Yahoo, Redação Notícias - Matheus Pichonelli
seg., 5 de julho de 2021
Foto: Cristina
Szucinski/Anadolu Agency (via Getty Images)
Não é só um detalhe no ordenamento
numérico.
Chamado de 01 pela filha e a mulher
de Fabrício Queiroz, em um áudio de WhatsApp obtido pelo UOL, Jair Bolsonaro
foi lançado ao topo da hierarquia de um suposto esquema de desvio de recursos
públicos eufemisticamente chamado de “rachadinha”. O diminutivo esconde a
gravidade da acusação.
O que se investiga é se Bolsonaro e
família retinham e colocavam no bolso o salário de seus funcionários no
legislativo. A suspeita, reforçada pelo áudio de uma ex-cunhada do hoje
presidente — que se queixa em um dos áudios da demissão do marido por devolver
apenas parte do salário combinado com o ex-capitão— coloca Bolsonaro pai no
centro das suspeitas. Não é exatamente uma surpresa, mas o conjunto dos áudios
é a materialidade que faltava.
Até então, um dos mantras de seus
apoiadores, alguns já envergonhados pela escolha de 2018, era que eles elegeram
o pai, não os filhos —como se o deputado na época fosse um disciplinador
disposto a puxar a orelha dos filhos quando se desviavam do bom caminho.
Os áudios sugerem que Bolsonaro era o
mentor da malcriação. Uma malcriação bancada pelo eleitor ao longo dos anos. E
que, de grão em grão, daria para comprar até mansão em área nobre da capital.
A revelação mina ainda mais a imagem,
artificialmente construída, de vigilante da luta anticorrupção que serviu como
aditivo da campanha de Bolsonaro a presidente.
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Em Brasília, fala-se abertamente da
possível existência de outras gravações capazes de complicar a vida do
ex-capitão.
Bolsonaro é investigado por
supostamente prevaricar no estranho caso das compras das vacinas indianas. Ele
foi avisado que havia pedregulho na encomenda e nada fez para evitar.
Bolsonaro já não é o deputado do
fundão da sala com uma equipe paga para que ele e os filhos nada fizessem de
útil em seus tempos de parlamentares. Ele é o presidente responsável por tomar
medidas que afetam diretamente a vida da população.
Já são 524 mil mortos em uma pandemia
em que o país poderia ter se saído muito melhor do que se saiu.
Em guerra com estados, prefeituras,
STF e parte do Congresso, o governo federal demorou a adquirir vacinas, espalhou
inverdades sobre máscaras, distanciamento social e o imunizante desenvolvido
por seu adversário em São Paulo, estimulou aglomerações, vendeu como milagre
uma série de medicamentos sem eficácia, apostou na imunidade de rebanho e
colheu novas variantes que levou compatriotas a morrerem sufocados, sem
cilindro de oxigênio, em hospitais superlotados.
Não fosse o suficiente, agora se
descobre que pessoas sem as qualificações mínimas foram recebidas no Planalto
para propor negócios vergonhosos envolvendo aquisição de vacinas, que não
tinham, e supostas propinas por dose. Foram pegos com a boca na botija e hoje
se digladiam em público escancarando segredos que só surpreendem quem nunca se
perguntou o que faziam Bolsonaro e família nos tempos das rachadinhas.
Mesmo os mais entusiastas apoiadores
do governo teriam vergonha de dizer que por trás das patadas do ex-capitão
havia um mente brilhante, pacificadora e apta ao desafio histórico a que se
propôs. O despreparo do hoje presidente sobre assuntos básicos já causou
espanto até em seus auxiliares mais próximos.
A partir de agora, soará cada vez
mais estranho colocar honestidade e Bolsonaro na mesma frase.
Vai ver é por isso que ele tem subido
o tom, ameaçado não entregar o cargo em caso de uma derrota quase certa na
eleição e postado mensagens que mais confundem do que esclarecem seus
seguidores inflamados.
Ganha um curso intensivo de
comunicação de crise com Carlos Bolsonaro quem entender o que o presidente quis
dizer com o seguinte tuíte postado no domingo à noite, quando uma reportagem do
Fantástico destrinchava as mensagens de um cabo da PM envolvendo propinas no
ministério da Saúde: “Vamos supor uma autoridade filmada numa cena com menores
(ou com pessoas do mesmo sexo ou com traficantes) e esse alguém
("Daniel") passe a fazer chantagem ameaçando divulgar esse vídeo”.
A insanidade cansa. Já deu o que
tinha que dar. É o que as ruas demonstraram, mais uma vez, no fim de semana.
É o que prometem continuar demonstrando enquanto
essa insanidade, que de ingênua não tem é nada, continuar.
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