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© Divulgação/ FenaPRF Porta-voz da União de Policiais do Brasil
disse que Bolsonaro traiu a categoria
"Fiz campanha,
falei para os meus amigos e família voltarem no Bolsonaro porque ele ajudaria
nossa categoria, seria a favor da segurança e contra a corrupção. A gente se
mobilizou, buscou voto. Tudo isso caiu porque ele não nos enxergou depois de eleito,
não nos considerou. Para ele, a gente não existe."
Foi assim que o
presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) e
um dos líderes da União de Policiais do Brasil, Dovercino Neto, resumiu a
insatisfação dele em relação ao governo de Jair Bolsonaro em entrevista à BBC
News Brasil. De apoiador do presidente durante a campanha à presidência, hoje
ele diz que se sente traído e ameaça uma paralisação nacional da categoria nos
próximos dias.
"Na campanha,
o Bolsonaro tinha um perfil e posicionamento a favor do policial, de valorizar
e defender a categoria. A grande maioria dos policiais acreditou nesse
discurso. Mas, na primeira oportunidade, ele nos traiu ao nos incluir na
Reforma da Previdência", afirmou Neto.
Hoje, ele disse que
o segundo golpe está a caminho, com a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda
à Constituição).
Isso porque o texto
base da PEC propõe a alteração da Constituição e cria mecanismos para conter
gastos públicos para liberar R$ 44 bilhões extras para custear a volta do
auxílio emergencial. Entre os pontos da proposta, está o congelamento salarial
de parte das categorias policiais por 15 anos.
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Para a PEC ser
aprovada, falta apenas os deputados votarem destaques que podem alterar trechos
da proposta para que ela entre em vigor.
Para a União de
Policiais do Brasil, o texto "desestrutura o serviço público ao vedar, por
até 15 anos, as recomposições, já congeladas desde 2016, promoções e
progressões e contratação de servidores, levando ao sucateamento dos órgãos e,
notadamente da segurança pública brasileira".
A Associação
Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) também reagiu e disse que a aprovação
do texto pode levar a "categoria a um apagão nas próximas horas".
Dovercino Neto, da
União de Policiais do Brasil, conta que se mobilizou a favor de Bolsonaro
durante a campanha presidencial. Buscou votos com familiares, amigos e colegas
de profissão, mas que hoje "tudo isso caiu".
"Ele chegou a
dar declarações públicas e se reuniu com a gente para dizer que nos
beneficiaria na reforma, assim como fez com as Forças Armadas. Mas mentiram
para nós. Fizemos três reuniões, uma delas com o então ministro (Abraham)
Weintraub, e nos disseram que estaríamos fora do texto, mas no fim estávamos
lá", afirmou.
Para um dos líderes
dos protestos de policiais contra Bolsonaro, o presidente não valorizou os
policiais civis, beneficiando apenas as Forças Armadas e a Polícia Militar.
"Ele defendeu
bravamente os militares. Ao invés de perderem direitos, os militares de alta
patente foram extremamente beneficiados com aumentos generosos de salários na
Reforma da Previdência. O governo disse na época que queria economizar, mas fez
o inverso nas Forças Armadas. Para ele (Bolsonaro), segurança pública é só
militar e a segurança pública civil não existe", disse Neto.
"Lockdown na segurança
pública"
Para a União de
Policiais do Brasil, a gota d'água que desencadeou uma irritação generalizada
da categoria contra o presidente foi a aprovação do texto da PEC 186, que prevê
congelamento de salários e contratações, nos próximos 15 anos.
Neto diz que isso
deixou a categoria insatisfeita, desanimada e diz que isso deve provocar uma reação
instantânea nas ruas como reflexo do descontentamento com a decisão.
"Nós nos
esforçamos e trabalhamos muito mais por causa da covid no último ano. Essa
atitude do governo nos leva à desmotivação. O pessoal foi ignorado. Fazem de
conta que não existimos. Aquele risco a mais que a gente corria (nas ruas) com
certeza vai parar, na segurança pública civil, federal e estadual. Vamos fazer
um lockdown na segurança pública. Vamos fazer o básico. Não vamos dar o sangue,
ter aquele empenho adicional. Não vamos fazer uma operação padrão. Tudo isso
acontecerá de forma natural", afirmou Neto.
Neto disse ainda
que os policiais são humanos movidos por motivação. E quando trabalham
desmotivados não conseguem fazer nada além do básico.
O presidente da
FenaPRF disse que, como cidadão, ele e grande parte da categoria apoiaram a
campanha de Bolsonaro. Mas afirma que "hoje só temos resquícios de um ou
outro que apoia".
"Bolsonaro foi
uma grande decepção. Essa é a PEC da chantagem. Auxílio emergencial tudo bem
porque os mais pobres precisam de ajuda. Mas colocar uma PEC de reforma fiscal
dizendo que era por causa do auxílio não existe. Alguns culpam o Paulo Guedes,
mas ele é só um funcionário do Bolsonaro. Ele interferiu para atender os PMs,
mas nós policiais civis fomos abandonados e traídos", afirmou à BBC News
Brasil.
Para ele, nenhum
policial de segurança pública civil tem motivo para apoiar Bolsonaro.
"O governo
está no Congresso trabalhando contra nós. Colocou o general Ramos contra nós. O
filho do Bolsonaro votou contra a gente no Senado. Na Câmara, o outro filho
também. Não tem motivo para que nossas categorias fiquem de lua de mel com ele.
Nessa PEC emergencial, tentamos emendas e destaques, mas só os policiais
militares foram atendidos", afirmou.
O porta-voz do
movimento de policiais anti-Bolsonaro afirmou que entende o momento econômico
vivido pelo país e disse que não quer um aumento salarial para a categoria, mas
apenas uma garantia de qualidade de trabalho a longo prazo.
"Querem
congelar a previsão de você poder pedir aumento até 2035. Também barram
concurso, contratações, gastos estruturais. Tudo isso nos atinge. É a
fragilização e depreciação do nosso trabalho", disse ele.
Por fim, ele se
disse irritado porque o vice-presidente, Hamilton Mourão, dizer que os
policiais incluídos na PEC precisam dar uma "cota de sacrifício".
"Por que os
militares não deram essa cota até agora? A alta patente do Exército, como ele,
teve ganhos salariais e não se sacrificou. Essa declaração dele foi uma ofensa
contra nós. A gente teve redução salarial e eles aumento. Por que eles não dão
exemplo?".
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