quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Recuo de Bolsonaro após atos golpistas surpreende integrantes do governo e desagrada militância

 

O GLOBO - Jussara Soares e Evandro Éboli 

qui., 9 de setembro de 2021

BRASÍLIA — O recuo do presidente Jair Bolsonaro após insuflar a militância com falas antidemocráticas durante os atos de 7 de Setembro surpreendeu integrantes do primeiro escalão do governo e desagradou apoiadores. A “declaração à nação” foi construída com a ajuda do ex-presidente Michel Temer e um pequeno grupo de auxiliares do Planalto. O presidente foi convencido como o único caminho para estancar o agravamento da crise política. A medida, porém, foi avaliada como drástica por contrariar a base mais fiel do presidente, que já protesta nas redes sociais.

Agora, o Palácio do Planalto espera que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, também faça um gesto pela pacificação. Antes da divulgação do texto, Bolsonaro chegou a conversar por telefone com Moraes em uma ligação intermediada por Temer. Como mostrou o colunista Lauro Jardim, Bolsonaro e Moraes ficaram de se encontrar em breve.

Responsável pelo inquérito das fake news, Moraes determinou a prisão de aliados do presidente e se tornou o principal alvo da militância. O ministro do STF havia sido chamado de “canalha” por Bolsonaro na manifestação da Avenida Paulista na terça-feira. Nesta quinta-feira, Bolsonaro, no texto divulgado, disse que suas “palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum."

O ex-presidente foi o responsável pela indicação de Moraes ao STF e, no ano passado, já havia sido procurado pelo próprio Bolsonaro para receber conselhos. No mês passado, o chefe da Casa Civil, ministro Ciro Nogueira, já tinha procurado Temer em meio ao acirramento da crise com o Judiciário pedindo que ele atuasse para reconstruir as relações entre os Poderes.

Continue lendo. 

Um dia após os atos e diante da reação negativa do presidente do STF, Luiz Fux, partidos políticos e do mercado, Nogueira articulou a ligação de Bolsonaro para Temer na quarta-feira. Nesta quinta-feira pela manhã, o presidente mandou um avião buscar seu antecessor em São Paulo para ajudá-lo a buscar uma saída para a crise institucional. O temor no Planalto era que a escalada dos ataques poderia ter um final imprevisível.

Segundo interlocutores do Planalto, Temer já chegou com um rascunho da carta pronta. O texto, porém, passou por ajustes sugeridos pelo advogado-geral da União, Bruno Bianco, e pelo chefe da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário. O documento divulgado às 16h25 no site do Palácio do Planalto.

Boa parte do governo, incluindo o primeiro escalão, só soube da declaração do presidente no momento da divulgação. Integrantes criticaram o modo como o texto foi elaborado e apontaram falta de personalidade de Bolsonaro.

Um dos principais aliados, o pastor Silas Malafaia, que não só orienta o presidente, mas tem viajado com ele país afora, mostrou sua decepção nas redes sociais, mas evitou romper ou criticar o presidente. Preferiu desferir ataques a Alexandre de Moraes.

"Continuo aliado, mas não alienado. Bolsonaro pode colocar a nota que quiser. Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que resgou a Constituição e prendeu gente inocente. Minhas convicções são inegociáveis" - postou Malafaia.

Outro apoiador ferrenho de Bolsonaro, o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, foi irônico e também evitou ataques direto ao presidente. "A nota do Temer foi para mostrar que o povo não deve exercer seu poder diretamente. Não votei no Temer".

Parlamentares mais próximos do Palácio do Planalto preferiram o silêncio e suas últimas postagens versam ainda sobre o 7 de Setembro, com ataques ao STF. Nem tocam na nota do presidente. Nem mesmo os três deputados que estiveram com o presidente na tarde desta quinta, mediando o problema da paralisação dos caminhoneiros, trataram do assunto nas suas redes. Bibo Nunes (RS), Carla Zambelli (SP) e Vítor Hugo (GO) preferiram ignorar a nota na qual Bolsonaro diz que as acusações contra Moraes foram num momento de calor. E preferiram citar a ordem de prisão contra o Zé Trovão, caminhoneiro que propagandeou os atos 7 de Setembro nos dias que antecederam à data.

Enquanto a base do governo está atônita, a oposição parece se divertir com a situação de Bolsonaro, não só pelo recuo demonstrado na carta à Nação, como o autor do texto ser Michel Temer. "Só pra lembrar. A última vez que Temer foi chamado pra ajudar presidente a beira do impeachment, deu ruim" - publicou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara dos Deputados.

EM TEMPO: Na linguagem sindical essa farrapada é própria dos "pelegos". Enquanto que na popular, aqui no Nordeste, chama-se: "obrou na rabichola". Quer ache bom, ou não, para se dar um golpe é preciso combinar com o governo dos EUA. Parece-me que o presidente Joe Biden não nutre simpatia pelo Bozo, apesar dos interesses econômicos e estratégicos do imperialismo norte-americano. Convém lembrar que Bozo, quando exercia a função de Deputado Federal, estimulou a greve dos caminhoneiros na época do governo do ex-presidente Temer, que por sua vez ajudou a golpear e cassar a ex-presidente Dilma, para em seguida assumir a presidência. Bozo incentivou a uma porção de radicais e malucos  a agirem com certo grau de terrorismo e depois os abandonou. Daí a decepção. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário