ESTADÃO - Breno Pires e Patrik Camporez
© Waldemir
Barreto/Agência Senado Senador
Ângelo Coronel (PSD) preside a CPI das Fake News
BRASÍLIA -
Presidente da CPI que investiga as fake news bolsonaristas, o senador
baiano Angelo Coronel (PSD)
recebeu sinal verde do Palácio do Planalto para direcionar R$ 40 milhões de
recursos extras do orçamento a obras em seu reduto eleitoral. A verba consta na
planilha informal do governo, obtida pelo Estadão, que registra um repasse de R$ 3 bilhões a 285 parlamentares às
vésperas das eleições da nova cúpula do legislativo.
No Congresso,
Coronel se define como independente, mas tanto ele quanto seu partido, o PSD,
estão fechados com os dois candidatos defendidos pelo presidente Jair
Bolsonaro. A legenda fechou apoio a Arthur Lira (Progressistas-AL) na disputa pelo
comando da Câmara e a Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado.
O PSD, chefiado por
Gilberto Kassab, recebeu a maior fatia do bolo disponibilizado pelo governo às
vésperas das eleições no legislativo. Foram R$ 600 milhões, 20% dos R$ 3
bilhões. E na lista dos parlamentares do partido
que puderam indicar recursos, o presidente da Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito aparece entre os quatro mais contemplados. A pedido dele, o
governo já destinou R$ 30 milhões para obras da Companhia de Desenvolvimento
dos Vales dos Rios São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e outros R$ 10 milhões a
ações do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs).
Ao Estadão, o senador afirmou que não há
qualquer relação entre o direcionamento de recursos e as eleições do Congresso.
“É minha obrigação, como parlamentar, correr atrás de obras para o meu estado.
É normal, mas em nenhum momento foi em troca de votação”, disse. A verba já
tinha sido prometida desde o ano de 2019, argumentou. Desde então, ele diz que
não tratou mais com o governo sobre as verbas extras.
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Coronel contou que
o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) manteve a interlocução para
garantir os repasses — que foram dados em 30 de dezembro, período em que o
governo reforçou a cooptação de parlamentares. “Aqui o nosso interlocutor
direto perante o governo é o Davi Alcolumbre”, disse. “É quem assumia, tocava e
solicitava e intermediava junto aos ministérios para atender aos pleitos dos
parlamentares”, completou. “A gente fala que precisa de ajuda nos municípios
tais, tais e tais, e ele diz que vai ver e encaminhar. Isso aí, desde quando
ele assumiu o Senado, tinha esse papel, que deveria ser até dos líderes, mas
ele é quem fazia essa intermediação.”
Aliado do
presidente Bolsonaro, Alcolumbre trabalha para eleger Pacheco seu sucessor. O Estadão revelou que foi Alcolumbre quem direcionou a
maior parte dos R$ 3 bilhões liberados pelo governo.
Antes da pandemia
paralisar a CPMI das Fake News, em março, Angelo Coronel fazias críticas duras
ao governo e prometeu pautar a convocação do vereador carioca Carlos
Bolsonaro (Republicanos), filho de Jair Bolsonaro, para uma audiência no
colegiado. A convocação do secretário de Comunicação do governo, Fabio
Wajngarten, chegou a ser aprovada. A oposição pediu a antecipação da sessão,
mas Angelo Coronel não aceitou.
Agora, com a
aproximação do PSD com o Planalto e o apoio aos possíveis novos presidentes da
Câmara e do Senado que estão com Jair Bolsonaro, existe uma preocupação entre
parlamentares da oposição que integram a CPMI das Fake News de que os trabalhos
não avancem. A leitura política é que, assim que houver a retomada dos
trabalhos presenciais na Casa, o Planalto fará tudo o que for necessário para
sepultar a comissão.
Arthur Lira (Progressistas-AL) condicionou a continuidade
da CPI das Fake News à posição da maioria dos colegas. Mas, ao abordar a
criação de CPIs de uma forma geral, afirmou que
não é hora para “divisão e acotovelamento”. Pacheco foi procurado
três dias seguidos pelo Estadão para
que respondesse se está comprometido com a CPI das Fake News, mas não se
manifestou.
Angelo Coronel
reitera que seguirá “independente” e que não mudará de postura na condução dos
trabalhos. “Minha postura é imutável. Agirei com a imparcialidade como agi. Às
vezes até interpretam que eu prejudico o governo”, disse. O senador costuma
frisar que parlamentares aliados do Planalto já pediram que ele fosse retirado
da presidência da CPI, o que não foi feito.
Ele disse que já
conversou sobre a retomada da comissão com o “presidente”, numa referência a
Rodrigo Pacheco, candidato do governo ao comando do Senado. “Eu me ponho como
imparcial, independentemente de ter solicitações (de repasses de recursos)
feitas por meu mandato aprovadas em ministérios. Tanto é que tive reunião com o
Rodrigo Pacheco e disse que precisamos reabrir as sessões”, afirmou. “Ele
garantiu que tão logo as sessões presenciais fossem retomadas, provavelmente no
mês de abril, voltaríamos à nossa atividade.”
O senador avaliou
que um presidente de CPI não tem papel de “apertar” ou “folgar” os trabalhos da
comissão. Ele observa que cabe ao presidente aprovar oitivas e requisições e
encaminhar pedidos de indiciamento ao Ministério Público. “O crucial é o
relatório final, que quem faz não é o presidente e sim a relatora, que é levado
à votação na CPI para aprovar ou não”, disse.
Por sua vez, a
relatora da comissão, Lídice da Mata, do PSB da Bahia, afirmou ao Estadão que não teme por uma
mudança de postura de Angelo Coronel. Ela, porém, diz que os integrantes da CPI
terão pela frente a pressão de lideranças aliadas do Planalto. “Desse governo,
pode-se esperar tudo”, afirmou.
Rede do ódio
Instalada em
setembro de 2019, sem o aval do governo, a CPI das Fake News pode ser decisiva
para abalar os métodos digitais do bolsonarismo. O colegiado é misto, formado
por deputados e senadores, e já identificou que parte dos ataques virtuais
contra adversários do Planalto e integrantes do Judiciário veio do computador
usado por um assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho “zero três” do
presidente. Na lista de auxiliares do presidente que devem ser ouvidos está
Tercio Tomaz, apontado como responsável por contas falsas.
A CPI das Fake News
anda em paralelo com o inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.
Como mostrou o Estadão, as investigações do Supremo sobre ameaças, ofensas e
notícias falsas espalhadas nas redes sociais contra integrantes da Corte
fecharam o cerco sobre o “gabinete do ódio”, grupo de assessores do Planalto
comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Na prática, o
Planalto se movimenta para impedir qualquer CPI. É comum ministros dizerem que
todos sabem como uma comissão começa, mas nunca como termina, porque
investigações políticas, conduzidas pelo Congresso, podem levar até mesmo ao
impeachment de um presidente.
EM TEMPO: Alguém tem dúvida de que o governo Bolsonaro é sério? Como é aconselhável melhorar a qualidade do voto. Comece pelo seu município.
AGORA DURMAM COM ESSE PESADELO.
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