Nota Política do Comitê Central do PCB
A conjuntura atual,
fortemente marcada pela continuidade da pandemia do novo coronavírus, aprofunda
a crise generalizada do capitalismo que já vinha atingindo o planeta. A
economia mundial vive um momento de recessão, com queda significativa no PIB
dos países, que chega a 12% de retração nos países centrais, com consequências
drásticas para a classe trabalhadora, como os índices extremamente elevados de
desemprego, precarização das condições de vida e do trabalho, mais ataques aos
direitos sociais e trabalhistas, aumento da miséria e da fome, recrudescimento
da repressão estatal e da violência sobre os povos. A grande exceção é a China,
que saiu da crise e já voltou a crescer na taxa de 3,2 %.
Os efeitos da crise
acirram o processo de concorrência entre empresas, abrindo espaço para a
acumulação ampliada e levando à maior centralização do capital em poucas mãos,
com a quebradeira de micro, pequenas, médias e mesmo algumas grandes empresas. Aprofunda-se
a fragmentação da classe trabalhadora, com a maior precarização das relações de
trabalho e a imposição de uma realidade cada vez mais presente entre aqueles
que são obrigados a vender a força de trabalho: a retirada de direitos
historicamente conquistados por séculos de lutas e enfrentamentos contra o
capital.
Os Estados, que representam, em sua essência, os interesses do capital, implementam, em diferentes graus, políticas de investimento e apoio financeiro a empresas, para evitar as suas falências, por intermédio dos bancos centrais. Alguns países, como a Alemanha, chegam a estatizar empresas de setores mais estratégicos, para que a economia siga funcionando durante e após a pandemia, garantindo assim a razão de ser do sistema: ampliar a exploração dos trabalhadores para manter os lucros dos capitalistas.
Na Europa está em curso uma disputa entre aqueles que
defendem a adoção das velhas receitas liberais e os que propõem medidas
intervencionistas com vistas à retomada das economias. No entanto, entre eles
há unidade na aplicação de políticas de destruição de direitos sociais e do
avanço das ações repressivas, pois o capital depende cada vez mais da
superexploração da força de trabalho, que precisa estar totalmente disponível
para a produção da mais valia.
Nos Estados Unidos, a
recessão, o aumento da pobreza e a não existência de um sistema público de
seguridade social, somados à explosão das manifestações de protesto contra a
violência policial e o racismo, ocorridas a partir do assassinato de George
Floyd, podem levar à derrota de Trump. Entretanto, isto não significa mudança
de rumo algum, pois os governos democratas seguem a mesma política de ataques
aos trabalhadores e de intervenção militar contra os povos do mundo. Além
disso, setores republicanos e elementos do “Deep State” estadunidense, que
representam os setores mais estruturais do capital, passaram a apoiar Biden.
No Brasil, a queda no
PIB chegou a 9%, com grande impacto na economia informal, que registrou
retração de 55%. Mais de 160 mil empresas já quebraram, e o desemprego atinge
mais de 13 milhões de pessoas. A informalidade é a condição predominante, e
muitos trabalhadores deixaram de procurar emprego, por absoluta falta de
perspectiva. Mais de 100 milhões de trabalhadores recorreram ao auxílio de R$
600,00, e 60 milhões conseguiram recebê-lo.
Tudo isso indica o
quadro geral de extrema insegurança em que vivem os trabalhadores, as
trabalhadoras e o povo brasileiro em geral. Não há uma política de Estado
voltada a garantir minimamente as condições de sobrevivência da população.
Muito pelo contrário, o Governo de Bolsonaro, Mourão e Guedes aposta no caos
social, em mais retirada de direitos, avanço das privatizações e entrega das
riquezas nacionais como iniciativas de combate à crise em benefício do grande
capital e do imperialismo.
Para evitar sofrer o
impeachment e tentar escapar das ações judiciais que atingem diretamente seus
filhos, metidos até o pescoço em atos de corrupção, Bolsonaro fechou acordo com
o Centrão, trocando cargos por apoio no Congresso, recorrendo à velha política
do “toma lá dá cá” que, em campanha, falsamente combateu. Ao mesmo tempo,
reforçou o orçamento militar, o que contribui para o fortalecimento de sua base
política e comprova sua opção pela barbárie, ao investir no aparato repressivo,
no lugar de combater as desigualdades. Além disso, Bolsonaro utiliza, de
maneira oportunista, as políticas de transferência de renda próprias da
plataforma neoliberal, para conquistar apoio popular e fortalecer ainda mais
seu projeto neofascista, apostando na substituição de direitos por favores.
