ISTO É
Continua muito mal contada a história do ataque da Polícia Militar de Pernambuco aos manifestantes de esquerda que caminhavam pelo Recife, no sábado 29.05.2021.
O caso teve hoje um desdobramento importante: a troca no comando da corporação. O coronel Vanildo Maranhão pediu exoneração do cargo e foi substituído pelo também coronel José Roberto Santana.
Mas isso, por si só, não ajuda a esclarecer se a ação foi toda orquestrada por oficiais da PM ou se houve também alguma participação do governo.
Essa última
hipótese não pode ainda ser descartada. Não é segredo que a cisão na esquerda
em Pernambuco é particularmente forte. Uma passeata encabeçada pelo PT não
seria necessariamente bem vista pelo governador do PSB, que talvez tenha se
sentido afrontado pelo desrespeito a um decreto seu que proíbe aglomerações no
Estado.
É sabido que Antônio Pádua, o Secretário de Defesa Social de Pernambuco, acompanhou a passeata no sábado em um centro de monitoramento, juntamente com o comando da PM. Ele pode ter ordenado a dispersão do ato público. Ou pode ter ficado em silêncio depois que a repressão começou.
Nesses dois casos,
o ex-comandante da polícia Vanildo Maranhão está arcando sozinho com uma
responsabilidade que deveria ser compartilhada com o governo de Paulo Câmara
(PSB).
Esse é um enredo
que tem maior repercussão local. Mas há também a hipótese de que as balas de
borracha disparadas sem qualquer provocação e sem qualquer cuidado pelo
batalhão de choque expressem um bolsonarismo latente na PM pernambucana. Esse
enredo traz repercussões nacionais.
Perfis da PM nas
redes sociais trazem indícios de que esse pode ser o caso. No fim de semana, um
perfil não oficial da Rocam de Pernambuco deixou estampados os dizeres “Contra
o Comunismo” no Instagram e no Twitter.
Além disso, a
página oficial de um batalhão da PM de Recife ajudou a propagar uma informação
falsa, disseminada em blogs de direita, segundo a qual a polícia apenas reagiu
a um ataque feito com pedras.
Esse incidente de
fato aconteceu, mas bem depois dos disparos que deixaram dois homens cegos e
causaram o término da passeata anti-bolsonarista quando ela se preparava para
cruzar a ponte Duarte Coelho. Ele nada teve a ver com a manifestação.
O governo de
Pernambuco não pode deixar no ar essa ambiguidade. Precisa esclarecer qual o
seu papel no incidente lastimável do fim de semana e também se a Polícia
Militar subordinada a ele está, ou não, agindo segundo ditames que vêm de
Brasília e nada têm a ver com a cadeia de comando e as questões locais de
segurança.
EM TEMPO: Não é à toa que Bozo quer que as PMs estejam sob o crivo do governo federal para diminuir o poder dos governadores, principalmente quando os mesmos restringem a circulação de pessoas para diminuir a propagação do vírus COVID 19. Mas, é sabido que há milhares de militares bolsonaristas nas fileiras das PMs. O que aconteceu no Recife se caracteriza como um crime cometido pelos policiais militares que reprimiram uma manifestação pacífica. É preciso frear a politização das PMs.
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