Coordenação Nacional da Unidade Classista
A CLASSE TRABALHADORA
E O ENFRENTAMENTO AO FEMINICÍDIO E AO RACISMO NA PANDEMIA
O ano de 2020
reafirmou de maneira dramática como a burguesia brasileira é liberal,
conservadora e naturaliza a morte das pessoas em nome da manutenção dos lucros
e dos seus privilégios de classe. Diante do avanço da pandemia do Novo
Coronavírus, pudemos acompanhar o impacto social provocado pela COVID-19. O
padrão de contaminação do vírus seguiu uma escalada social no Brasil que
atingiu primeiro a burguesia e foi descendo os estamentos sociais até alcançar
as periferias e comunidades mais carentes.
Embora a pandemia
tenha se iniciado na burguesia, ao considerarmos o retorno de muitos de seus
integrantes das suas viagens internacionais, os que foram mais impactados com a
crise sanitária foram a população negra e pobre que vive nas periferias, devido
à precariedade que sofrem por conta do racismo estrutural e pelas desigualdades
escancaradas pelo sistema capitalista. Importante lembrarmos que a primeira
morte de Covid no Brasil foi justamente de uma mulher negra trabalhadora
doméstica em São Paulo que contraiu a Covid após retorno de sua patroa de uma
viagem internacional.
Além disso, as
mulheres da classe trabalhadora foram principalmente impactadas pela pandemia.
Dados da pesquisa Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19,
solicitada pelo Banco Mundial ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP),
registraram que no primeiro semestre em 12 estados do Brasil houve um aumento
de 22% dos crimes de feminicídio.
Importante
interpretar esses números a partir da compreensão de que a formação da nossa
classe perpassa pelo reconhecimento de nossa história e formação social
brasileira, ou seja, um país que tem um passado colonial, que teve um regime
escravocrata por cerca de 300 anos. O Brasil foi o último país do mundo a
abolir a escravidão e teve a entrada no mundo capitalista forjada pela coerção
do trabalho, que nos assegurou um modelo de economia extremamente desigual. Um
país onde as mulheres vivem ainda oprimidas por uma concepção de sociedade
patriarcal e só conquistaram o direito ao voto no ano de 1927. Tudo isso diz
muito sobre o nível de opressão contra a classe trabalhadora nesse país, que em
sua maioria é formada por esses sujeitos históricos.
O MACHISMO E O
FEMINICÍDIO DURANTE A PANDEMIA
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Em uma comparação
direta entre o ano de 2019 e 2020, o número de mulheres vítimas de feminicídio
cresceu 7,1%, com a cifra assustadora de 1.326 mulheres assassinadas no Brasil,
dentre as quais 66,6% eram negras e 89,9% foram mortas pelo companheiro ou
ex-companheiro.
No mesmo documento,
foi constatado que a cada 2 minutos uma mulher é agredida no Brasil. Além
disso, a violência sexual infelizmente tem uma cifra semelhante: a cada 8
minutos ocorre um estupro e mais da metade é contra uma criança, 57,9%, a
maioria contra meninas com 13 anos de idade.
Durante a pandemia a
violência doméstica se acentuou na medida em que expôs as mulheres, que
passaram a ficar mais tempo com seus agressores, seja por trabalharem
remotamente ou por terem perdido seus trabalhos.
RACISMO E A
NATURALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA
O espancamento até a
morte de João Alberto, homem negro, no estacionamento do Carrefour em Porto
Alegre (RS), expôs ainda mais uma fratura social derivada do racismo estrutural
que permeia a sociedade brasileira. Não que essa situação seja novidade, mas
causou revolta e comoção por ter sido registrada em vídeo, ganhando ampla
divulgação, e provocou importantes manifestações em todo Brasil organizadas
pelo Movimento Negro.
O ano de 2020 foi
marcado pelo assassinato de pessoas negras, principalmente crianças. Os casos
do menino Miguel, o filho da doméstica de apenas 5 anos, morto ao cair de um
prédio de luxo, de Emily (04 anos) e Rebecca (07 anos), vitimas da violência
policial que invade as comunidades, compõem essa triste estatística.
Segundo o Atlas da
violência 2020, o jovem negro tem 2,7 vezes mais chance de ser assassinado do
que o não negro. O número de vítimas negras por intervenção da polícia é de
79,1%. Enfim, o Brasil naturalizou e banalizou a violência contra essa parte da
classe trabalhadora.
Fundamental
lembrarmos ainda o caso de Madalena, mulher negra, de 46 anos, que foi
encontrada pelo Ministério Público do Trabalho, após 38 anos vivendo sob
condições análogas à escravidão em uma residência em MG. O Ministério Público
do Trabalho (MPT) resgatou Madalena, em dezembro de 2020, da casa de uma
família mineira onde ela trabalhava, sem que tivesse registro em carteira, salário
mínimo ou descanso semanal remunerado.
COMO A CLASSE
TRABALHADORA DEVE ENFRENTAR O MACHISMO E O RACISMO
A Unidade Classista,
corrente sindical ligada organicamente ao Partido Comunista Brasileiro (PCB),
tem a convicção de que é preciso mobilizar esforços para debater e desconstruir
essa dinâmica perversa que aflige a classe trabalhadora brasileira.
Como medida
emergencial seria a construção de comissões e comitês de base, que se debrucem
sobre a temática do combate à violência doméstica e ao machismo, conscientizando
homens de que as mulheres não são sua propriedade, assim como combater a
cultura do estupro – iniciando uma campanha de conscientização mais efetiva.
Da mesma forma, com
um comitê de luta antirracista nos locais de trabalho, mobilizando os trabalhadores
a combaterem qualquer tipo de ação racista, seja cometido pelos patrões ou
pessoas que convivem no mesmo ambiente de trabalho. Agindo de forma pedagógica
contra os problemas relacionados a intolerância religiosa, preconceito ou
racismo velado.
O racismo e o
capitalismo não estão desvinculados, quando o primeiro autoriza o controle do
Estado sobre a classe trabalhadora, heterogênea e majoritariamente constituídos
por mulheres negras. Na atual crise capitalista, presenciamos forte
precarização do emprego, redução dos salários, aumento do processo de
desregulamentação do trabalho e redução dos direitos sociais para os empregados
em geral.
Por isso, nós da
Unidade Classista, para além dessas medidas mais urgentes, acreditamos que elas
são insuficientes visto que temos a compreensão de que a base estrutural do
machismo e do racismo está ligada diretamente ao sistema capitalista. Por isso,
a única saída para a classe trabalhadora é a tomada do poder, a construção de
uma sociedade socialista, onde a classe trabalhadora possa viver como já disse
o filósofo da práxis: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual,
segundo suas necessidades” – (Karl Marx).
Fontes:
Feminicídios crescem
durante pandemia – Correio Brasiliense –
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/10/4883191-feminicidios-crescem-durante-a-pandemia-casos-de-violencia-domestica-caem.html
Casos de feminicídio
cresce 22% em 12 estados no País – Agência Brasil –
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-06/casos-de-feminicidio-crescem-22-em-12-estados-durante-pandemia
Anuário Brasileiro de
Segurança Pública 2020 – https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf
Violência racial: de cada 10 pessoas mortas pela polícia, oito são
negras. Entidades cobram resposta do Estado – Geledes –
https://www.geledes.org.br/violencia-racial-de-cada-10-pessoas-mortas-pela-policia-oito-sao-negras-entidades-cobram-resposta-do-estado/
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