Se há ainda
divergências entre os setores das classes dominantes sobre o que fazer com
Bolsonaro – há os que preferem Mourão em seu lugar, mas há também aqueles que
preferem tentar “domesticar” Bolsonaro e forçá-lo a um recuo tático (que de
fato se deu) – a burguesia brasileira mantém-se unida no apoio e implementação
do projeto das contrarreformas liberais, em plena pandemia. Governo e setores
burgueses querem manter o teto dos gastos (visto como um dogma intocável) e
preparam nova ofensiva contra empresas públicas como a Caixa, o Banco do
Brasil, os Correios e a Petrobras, com o beneplácito da maioria do Congresso
Nacional.
Está na ordem do dia
a reforma administrativa, que atinge diretamente o funcionalismo, com o fim da
estabilidade dos servidores e outros ataques, o que vai representar a maior
precarização dos serviços públicos, deixando a população ainda mais
desassistida. Além disso, o Governo Bolsonaro/Mourão anuncia a redução do auxílio
emergencial para R$ 300,00, com sua vigência somente até o fim do ano, quer
aprovar o pagamento de salários por hora e mais pacotes de maldades contra o
povo trabalhador.
Com o objetivo de
fazer calar a esquerda revolucionária, o Deputado Eduardo Bolsonaro apresenta
proposta de lei de criminalização do comunismo, buscando equiparar nosso
projeto político e social libertário ao nazismo e, com isso, aprofundar a
criminalização dos movimentos e das lutas populares, ao mesmo tempo em que visa
tirar o foco das denúncias sobre os inúmeros crimes cometidos pelo clã
Bolsonaro.
É PRECISO ORGANIZAR A
RESISTÊNCIA AOS ATAQUES DO CAPITAL
Apesar da conjuntura
de ataques, diversas manifestações de trabalhadores e de movimentos sociais vêm
ocorrendo, de forma crescente. A presença da juventude, de torcidas organizadas
em manifestações contra Bolsonaro e as hordas reacionárias contribuíram para
tirar os fascistas das ruas. Foi decisiva a mobilização de estudantes e
trabalhadores da educação pela manutenção do Fundeb, uma vitória contra o
Guedes e o teto de gastos.
A classe trabalhadora
se movimenta: as recentes greves dos trabalhadores de aplicativos, que agora
começam a se organizar nacionalmente; dos metalúrgicos do Paraná, que
enfrentaram a ameaça de demissões em massa; dos metroviários de São Paulo, que
obrigaram o governo a ceder às reivindicações apresentadas; dos rodoviários de
Juiz de Fora e dos Correios, entre outras, são exemplos da retomada da
mobilização popular e das lutas operárias. É preciso avançar no sentido de
promover a mais ampla unidade do conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras,
para resistir aos ataques dos governos e dos capitalistas, superando as
vacilações das centrais sindicais e das organizações que promovem a conciliação
de classe.
É preciso seguir
desmoralizando o neoliberalismo, cujas medidas, aprofundadas por Temer e
Bolsonaro, só serviram para aumentar o desemprego, desmantelar os serviços
públicos, destruir direitos históricos e piorar a vida das pessoas,
concentrando ainda mais a riqueza nas mãos dos banqueiros, do agronegócio e das
grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras. Vamos reforçar a construção
do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes nos Estados, contra a política
genocida do Governo Bolsonaro/Mourão e em defesa do emprego, dos nossos
direitos, da soberania popular, das empresas estatais e das liberdades
democráticas. Vamos organizar a contraofensiva da classe trabalhadora no
caminho da construção do poder popular e do socialismo!
NÃO À REFORMA
ADMINISTRATIVA!
EM DEFESA DOS
SERVIDORES E DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
FORA BOLSONARO E
MOURÃO!
EM DEFESA DO EMPREGO,
DOS DIREITOS E DA VIDA!
PELA CONSTRUÇÃO DO
PODER POPULAR NO RUMO DO SOCIALISMO!
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