Nota Política do PCB de Mato Grosso
Já há alguns anos
vivenciamos atônitos as consequências da destruição do Cerrado, Amazônia e
Pantanal, nos dois últimos anos de forma ainda mais acirrada. Em 2020, como se
não bastasse convivermos com a pandemia do covid-19 e sem uma possibilidade
real de isolamento social, adoecemos também pelos já conhecidos problemas
respiratórios causados pela fumaça que vem dos grandes biomas. Todos nós de um
jeito ou outro somos afetados, e no imaginário de muitos fica a pergunta do
porquê.
Nessa época do ano,
em que somos bombardeados por campanhas de prevenção ao fogo, nos orientando a
não jogar bitucas de cigarro, não colocar fogo nas folhas secas e outras
orientações de cunho individualista, é digno que no mínimo fiquemos
desconfiados do porquê de todos esses biomas poderem ser tão facilmente
destruídos. O que estas campanhas não mostram é que pequenos focos de incêndio
não levam por si só ao nível das queimadas que temos, com cinzas descendo do
céu por toda Cuiabá, por exemplo.
Em 2019, os focos de
incêndio no Cerrado e na Amazônia dobraram no mês de setembro. Estamos
adentrando no período mais seco; neste ano já acumulamos um aumento de 2% dos
focos de queimada. Mas a degradação, ou seja, a possibilidade de que os biomas
brasileiros não se recuperem, tem crescido muito. Isso porque as ações de um
ano vão se acumulando no outro e assim por diante. Não só os focos de queimada,
mas o mato seco que resta depois da derrubada da madeira para a abertura de
pasto facilita que os focos se alastrem cada vez mais.
Em 2020 o Pantanal
vive sua maior tragédia ambiental de décadas: as queimadas que o atingem esse
ano são nove vezes maiores que o desmatamento na região dos anos 2018 e 2019
somados, atingindo ao todo 560 mil hectares, segundo dados do ICV(Instituto
Centro de Vida). Segundo o próprio instituto, o principal fator para a falta de
chuva no pantanal é a degradação da Amazônia. Com a aceleração do desmatamento
ao longo dos anos, o período de chuva tem se encurtado, tornando as secas cada
vez mais severas em várias regiões do país. Já o cerrado, até o mês de agosto,
teve mais de 12 mil focos de incêndios.
Assim, vamos nos
aproximando da grande questão: por que isso ocorre? A maior parte dessas áreas
têm servido depois para beneficiar fazendeiros que buscam o seu uso intensivo
para a pecuária, além de causar consciente e planejadamente a expulsão dos
povos tradicionais que, sem ter como garantir a reprodução de seu modo de vida,
veem-se forçados a abandonar suas terras ancestrais.
Fundamentalmente,
fica a resposta: a razão da destruição do Cerrado, como também tem sido em
outros biomas, é manter e/ou aumentar as taxas de lucros, sobretudo do
agronegócio. Isso às custas do etnocídeo e ecocídio, da cada vez maior
insegurança alimentar sob a qual padecem os trabalhadores do campo e, claro,
das consequências mais imediatas das queimadas. Não são lugares quaisquer os
que queimam: são as Terras Indígenas, as reservas extrativistas, as comunidades
tradicionais. As mesmas que constantemente são afetadas por grilagens e nas
quais os conflitos com grandes fazendeiros não de raro resultam na morte das
lideranças comunitárias. A continuidade do latifúndio como estruturante da
sociedade brasileira, agora na forma capitalista do agronegócio, é o fator
principal que faz os biomas brasileiros queimarem.
Tudo isso também é
fruto de uma política desastrosa do governo Bolsonaro/Mourão no Meio Ambiente.
Nos anos de 2019 e 2020, houve uma redução drástica na fiscalização, agindo no
desmonte dos órgãos responsáveis por essa função, inclusive o próprio presidente
já fez inúmeras afirmações contra o trabalho dos agentes do IBAMA e ICMBio. Em
abril de 2019, foi publicado pelo presidente Bolsonaro o Decreto 9.760 que
facilita a vida de quem é multado por Crime Ambiental no Brasil, pois todos que
são autuados têm o direito de uma audiência de conciliação e raramente essa
audiência acontece, dessa forma “legalizando” a devastação de nosso
ecossistema.
Assim, a superação
das queimadas e a luta pela preservação da diversidade de ecossistemas passam
pela superação do latifúndio e da estrutura de dominação de classes a qual ele
está ligado, passam pela socialização não só da política, mas também a
socialização do poder de fato, que só pode se dar com a organização e luta da
classe trabalhadora e do povo brasileiro, no campo, na cidade, nas florestas,
nas comunidades quilombolas e indígenas… na perspectiva de construção do poder
popular!
Comitê Regional do
PCB em MT.
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