qui., 1 de abril de 2021
Lula durante seu
primeiro discurso após a anulação da condenação (Alexandre Schneider/Getty
Images)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em
entrevista na noite desta quinta-feira (1º/4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva deixou aberta a possibilidade de o PT buscar alianças com setores de
centro para a eleição de 2022 e criticou outros presidenciáveis que publicaram
na quarta (31) um manifesto em defesa da democracia.
"O PT é um partido grande. Vamos
construir alianças com setores de esquerda. Se for preciso alianças com o
centro, vamos tentar", afirmou, em entrevista ao jornalista Reinaldo
Azevedo.
O manifesto criticado pelo ex-presidente foi assinado por Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). “Aprovo qualquer manifesto que defenda a democracia. Mas todos eles tiveram a chance de deixar a democracia garantida e votar no Haddad [na eleição de 2018]. Mas preferiram votar em Bolsonaro”, disse o ex-presidente. “O Ciro foi pra Paris”, afirmou Lula.
O petista conversou por uma hora e 20
minutos Azevedo no programa de rádio É da Coisa, da BandNews. Ainda sobre o
“Manifesto pela Consciência Democrática”, Lula lançou outra provocação que
levou Azevedo aos risos. “Tome muito cuidado com isso, quando tenta pescar em
terra seca, não tem peixe. Num país deste tamanho, você não inventa candidato.
Quando inventa, o resultado é nefasto.”
O documento gerou críticas em setores de esquerda pela oposição que representa à candidatura de Lula em 2022. Para os presidenciáveis, a participação do petista representaria uma repetição da polarização do pleito anterior, com a disputa de dois políticos tidos por eles como populistas e extremistas. Sobre a eleição presidencial do próximo ano, Lula disse que não necessariamente precisa ser candidato, embora esta hipótese não seja considerada nem no PT nem no meio político em geral.
“Neste ano de 2021 não quero discutir
2022. Este ano é ano de todos nós que temos responsabilidade fazermos um
esforço para que este país tenha vacina para todo mundo, que é a única garantia
que vamos ter. Precisamos ter auxílio emergencial pro trabalhador poder ficar
em casa e comer. Precisamos de auxílio pro microempreendedor poder continuar
existindo.”
Ao longo da conversa, Lula disparou
críticas contundentes ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem chamou
de “genocida” na condução do país na pandemia.“Espero que o Bolsonaro esteja
assistindo essa entrevista. Porque queria mandar um recado pra ele: Deixe de
ser ignorante, presidente. Quando tiver vacina pra todo mundo, aí todo mundo
vai querer voltar a trabalhar. E o país vai crescer.”
Na atual conjuntura, disse, não há solução para o Brasil. “Qual é a confiança que Bolsonaro passa ao povo brasileiro? Que confiança Guedes passa? Essa gente não fala em povo e em política social. o Guedes precisa dizer como o estado vai fazer investimento.” Lula completou que Bolsonaro deveria parar de falar apenas com seus milicianos e passar a se dirigir, com responsabilidade, aos 200 milhões de brasileiros.
Em grande parte da conversa, Lula também criticou as ações da Lava Jato que levaram a sua prisão em 2018. Condenado em segunda instância, foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e impedido de disputar as últimas eleições presidenciais. Mês passado, contudo, decisões do STF, como a de que o ex-juiz Sergio Moro não foi imparcial na condução do processo do triplex no Guarujá, devolveram ao petista a chance de se candidatar.
Reinaldo Azevedo, um dos principais críticos dos métodos da Lava Jato na imprensa, compartilhou as críticas de Lula. Nos governos Lula e Dilma, contudo, Azevedo foi um opositor contumaz. Em 2011, por exemplo, escreveu que “Este Brasil que manda a política para a página de polícia é uma criação genuína de Luiz Inácio Lula da Silva.”
Assista a entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=vlvjciPQrq4
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