ESTADÃO - Bruno Ribeiro e Tulio Kruse
© TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Ato contra Bolsonaro do dia 12 de setembro na Paulista: com diferenças entre lideranças oposicionistas, impeachment não avança
A uma semana do
próximo ato nacional que deve levar manifestantes às ruas das principais
cidades brasileiras pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, marcado para o dia 2 de outubro, lideranças políticas à esquerda e à direita ainda
debatem se é possível coordenar os esforços de antigos rivais na campanha.
O Estadão questionou o comando de
14 legendas dos mais variados espectros políticos que declaram oposição ao
atual governo, do PT ao Novo, sobre quais são os entraves que dificultam uma
eventual união em torno da bandeira do “Fora Bolsonaro”. Os principais motivos
informados pelos partidos vão de falta de consenso interno sobre a abertura de
um processo contra o presidente a questões relativas a interesses que têm como
norte a eleição presidencial de 2022.
Em comum, todos os
partidos integram o fórum Direitos Já!, que se tornou um dos polos de oposição
que tentam construir uma frente ampla para pressionar o presidente da Câmara
dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL) a abrir o processo de
impeachment de Bolsonaro. Algumas dessas siglas, no entanto, não têm ainda
posição sobre o assunto.
Parte das
lideranças argumenta que o ambiente para a formação de uma ampla coalizão se
construiu a partir das manifestações do último 7 de Setembro. Na ocasião, ao
discursar em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro ameaçou
descumprir ordens judiciais do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF) – o que em tese configura crime de responsabilidade –, e seus
apoiadores pediram uma intervenção militar no País e o fechamento da Corte.
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Outros líderes
partidários ponderam que seriam necessários gestos no sentido de uma clara
suspensão da pré-campanha de 2022 para que todos os partidos e seus pré-candidatos
pudessem se concentrar na abertura do processo de deposição do presidente.
Para alguns
partidos de centro, no entanto, entrar de vez no bloco do impeachment ainda é
uma incerteza. Siglas como o PSD e MDB ensaiaram uma mudança de posição nos
dias seguintes aos atos do Dia da Independência, mas, com o recuo na forma de
uma carta à Nação divulgada por Bolsonaro nas redes em tom de desculpas a
Moraes, os dirigentes partidários agora sinalizam uma acomodação. Uma grande
mobilização popular nas ruas das principais cidades brasileiras em oposição a
Bolsonaro é citada por todos como uma condição essencial para a mobilização
conjunta, sem a qual o cenário não deve mudar.
Para o coordenador
do Direitos Já, Fernando Guimarães, é preciso deixar de lado as diferenças e se
unir em torno de um objetivo comum. “Quem tiver compromisso com a democracia
vai colocá-la acima de tudo”, disse Guimarães, que tem se esforçado para juntar
no mesmo palco representantes de correntes divergentes e até rivais políticos.
“Este é um momento em que precisamos estar preocupados em mobilizar a
sociedade, e somar na rua todos aqueles que tenham a clareza da sua
responsabilidade histórica, para deixar de lado as questões eleitorais e os
projetos políticos.” PSDB, PDT, Cidadania e PV devem estar no ato do dia 2 pelo
impeachment de Bolsonaro com os partidos de esquerda na Avenida Paulista.
O QUE PENSAM OS
DIRIGENTES
“Houve uma confusão
por parte dos companheiros que decidiram não ir (ao ato no dia 12). Eu reputo
isso um erro. A história do mundo mostra que nos momentos-chave, decisivos,
você tem de tirar da discussão aquelas coisas que são menores. Falta
desprendimento, em primeiro lugar, de não levar em consideração o inimigo
principal. O que falta é terem essa visão do compromisso com o momento, que é
muito grave. A prioridade é efetivamente garantir a democracia para que
possamos ter eleições livres, soberanas e, acima de tudo, garantir a posse de
quem seja eleito. Não podemos debater agora a eleição.”
“É difícil imaginar
mais 16 meses com Bolsonaro, com esse padrão de desgoverno que ele tem. É
preciso que seja feito um acordo nacional. Sou a favor do ‘Fora Bolsonaro’, mas
a questão não pode se resumir ao impeachment. Eu falo em impeachment como
sinalização. O País está à deriva. O ‘fora Bolsonaro’ cria muita convergência,
mas cada um interpreta de um jeito. Essa conjuntura é muito dinâmica. Essas
gavetas de esquerda, direita, centro-esquerda e centro-direita estão travando o
debate. É um jogo de palavras. Fui em todas as manifestações contra Bolsonaro.
Seria preferível que as manifestações se unissem.”
Eduardo Ribeiro, presidente do Novo
Falta definir se
realmente querem o impeachment ou se a pauta será só retórica eleitoral. Não
vejo o PT, por exemplo, se esforçando pelo impeachment. A saída de Bolsonaro
despolariza e enfraquece o Lula nos eleições. O Novo está num espectro político
diferente do restante da oposição, não temos articulação conjunta. Mantemos
nossa posição institucional, mas o cenário depois do dia 7 de setembro, com o
recuo constrangedor do Bolsonaro, assentou as forças políticas em Brasília de forma
que, se nada muito grave acontecer, o impeachment se tornou muito improvável. O
Centrão e o PT não querem.
“Em primeiro lugar,
esse ato do dia 2 é um momento que percebo que pode selar essa unidade. É
preciso ter muita generosidade das forças políticas para agregarem outros
atores, para dar musculatura à luta pelo impeachment. Por último, é preciso
povo na rua. É o que falta. A pressão sobre o Congresso Nacional é um elemento
central nessa campanha. Sem isso, não tem impeachment. Nossa prioridade é unir
as forças de oposição em defesa da democracia e pelo impeachment já. Essa é a
centralidade.”
Juliano Medeiros, presidente do PSOL
“A oposição está
unida em defesa do impeachment. Apresentamos um pedido unitário que reúne
partidos, movimentos e parlamentares de diferentes espectros partidários meses
atrás. Os protestos de rua caminham para uma unificação. Falar em ‘oposição
fragmentada’ não faz mais sentido. Nossa prioridade é o fortalecimento da campanha
pelo #ForaBolsonaro. O impeachment depende de um deslocamento de partidos e
deputados que hoje dão sustentação ao governo Bolsonaro, que só pode ocorrer a
partir da pressão popular nas ruas, num amplo movimento de rejeição ao governo
Bolsonaro.”
Junior Bozzella, vice-presidente do PSL
“Fui nas
manifestações da esquerda e estive também na manifestação (contra Bolsonaro) da
direita. Acho que nós, que defendemos a democracia, temos o dever de fazer um
gesto nesse sentido: baixar as bandeiras agora e buscar unidade. A construção
dessa frente ampla não pode ser conduzida por partido A ou B, e sim por uma
entidade isenta. No PSL não temos uma deliberação sobre apoiar ou não o
impeachment. Eu sou signatário do impeachment e tenho liberdade para me
posicionar. Esse tema do fechamento de questão nunca foi debatido dentro da
nossa Executiva Nacional.”
Isnaldo Bulhões, integrante da executiva nacional do MDB
“Acho que a união
da oposição na verdade já existe. Desconheço qualquer dissidência nesse
sentido, eles defendem a pauta de admissibilidade do processo de impeachment.
Quanto ao MDB: na minha opinião o impeachment é apagar fogo com gasolina. Um
processo desses logicamente tem de ir ao encontro de várias vertentes. Acho
pouco prudente colocar neste momento como prioridade a admissibilidade do
processo de impeachment. O posicionamento do partido, tanto no Senado quanto na
Câmara, é manter a independência que tem tido sempre. Discutimos o mérito pauta
a pauta.”
Alessandro Molon, integrante da executiva nacional do PSB
“É importante que o
ato pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro não tenha um dono. Considero
que a participação dos demais partidos é muito importante e estão havendo
tratativas para a adesão, e não tenho a menor dúvida de que ela virá. Espero
que a gente consiga já para o dia 2 de outubro mas, se por acaso isso não se
viabilizar, tenho plena convicção que até 15 de novembro a gente consegue isso.
Não são partidos políticos que estão sendo convidados por serem convidados.
Estão sendo convocados para serem também autores da convocação – portanto,
coorganizadores.
Gilberto Kassab, presidente do PSD
O PSD acompanha e
propõe soluções para as reais necessidades do País, como superação da crise
econômica e da pandemia de covid. Participa do debate democrático e cobra que a
Constituição Federal seja respeitada por todos os agentes públicos. O partido
entende que, a partir da inobservância da Constituição, pode ser levada adiante
a proposição de afastamento do presidente da República ou outras sanções.
Jefferson Coriteac, vice-presidente do Solidariedade
O dia 7 de
Setembro, com a ameaça à democracia e à nossa Constituição, foi o estopim para
começar essa união. Acho que agora começa essa organização, a partir de hoje. O
Solidariedade, junto com partidos de oposição, já fizeram um documento para o
'Fora Bolsonaro'. No fórum do Direitos Já!, há partidos que não são
declaradamente de oposição ao governo, mas que estão unidos na defesa da
democracia. Dentro em breve, acho que deve haver uma ação muito maior. Nossa
prioridade é lutar pela defesa dos direitos dos trabalhadores, dos mais
necessitados, não deixar que a democracia e a Constituição sejam afetadas.
