qui., 9 de setembro de 2021
BBC NEWS BRASIL
Bolsonaro recua
após chamar Moraes de 'canalha' e ameaçar não cumprir suas decisões
Após dias de ataques inflamados ao
Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom por
meio de uma nota oficial nesta quinta-feira (09/09). No comunicado, o
presidente disse que autoridades não têm o direito de "esticar a
corda" e que não teve intenção de agredir outros Poderes.
O recuo retórico veio após
caminhoneiros bolsonaristas travarem dezenas de rodovias no país em apoio aos
ataques do presidente contra o Poder Judiciário. Bolsonaro, porém, ficou
preocupado com o impacto dessa mobilização na economia e pediu na noite de
quarta-feira que seus apoiadores liberassem as estradas.
"Nunca tive nenhuma intenção de
agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas
determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz
o comunicado.
Após chamar o ministro do STF
Alexandre de Moraes de "canalha" em discurso na Avenida Paulista
durante ato em seu apoio no feriado de 7 de setembro, Bolsonaro indicou ter se
excedido.
"Sei que boa parte dessas
divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas
pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news. Mas na
vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de 'esticar a
corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia", diz
ainda o comunicado.
Continue lendo
"Por isso quero declarar que minhas
palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates
que sempre visaram o bem comum", acrescentou o presidente.
Moraes é relator de investigações
contra Bolsonaro e seus aliados, entre elas o inquérito das Fake News, citado na
nota presidencial.
O presidente e seus apoiadores
consideram que o ministro tem cometido abusos e desrespeitado a liberdade de
expressão ao determinar a prisão de seus aliados, inclusive porque algumas
dessas decisões foram tomadas sem participação da Procuradoria-Geral da
República.
Já os que apoiam a atuação do
ministro dizem que os investigados nesses inquéritos cometem crimes ao ameaçar
ministros do STF e defender o fechamento da Corte e do Congresso Nacional.
Antes dos atos em seu apoio no 7 de
Setembro, Bolsonaro disse que os protestos tinham objetivo de
"enquadrar" o STF. E, ao discursar no feriado, chegou a dizer que não
cumpriria decisões de Moraes.
"Deixe de oprimir o povo
brasileiro. Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que
todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês que qualquer
decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá",
discursou, na Avenida Paulista.
Mensagens em grupos de caminhoneiros revelam racha na categoria sobre apoio ao bloqueio de rodovias
Já na nota divulgada nesta
quinta-feira, o presidente reconheceu que decisões judiciais devem ser
contestadas dentro dos trâmites jurídicos.
"Em que pesem suas qualidades
como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do
Ministro Alexandre de Moraes. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas
por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos
direitos e garantias fundamentais previsto (sic) no Art. 5º da
Constituição Federal", afirmou o presidente.
"Reitero meu respeito pelas
instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em
favor do povo e todos respeitando a Constituição", continuou.
Bolsonaro disse também que sempre
esteve "disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela
manutenção da harmonia e independência entre eles".
E finalizou a nota agradecendo
"o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus
princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil".
Os apoiadores mais radicais do
presidente, porém, demostraram frustração com seu recuo nos últimos dias. O
áudio de Bolsonaro pedindo o fim dos bloqueios de rodovias pelo país provocou
grande confusão em grupos de caminhoneiros e apoiadores do presidente no
WhatsApp, Telegram e redes sociais monitorados pela BBC News Brasil.
Alguns bolsonaristas que participam
da paralisação se disseram "decepcionados" e "traídos",
enquanto muitos se recusam a acreditar que a voz seja de Bolsonaro, mesmo
depois de o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, gravar um
vídeo confirmando a autenticidade.
'Live' nas redes
sociais
Na noite de quinta-feira, Bolsonaro
fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais, na qual começou parabenizando
"todos que se manifestaram pacificamente no último dia 7 pelo Brasil, dia
da nossa Independência" e onde mostrou imagens e exaltou os números de
manifestantes presentes.
Sem mencionar diretamente os ataques
que fez naquele dia a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF),
principalmente Alexandre de Moraes, Bolsonaro afirmou que na avenida Paulista,
na cidade de São Paulo, "talvez pela proximidade do carro de som, tudo
ficou mais inflamado".
O presidente comentou sobre a nota oficial que publicou na quinta-feira, que segundo ele foi redigida com o auxílio do ex-presidente Michel Temer (MDB) — a quem ele diz ter telefonado na noite de quarta-feira e com quem se encontrou em Brasília no dia seguinte por cerca de uma hora.
"A resposta (através da nota)
foi o seguinte: eu estou pronto para conversar. Por mais problema que eu tenha
com o Arthur Lira (presidente da Câmara), com o Rodrigo Pacheco (Senado), o
ministro Fux (Luiz Fux, do STF), com o Barroso (Luís Roberto Barroso) lá do TSE
(...) Tô pronto para conversar", disse Bolsonaro, acrescentando ter
respeito às instituições.
"Você pode brigar com um
ministro do Supremo, você pode brigar com um senador, mas não com o Senado, com
o Supremo. Tenho certeza que bons frutos (do diálogo) aparecerão nos próximos
dias."
Em um trecho da transmissão, o
presidente voltou a questionar o resultado da eleição presidencial de 2018 que
o alçou ao poder, afirmando acreditar ter tido mais votos do que o computado.
Ele citou novamente o nome de Barroso e afirmou que o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) deveria melhorar a segurança da votação.
O presidente mencionou ainda a
paralisação de caminhoneiros em seu apoio, movimento que ele caracterizou como
uma "coisa fantástica". Destacando não ter influência na decisão dos
caminhoneiros, ele afirmou que estes o comunicaram pretender terminar com a
paralisação no domingo.
"Falaram que iam manter o
movimento até domingo, é um direito deles, e vão suspender depois de domingo,
essa é a ideia de muitos deles ali. Eu não influencio nessa área. Fui bem
claro, se passar de domingo, segunda, terça, a gente começa a ter problema
seríssimo de abastecimento, influencia na economia, aumenta inflação. Os
problemas se voltam contra nós: contra eles que fizeram o movimento e contra eu
por ser chefe de Estado", disse Bolsonaro, para quem os caminhoneiros já
deram um "recado enorme" a favor da Constituição.
Reação do
Judiciário
A manifestação em tom mais brando de
Bolsonaro veio após o presidente do STF, Luiz Fux, e o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, reagirem com dureza aos ataques
de Bolsonaro.
Na quarta-feira, Fux enfatizou que
ignorar decisões judiciais configuraria crime de responsabilidade, o que
poderia culminar na abertura de um processo de cassação contra Bolsonaro.
"O Supremo Tribunal Federal
jamais aceitará ameaças à sua independência nem intimidações ao exercício
regular de suas funções", disse Fux, ao abrir a sessão de julgamento do
STF.
"O Supremo Tribunal Federal
também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às
decisões judiciais ocorre por iniciativa do Chefe de qualquer dos Poderes, essa
atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de
responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional", reforçou.
Já Barroso voltou a repudiar os
ataques de Bolsonaro ao sistema eletrônico de votação. Sem apresentar provas, o
presidente tem levantado dúvidas sobre a segurança das urnas brasileiras.
"A democracia tem lugar para conservadores,
liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à
Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos.
A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la", disse o
presidente do TSE.
EM TEMPO: O golpe fracassou no dia D, 07.09.2021, por isso Bozo recuou feio e cabisbaixo. Mas, ele pode tentar novamente. Por isso temos que estarmos em alerta permanente para defendermos as Liberdades Democráticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário