forças vacilaram na convocação do primeiro ato de rua no dia 29 de maio e somente na última hora, quando a convocação já tinha ganhado contorno de massas, é que determinadas organizações se juntaram às manifestações. Da mesma forma, agora no 7 de setembro novamente vacilaram, fizeram corpo mole e fizeram de tudo para desmobilizar os atos de rua ligados ao Grito dos Excluídos.
No entanto, a vida provou que não se pode enfrentar o fascismo
fugindo da luta e espalhando pânico entre aqueles que querem combatê-lo. As
forças que resistiram no 7 de setembro em cerca de 200 cidades do país,
mobilizando centenas de milhares de pessoas, realizaram uma tarefa histórica, pois
impediram que Bolsonaro se transformasse em dono das ruas.
Não podemos esquecer
que a Declaração à Nação de Bolsonaro representa uma mistura de isolamento,
desespero e tática para ganhar tempo. Poucas pessoas acreditam na sinceridade
das palavras escritas por Temer e lidas por Bolsonaro, afinal, o presidente
genocida sabe que, se for impedido, seu destino e o de sua família pode ser a
cadeia. O recuo de Bolsonaro desorientou a sua base social e isso poderá
reduzir a sua capacidade de mobilização, pois já ficou provado que ele, para
salvar a pele, costuma abandonar os aliados pelo caminho. No entanto, a carta
não apaga seus crimes e as barbaridades que cometeu nesses mais de dois anos de
governo.
Ainda não está claro qual foi o acordo realizado entre Bolsonaro e as classes dominantes para a divulgação da carta, mas com certeza o objetivo da burguesia é buscar um mínimo de estabilidade para aprofundar os ataques contra os trabalhadores, uma vez que as histrionices de Bolsonaro estavam atrapalhando tanto os negócios quanto a aprovação da pauta neoliberal no Congresso. Além disso, o recuo reduz no curto prazo a possibilidade de medidas para tirá-lo do governo e, ainda, Bolsonaro ganha tempo para reorganizar suas forças e buscar sobreviver até o final do seu mandato.
Mas não nos iludimos de que deixarão de ocorrer novas ameaças
golpistas, pois sua base protofascista demonstrou disposição e fidelidade ao
discurso reacionário contra as liberdades democráticas. Por isso, não vamos
baixar a guarda: nossa tarefa é ampliar o trabalho de base para incorporar
novos setores da população à luta organizada para derrotar o governo e barrar a
agenda burguesa de ataques aos direitos da classe trabalhadora. Em especial,
devemos concentrar esforços para mobilizar aqueles que não foram às ruas para o
Grito dos Excluídos, os principais atingidos pela crescente miséria e violência
social.
O PCB se orgulha muito em ter sido um dos protagonistas da retomada das manifestações nas ruas. Entendemos que a luta nesse momento exige firmeza, combatividade e ampliação do diálogo com a população nos bairros, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades, para que possamos transformar o dia 2 de outubro, próximo Dia Nacional de Lutas, numa manifestação muito maior que os atos anteriores.
É necessário
combinar de forma criativa a mobilização pelo Fora Bolsonaro-Mourão com a luta
contra o desemprego, a carestia, a miséria e a fome que atinge a maioria da
população brasileira, contra a reforma administrativa, o marco temporal dos
povos indígenas e quilombolas, contra as privatizações e o sucateamento do SUS
e das universidades, pois estas são as pautas mais sensíveis ao conjunto da
classe trabalhadora e que podem trazer para a luta os milhões que atualmente
estão contra o governo mas ainda não demonstram isso de forma organizada nas
ruas.
Está na hora de apostar no fortalecimento e na organização dos trabalhadores, buscando tanto a preparação de um processo de greve geral contra esse governo genocida e sua política de terra arrasada, como um longo e dedicado trabalho de reorganização de nossa classe, mediante a construção, no momento mais favorável da luta de classes, de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, a partir do qual se possa produzir um programa comum e uma unidade orgânica dos trabalhadores e das trabalhadoras.
O PCB continuará apoiando e trabalhando para o fortalecimento do
Fórum por Direitos e Liberdades, que reúne atualmente o sindicalismo mais
combativo do país, e seguirá participando dos espaços unitários de luta contra
o governo, mas jamais nos somaremos a manifestações promovidas pelas forças da
direita, que desejam aprofundar a agenda neoliberal. A hora é de avançar na
ofensiva e ampliar a luta pelo “Fora Bolsonaro e Mourão! Impeachment já!”,
bandeira que para nós representa não só a luta contra o governo, mas contra o
capitalismo e pela construção do Poder Popular, no rumo do Socialismo.
Todos aos atos do dia
2 de Outubro!
Fora Bolsonaro,
Mourão e Guedes! Impeachment Já!
Em defesa dos
direitos da classe trabalhadora e das liberdades democráticas!
Construir o ENCLAT e
preparar a Greve Geral!
Pelo Poder Popular e
pelo Socialismo!
Comitê Central do PCB
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