Foto: Buda Mendes/Getty Images |
EXTRA - Cássia Almeida
ter., 6 de abril de 2021
A pandemia deixou 19 milhões com fome em 2020,
atingindo 9% da população brasileira, a maior taxa desde 2004, há 17 anos,
quando essa parcela tinha alcançado 9,5%
Mais de 116 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar no Brasil
Crise social agravada pela pandemia deixou 19
milhões com fome durante o ano de 2020
A incidência da fome é maior nas casas chefiadas
por mulheres e por negros
Pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população não teve certeza se haveria comida suficiente em casa no dia seguinte, teve que diminuir a qualidade e a quantidade do consumo de alimentos e até passou fome. São 116,8 milhões de pessoas nessa situação de insegurança alimentar no Brasil, de acordo com pesquisa divulgada na segunda-feira pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), que reúne pesquisadores e professores ligados à segurança alimentar.
A pandemia deixou 19 milhões com fome em 2020, atingindo 9% da população
brasileira, a maior taxa desde 2004, há 17 anos, quando essa parcela
tinha alcançado 9,5%. E quase o dobro do que havia em 2018, quando o IBGE
identificou 10,3 milhões de brasileiros nessa situação.
“A pesquisa revela um processo de intensa aceleração da fome, com um
crescimento que passa a ser de 27,6% ao ano entre 2018 e 2020. Entre 2013 e
2018, o aumento era de 8% ao ano. Chegamos ao final de 2020 com 19 milhões de
pessoas em situação de insegurança alimentar grave, mas podemos supor que agora
no primeiro trimestre deste ano a situação já piorou ainda mais. É urgente
conter essa escalada. Não se pode naturalizar essa questão como uma fatalidade
sobre a qual não se pode intervir”, destaca Francisco Menezes, analista de
Políticas e Programas da ActionAid.
Quem é mais afetado pela alta da
fome?
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Rosana Salles, uma das pesquisadoras responsáveis pelo levantamento da Rede Penssan e professora de Nutrição da UFRJ, diz que além do aumento da fome, o que chamou a atenção foi a “queda brusca na segurança alimentar”, quando as famílias não têm problemas para pôr comida na mesa, que caiu de 63,3% em 2018 para 44,8%. É o menor índice da série iniciada em 2004.
— O acesso insuficiente em quantidade e qualidade da alimentação para
família cresceu muito, principalmente a insegurança leve (não há garantia de que
a família será capaz de comprar comida). Esse é o primeiro prejuízo, que vem
com a perda de emprego ou corte do salário. Mas não imaginávamos que menos da
metade da população tivesse segurança alimentar no Brasil.
A insegurança alimentar leve subiu de 20,7% em 2018 para 34,7%, em 2020,
“mostrando que a classe média não foi poupada dos efeitos da pandemia”, afirmou
Renato Maluf, coordenador da Rede PENSSAN.
E as perspectivas não são animadoras. No último trimestre do ano
passado, quando a pesquisa foi feita, ainda estava sendo pago o auxílio
emergencial no valor de R$ 300. Benefício que foi cortado no início do ano e só
começou a voltar nesta terça-feira, três meses depois, num valor menor e para
menos famílias.
A incidência da fome é maior nas casas onde a renda per capita é de meio
a um salário mínimo, as que são chefiadas por mulheres e por negros.
Existe fome em 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres. Quando a
pessoa de referência é um homem, a parcela dos que passam fome é de 7,7%.
Pessoas pretas ou pardas enfrentam insegurança alimentar grave em 10,7% dos
lares, contra 7,5% entre os brancos.
— Já tínhamos visto isso em dados de 2018. Quando a pessoa de referência
de família é mulher, é negra ou tem baixa escolaridade, a fome aumente ainda
mais — diz Rosana.
A pesquisa teve apoio do Instituto Ibirapitanga e parceria de ActionAid
Brasil, Fundação Friedrich Ebert Stiftung Brasil e Oxfam Brasil.
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