Estamos lutando para que as pessoas possam se alimentar e viver, porque hoje
temos preços altíssimos e pessoas sem condições de se manter.
Soninha Francine, integrante da executiva nacional do Cidadania
Unir a oposição
fica mais fácil quando você já tem um ponto de partida, um bloco para
demonstrar isso. Para demonstrar que é possível. Se estivesse todo mundo
sozinho tentando chamar para si, ficaria mais difícil, lógico. Mas é muito bom
que a gente já pode demonstrar. É por aí. Não precisa começar do zero, já temos
uma construção. Nosso partido tem 90% de alinhamento com o tema. Pelo País, às
vezes, e até na Câmara, há integrantes que destoam. Mas eles que destoam: é um
posicionamento que é deles. O partido é historicamente a favor de alianças,
Partido Comunista, depois o PPS herdando isso. Temos posição.
Heloísa Helena, porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade
Falta pensar menos
no calendário eleitoral e mais nos escombros de lágrimas, lutos e sofrimentos
pelos quais passa o Brasil. Muitas pessoas acham que devem deixar o Bolsonaro
sangrar para, de alguma forma, facilitar a disputa eleitoral. Na verdade, ele
não está sangrando. Quem está sangrando pelo desemprego, pelo desespero, por
luto e lágrimas, é a grando maioria do povo. É só isso: não ficar refém do
oportunismo eleitoral. Estamos articulando com todas as forças sociais para
que, conjuntamente, possamos viabilizar a abertura de processo por crime de
responsabilidade. Ao mesmo tempo, nós estamos atualizando os 18 eixos
estratégicos para um Brasil sustentável, porque a democracia sem justiça social
não existe. Estamos atualizando nosso projeto para o País, fazendo todos os
debates necessários para, até dezembro, ter um projeto para o Brasil na mão. A
vida que possibilita mudanças estruturais profundas não está presente apenas
nas cúpulas partidárias, é muito importante temos compreensão para não achar
que os partidos são os ungidos com as únicas possibilidades de fazer
transformação social.
Luciana Santos, presidente do PCdoB
Falta a percepção
de que é preciso deixar essa disputa de 2022 para o momento certo. Na prática,
muitas forças acabam colocando essa agenda da eleição na frente. Por mais que
não seja algo deliberado, na base social e política há muita incompreensão de
como conviver com os contrários, com quem já foi Bolsonaro e agora é a favor do
impeachment. A confusão é natural de momentos de crise, mas com paciência vamos
conseguir ir fazendo o convencimento político dessa necessidade. Do ponto de
vista tático, nossa prioridade é desmascarar, isolar e derrotar Bolsonaro.
Programaticamente, é a bandeira da democracia. Na agenda econômica, nós temos
muitas diferenças e também na agenda social.
José Luiz Penna, presidente do PV
A reunião (do
domingo, dia 12) não foi um fracasso. Bolsonaro pôs tudo (na organização dos
atos no dia 7). Temos de ter visão de que essas coisas são cumulativas. Se não
foi possível juntar no dia 12 todos os partidos, acho que no dia 2 nós vamos
conseguir juntar todos os partidos e movimentos. Tudo isso (a divergência entre
partidos) fica pequeno diante da possibilidade de nem termos eleição. Talvez o
que se jogue fora é a última oportunidade do Brasil. Estamos falando sem parar.
Agora, os processos eleitorais do Brasil são muito excludentes. Mas estamos
enfrentando.
EM TEMPO: Eis algumas sugestões, porém sucintas, relativas as manifestações de rua com integrantes de diversos matizes:
1 - Mote: Fora Bolsonaro + Contra o Fascismo + Vacina para todos + Liberdades Democráticas + Urna Eletrônica + CPI da COVID + Apoio ao STF + Meio ambiente;
2 - Não ter cartaz alusivo a possíveis candidatos(as) a quaisquer cargo para as Eleições 2022;
3 - Traje e bandeiras livres para os manifestantes, porém de acordo com o "Mote" da manifestação e temas correlatos, a exemplo de: Fora Bozo/Mourão + Contra o feminicídio + processo contra os golpistas + abaixo a carestia + contra a reforma administrativa + contra as privatizações de estatais + ajuda de custo de R$600,00 para a população carente e desempregada + .....;
4 - Adoção relativa as orientações sanitárias de prevenção contra a COVID;
5 - Garantir a fala dos representantes, mediante relação prévia, de todos os matizes, mas com tempo igualitário para os oradores;
6 - Não agressão verbal e/ou física entre os manifestantes;
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