ISTO É - Antonio Carlos Prado
Governantes e
autoridades dos mais diversos setores da engrenagem social têm o dever de dar
transparência a seus atos – trata-se de um princípio basilar do regime
republicano. Vale lembrar a maravilhosa e definitiva definição do já falecido
Louis Brandeis, um dos mais eficientes juízes que teve assento na Suprema Corte
dos EUA: “A luz do sol é o melhor detergente”.
No Brasil, no
entanto, a República se faz de patrimonialismo, e ocupantes de cargos do Estado
transformam-no em seus próprios quintais. Apagam a luz, gostam do escuro, e,
assim, decretam sigilo sobre aquilo que merece claridade porque toda a
sociedade tem o direito de saber. Vejamos alguns exemplos:
O comandante do
Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, abriu uma averiguação
disciplinar em relação ao ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pelo
fato de ele ter participado de comício político-partidário no Rio de Janeiro –
isso é vedado a militares pelo Regimento Disciplinar das Forças Armadas. Surge,
então, o presidente Jair Bolsonaro, que não quer que Pazuello seja punido, e
ordena por telefone que a nota oficial do Exército, explicando o processo, seja
mantida em segredo. A sociedade foi jogada no escuro dos interesses pessoais e,
em decorrência, mesquinhos. O Estado de Direito e a República foram atropelados
por Bolsonaro.
A polícia civil do
Rio de Janeiro está envolvida até o pescoço na chacina de vinte e oito pessoas
na Favela do Jacarezinho. Em meio às investigações… surpresa: a secretaria de
Polícia Civil colocou sob sigilo, por cinco anos, incursões policiais
realizadas nas comunidades desde 5 de junho do ano passado. Ou seja, a
sociedade nada saberá sobre Jacarezinho e outros investigações que apuram
eventual cometimeto de abusos por parte de policiais.
Em janeiro último,
Jair Bolsonaro decretou sigilo de um século para a sua carteira de vacinação –
… gente, cem anos para uma carteira de vacinação. O motivo é óbvio: ele, que se
diz contra vacina, que propala que a pessoa que tomá-la “vira jacaré”, é claro
que se vacinou contra a Covid, escondido, antes de qualquer brasileiro. E não
quer que vejam a carteira.
Façamos uma viagem
no tempo, olhemos pelo retrovisor o ano de 1889. No dia 15 de novembro
proclamou-se a República – de fachada. Com a República ainda engatinhando, já
se pensou em decretar sigilo sobre toda a documentação referente ao
período de escravatura no País. Conseguiu-se, e, dessa forma, por um bom tempo
ficou valendo a louca tese de que não houvera escravos pretos em nosso chão.
Pior: Rui Barbosa, um dos maiores gênios que o Brasil já gerou, fez uma absurda
proposta: incinerar toda a documentação referente ao período.
A conclusão a que
se chega é apenas uma: como aqui no País políticos e autoridades têm muita
roupa suja, é melhor esquecer o sol e o detergente aos quais se referiu
Brandeis.
EM TEMPO: Alguém tem dúvida que Bozo já tomou a vacina? Será que foi a "comunista" (rsrsrs)?
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